Apesar de contar nas suas fileiras com aquele que é aclamado como o melhor jogador do mundo, a equipa das quinas, como é designada, ficou muito aquém do esperado.
Torna-se cada vez mais difícil descrever a importância crescente que o futebol e os grandes eventos desportivos vão tendo no mundo actual. Fica-se com a sensação de que o planeta pára para ver um Mundial de Futebol. Quase tudo é planeado para antes ou depois do Mundial, para antes, durante ou depois de cada jogo...
Em pleno Mundial de Futebol, a imprensa lusa foi invadida com títulos triunfantes do estilo: “Portugal revalida «título» de melhor destino europeu nos «óscares» do Turismo” ou “Portugal campeão nos Óscares do turismo”, ou ainda Portugal vence “Melhor Destino Europeu nos «Óscares» do Turismo”. Títulos que, como se pode imaginar, lá vão massajando justamente os egos dos nossos irmãos portugueses e dos que escolheram viver naquele cantinho à beira-mar plantado, como escreveu o poeta.
Muitos dirão que este título de “campeão europeu de turismo” é mais importante para Portugal do que ser campeão do mundo de futebol, tendo em conta que o turismo é a maior indústria mundial, mas todos concordarão que a esmagadora maioria dos lusitanos não pensa assim. Enfim, corações ao alto, como diria a minha saudosa avó materna, que isto de juízos de valor convém deixá-los para os debates nas redes sociais (onde faço questão de ser cada vez menos assíduo por razões de sanidade mental...).
Mas o que são esses “óscares do Turismo”? O nome oficial é World Travel Awards e foram instituídos em 1993 para “reconhecer, premiar e celebrar a excelência entre os sectores da indústria do turismo”, segundo a página de internet da organização do evento.
Nesta edição de 2018, Portugal arrecadou no total 36 prémios, dos quais 21 medalhas de ouro! É obra!
A imprensa lusa destacou a revalidação do título de Melhor Destino Europeu conseguido pelo país em 2017, um feito de facto invejável num continente pleno de países turísticos.
Lisboa, desde longa data, uma das cidades mais crioulas e mestiças da Europa, foi considerada pela primeira vez “Melhor Destino Citadino da Europa” e arrecadou pelo terceiro ano consecutivo o prémio de “Melhor Porto de Cruzeiros da Europa”. A capital portuguesa continua todos os anos a coleccionar prémios, tendo no ano passado sido considerada o melhor destino mundial para o segmento de City Break.
Eu destacaria outros títulos que a pátria lusitana arrecadou em 2018 e que considero igualmente importantes: “Melhor resort lifestyle europeu”, “Melhor hotel & villas de luxo europeu”, “Melhor hotel europeu de reuniões e conferências”, “Melhor resort de praia europeu”, “Melhor operador europeu de hotéis boutique”, “Melhor hotel boutique europeu”, “Melhor design hotel europeu”, “Melhor resort de família europeu”; e, por fim, a cereja em cima do bolo, “Resort mais romântico da Europa”.
Ninguém poderá duvidar de que Portugal se transformou num caso de estudo de sucesso no continente que mais turistas recebe no mundo. Aqui mesmo à mão de semear e falando a mesma língua de nosotros...
Em franco contraste, a Espanha, que recebeu cerca de 75 milhões de turistas em 2016, não chegou a meia dúzia de prémios a nível europeu. Portugal, que está agora a ultrapassar a barreira dos 20 milhões/ano, conseguiu uma performance incomensuravelmente melhor.
O mesmo contraste é também evidente entre os turísticos arquipélagos da Madeira e das Canárias. De um lado, aposta na qualidade, do outro, uma clara aposta na quantidade. Este é um debate já recorrente aqui nesta crónica, como os leitores mais assíduos bem sabem. A Madeira ganhou o Melhor Destino Insular Europeu pelo quinto ano consecutivo, ao que se junta o de Melhor Destino Insular Mundial durante os dois últimos anos.
Mas nem tudo está bem no Portugal turístico. As queixas dos turistas aumentam na mesma proporção do que as estatísticas de entradas sobem.
O calcanhar de Aquiles está nos transportes, mais precisamente nos aeroportos, ou seja, na acessibilidade.
Aqui, Portugal está na cauda mundial. Há dias, num debate televisivo sobre esta matéria, foi dito que os 4 principais aeroportos portugueses estão, em termos de pontualidade, entre os piores numa lista de mais de mil aeroportos mundiais, sendo o de Lisboa o pior de todos.
É caso para dizer: Portugal no seu melhor, capaz do muito bom e do muito mau! Excelência e improvisos misturados no dia-a-dia. A planificação nunca foi o forte dos portugueses, mas convenhamos... há quantos anos é que se arrasta o debate sobre um novo aeroporto para Lisboa versus outras soluções?
Foi dito no debate que Lisboa perdeu em 2017 dois milhões de passageiros por ausência de slots de aterragem para aviões, e que esse número será “alegremente” excedido em 2018, como afirmou um dos especialistas presentes.
Filas enormes nas fronteiras e para apanhar táxis, atrasos na saída dos voos, aviões que demoram a aterrar devido a congestionamento, enfim, a lista de reclamações é enorme e tende a piorar todos os anos. Advinha-se um Verão escaldante nos aeroportos portugueses...
O pior é que esta onda turística pode passar se não houver medidas urgentes, e todo o investimento dos empresários pode ir por água abaixo, como alertou um experiente empresário da hotelaria.
Internacionalmente, o sector turístico é conhecido como sendo “viagens e turismo”, o que faz sentido, pois para fazer turismo as pessoas têm de viajar. E as viagens são uma componente importante da experiência dos turistas. É nos aeroportos que se tem a primeira impressão de um país e é dos aeroportos que se leva a última. Ora, não há experiência boa no país que resista às contrariedades nos aeroportos. É caso para dizer que em Portugal o turismo está bem e recomenda-se, mas as viagens vão muito mal.
Portugal está a ser assaltado por uma vaga para a qual não se preparou convenientemente, sobretudo no aspecto da acessibilidade.
Mais a sul, existe um pequeno arquipélago de nove ilhas habitadas por falantes da língua de Camões que padece dos mesmos males, que, se calhar, são hereditários...
O Verão de 2018 promete de facto ser quente, sejam quais forem as temperaturas do ar e do mar. E não vai ser só em Portugal... No fim, o resultado irá depender da capacidade de improvisação, uma bandeira genética lusófona.
Por essas e por outras é que se ganham e se perdem mundiais de futebol. Mas a economia é um outro tipo de jogo e a competitividade dos países não pode depender no longo prazo da capacidade de improvisação, por muito talentosos que sejam os seus habitantes.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 867 de 11 de Julho de 2018.