Porquê? Porque estava a ”incomodar” sua excelência o betão...
Faço-me entender, é que perto da minha moradia e defronte da árvore, está a ser edificado na encosta, um grotesco e monstruoso edifício, no local, que no plano urbanístico da zona, deviam ser plantadas árvores.
Pois bem, isto faz pensar: implantam casas lá onde deviam plantar árvores, e não se contentando com tal feito, ainda por cima cortam uma árvore de sombra benfazeja, de efeitos naturalmente benéficos, e de onde a deviam deixar sossegada. No caso em foco, até existe um muro a separar a construção da árvore mutilada sob disfarce de poda, que é coisa outra!
Árvores, plantas, minha gente! Fazem falta!
A nossa urbanização do Palmarejo de dia para dia mais parece uma floresta de betão sem qualquer ordenamento. Uma autêntica “passerelle” de cimento armado, diga-se em abono da verdade, de muito mau gosto e de grande falta de consideração pelos moradores que pagam as suas contribuições.
Não há um espaço verde! Um só que seja público!... E lá onde era para sê-lo, ao invés, surgem prédios, qual deles agora, o mais camafeu!
A impressão que o morador do Palmarejo tem é que as construções surgem do dia para a noite, em inestéticas e feias armações, quais cogumelos, altíssimos, com vários andares, desordenados, a ocupar tudo, a tapar qualquer expectativa, ou desejo de vista para o mar. Aparentemente, sem qualquer respeito pelo plano de construção e de ordenamento urbano, de uma zona residencial como esta, que seja dita, melhor sorte merecia.
Atenção: não estou e nem podia estar contra a construção de casas, mas que tudo fosse erguido no cumprimento dos planos e normas urbanísticos existentes e não ao sabor de directivas avulsas sem qualquer respeito pela lei e pelo munícipe, visando talvez alguns pouco transparentes interesses imediatos?
Infelizmente, o resultado de tudo isto é que o ar do Palmarejo está a tornar-se irrespirável, imprestável; não há circulação de ar, de vento; o calor a aumentar de dia para dia; o micro clima da zona a alterar-se para pior (tal o aperto e a asfixia derivados das construções!). Sem espaços, sem “pulmões verdes,” sem qualquer ajardinamento.
Todos sabemos que o asfalto aumenta a temperatura, consequentemente, o calor é maior. Isto para além de impedir a infiltração das águas pluviais. Para que haja equilíbrio, torna-se necessário a plantação de árvores, e a criação de mais espaços, para a circulação do ar; ao contrário, o que vem sucedendo, são prédios e mais prédios uns em cima dos outros.
Para a nossa pouca sorte, assim vai a actual urbanização do Palmarejo.
Pois bem, fica-se também com a impressão de que não há autoridade neste campo de acção. As construções já estão a chegar à beira-mar. Já faltou mais para se instalarem sobre as arribas, dentro do mar...
E assim vamos nós...
Tudo isto somado, revela um completo desrespeito pelo Plano Urbanístico do Palmarejo, não tenho dúvidas.
A comunidade vivente do Palmarejo, os seus moradores revoltados, criticam em voz baixa, mas “à boca cheia” e aguardam por nova e diferente autoridade local, que tenha melhor visão nesta matéria e seja respeitadora da lei e dos munícipes.
Haja esperança por uma renovada, entendida e transparente ordem em matéria de ocupação do solo do Palmarejo, num futuro próximo!
Se até lá ainda sobrar algum palmo de solo...
Apetece-me oferecer – a quem necessita urgentemente de saber cuidar de zonas residenciais – um livrinho de leitura maravilhosa e com o modesto título: «O Homem que Plantava Árvores» de Jean Giono, e que mostra como é enriquecedora a harmonia que deve haver entre as árvores, as plantas, as casas e os espaços, para o bem-estar dos seus habitantes e da natureza envolvente.
Publicado em coral-vermelho.blogspot.com, em 5 de Abril de 2019.
Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 907 de 17 de Abril de 2019.