Alex Azevedo Graça é natural da Cidade da Praia e reside no Ruanda desde Março deste ano, altura em que abraçou uma oportunidade única a nível profissional. Com a ambição e espírito de aventura que caracterizam o povo das ilhas, não hesitou em partir e “com unhas e dentes encarar novos desafios e desbravar novos horizontes.” Por conveniência profissional, mora em Gashora, mas não hesita em fazer o percurso de cerca de 1h20m até Kigali, para “bá dâ rapaz kêl moral”.
Descrevendo-se como “engenheiro de profissão e basketeiro de coração”, Alex nutre desde muito cedo uma grande paixão pelo basquetebol. Tudo começou quando, ainda criança, foi levado pelo irmão mais velho e pelos primos ao ABC, tradicional clube da capital, onde ao longo dos anos fez de tudo um pouco. Foi jogador, treinador, dirigente, é até à data de hoje adepto ferrenho, afirmando categoricamente que nunca terá qualquer ligação a qualquer outro clube em Cabo Verde. Pensa um dia vir a ser Presidente “caso isso seja o melhor para o clube”.
Fora de Cabo Verde, tem um outro grande amor no basquetebol, a selecção da Universidade Federal de São Carlos, no Brasil, que representou durante os anos em que lá estudou e que carrega no coração, dizendo com orgulho que “é uma honra ser um “Homem de Vermelho” até hoje! Once Fúria, Always Fúria!”.
Cabo Verde na Coraçôn
Alex vive neste momento um sonho e sente-se no “melhor de dois Mundos”, pois apesar de “apoiar e dar claque a Cabo Verde até num jogo de carambola, se for caso disso”, acompanhar a selecção de basquetebol tem um ainda mais especial. Acontece que ele, do alto dos seus praticamente dois metros de altura, foi colega e adversário de muitos dos jogadores que hoje integram a selecção comandada por Emanuel Trovoada, nutrindo por todos uma profunda amizade, de modo que ao gritar “Força Cabo Verde” nas bancadas, está no fundo a incentivar amigos de longa data, com quem partilha incontáveis histórias e peripécias vividas em quase duas décadas de convivência. Diz-se abençoado por poder ver in-loco os nossos jogadores fazer história, passando para a próxima fase em 1º lugar do grupo e “quando o árbitro apita e a bola começa a rolar, não tem jeito, o coração acelera e o grito sai de dentro do peito. Um grito de ORGULHO”.
Vê com muito optimismo a prestação da selecção de Cabo Verde no torneio, indo mais longe ao afirmar que os Tubarões Martelo chegarão, com certeza à final, e que têm tudo para se sagrarem campeões. Considera este grupo de jogadores como o melhor de sempre e vê em Edy Tavares uma enorme mais-valia; um “game changer”.
É a primeira vez que tem a oportunidade de acompanhar uma selecção nacional no estrangeiro e classifica a experiência como uma das melhores que já viveu, tanto a nível emocional, como também no plano desportivo em que“ganhar a Angola pela primeira vez e derrotar a selecção de Ruanda, anfitriã do torneio, numa arena completamente cheia e ao rubro é absolutamente HISTÓRICO. Fazer parte disso, não tem preço”.
Um Show à Parte
Como qualquer outro cabo-verdiano, Alex não ficou indiferente ao momento em que Edy Tavares quebrou a tabela, num gesto impregnado de fulgor físico, motivação e uma força anímica absolutamente únicos. Aliás, a par do jogador do Real Madrid, o “gigante das bancadas” tem sido um espetáculo dentro do próprio espetáculo, chegando mesmo a rasgar uma bandeira, de tanto a esticar. Felizmente, o pai já tratou de lhe enviar outra, que chegará a tempo do próximo jogo.
Tem noção do “impacto” que a sua presença nos jogos tem tido no nosso país, mas apesar de se confessar contente pelo feedback que tem recebido, via Facebook, onde há muito quem diga que ele tem, à sua maneira, representado todo o povo cabo-verdiano, este jovem engenheiro, conhecido em casa como “Yá”, diz que apenas tem sido igual a si próprio e esteja onde estiver, será sempre um incondicional apoiante de quem que seja que esteja a representar o país.
Aconteça o que acontecer daqui para a frente no AFROBASKET, Cabo Verde tem já um campeão. OBRIGADO Yá!
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1031 de 1 de Setembro de 2021.