Bem, na verdade a música está em toda a parte – até no silêncio ou nos espaços que ele proporciona … mas, neste caso, vem de um local concreto, criado, imaginado para se mostrar pelas cores. Só que a arte é um todo, quando criada com o coração e todos os sentidos se tornam poucos para captá-la.
E assim foi hoje ao visitar a exposição de Severo Delgado.
O universo musical é comum na obra do pintor. Apesar de tocar noutras temáticas todas carregadas de sensibilidade, onde uma capacidade de observação se faz adivinhar, Silvério também “toca” frequentemente nos seus quadros. Às cores e tintas, mistura notas musicais - as dele – que imagina e que se soltam dos seus pinceis.
Contudo, houve dois quadros que ao olhar para eles, de imediato transmitiram musicalidade. Ou melhor música. Música pura.
O primeiro ocupa o fundo da sala de exposições do Palácio da Cultura Ildo Lobo parecendo musicar tudo…a música ambiente da exposição. Mas na verdade é muito mais…o pintor, em estilo de homenagem, junta um leque de nomes incontornáveis da nossa música aos quais mistura de forma significativa o mar…aquele mar que tanto estes autores cantaram. Numa tela de quase dois metros, o espaço tornou-se mínimo para tanta música.
Noutro, para além da música vai buscar a dança. Aborda o Funaná com traços que traduzem tão bem a energia da dança.
Silvério também pinta a dança …
Ainda referência para um terceiro quadro…não consigo ficar só pelos dois…onde numa tela horizontal vamos correndo os olhos pela tal tela-palco em formato serenata, como se começássemos a ouvir o tema no início do quadro e acabássemos em fade-out no final. Música que desfila pela tela.
Relembro que para além da música, conforme disse acima, a exposição é feita de tantas outras formas de arte embrulhadas em forte sensibilidade, que nos faz crer que os pinceis e cores do artista são os mesmos que usa na vida…
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1006 de 10 de Março de 2021.