“Orgulho que não cabe no peito”

PorJoão Carlos Silva,5 set 2021 9:11

Uma imagem vale mais do que mil palavras e uma das imagens mais marcantes da 30ª edição do Afrobasket, a decorrer em Kigali, capital do Ruanda, para além da tabela quebrada pelo jovem gigante maiense, Edy Tavares, no jogo inaugural, em que Cabo Verde levou de vencida a poderosa selecção angolana, é a presença constante e muito animada dum adepto muito especial, que vem acompanhando os Tubarões Martelo em todos os jogos, não medindo esforços para, a partir da bancada, incentivar os atletas, fazendo com que, apesar dos muitos milhares de quilómetros de distância, se sintam em “casa”.

Alex Azevedo Graça é natural da Cidade da Praia e reside no Ruanda desde Março deste ano, altura em que abraçou uma oportunidade única a nível profissional. Com a ambição e espírito de aventura que caracterizam o povo das ilhas, não hesitou em partir e “com unhas e dentes encarar novos desafios e desbravar novos horizontes.” Por conveniência profissional, mora em Gashora, mas não hesita em fazer o percurso de cerca de 1h20m até Kigali, para “bá dâ rapaz kêl moral”.

Descrevendo-se como “engenheiro de profissão e basketeiro de coração”, Alex nutre desde muito cedo uma grande paixão pelo basquetebol. Tudo começou quando, ainda criança, foi levado pelo irmão mais velho e pelos primos ao ABC, tradicional clube da capital, onde ao longo dos anos fez de tudo um pouco. Foi jogador, treinador, dirigente, é até à data de hoje adepto ferrenho, afirmando categoricamente que nunca terá qualquer ligação a qualquer outro clube em Cabo Verde. Pensa um dia vir a ser Presidente “caso isso seja o melhor para o clube”.

Fora de Cabo Verde, tem um outro grande amor no basquetebol, a selecção da Universidade Federal de São Carlos, no Brasil, que representou durante os anos em que lá estudou e que carrega no coração, dizendo com orgulho que é uma honra ser um “Homem de Vermelho” até hoje! Once Fúria, Always Fúria!”.

Cabo Verde na Coraçôn

Alex vive neste momento um sonho e sente-se no “melhor de dois Mundos”, pois apesar de “apoiar e dar claque a Cabo Verde até num jogo de carambola, se for caso disso”, acompanhar a selecção de basquetebol tem um ainda mais especial. Acontece que ele, do alto dos seus praticamente dois metros de altura, foi colega e adversário de muitos dos jogadores que hoje integram a selecção comandada por Emanuel Trovoada, nutrindo por todos uma profunda amizade, de modo que ao gritar “Força Cabo Verde” nas bancadas, está no fundo a incentivar amigos de longa data, com quem partilha incontáveis histórias e peripécias vividas em quase duas décadas de convivência. Diz-se abençoado por poder ver in-loco os nossos jogadores fazer história, passando para a próxima fase em 1º lugar do grupo e “quando o árbitro apita e a bola começa a rolar, não tem jeito, o coração acelera e o grito sai de dentro do peito. Um grito de ORGULHO”.

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Vê com muito optimismo a prestação da selecção de Cabo Verde no torneio, indo mais longe ao afirmar que os Tubarões Martelo chegarão, com certeza à final, e que têm tudo para se sagrarem campeões. Considera este grupo de jogadores como o melhor de sempre e vê em Edy Tavares uma enorme mais-valia; um “game changer”.

É a primeira vez que tem a oportunidade de acompanhar uma selecção nacional no estrangeiro e classifica a experiência como uma das melhores que já viveu, tanto a nível emocional, como também no plano desportivo em que“ganhar a Angola pela primeira vez e derrotar a selecção de Ruanda, anfitriã do torneio, numa arena completamente cheia e ao rubro é absolutamente HISTÓRICO. Fazer parte disso, não tem preço”.

Um Show à Parte

Como qualquer outro cabo-verdiano, Alex não ficou indiferente ao momento em que Edy Tavares quebrou a tabela, num gesto impregnado de fulgor físico, motivação e uma força anímica absolutamente únicos. Aliás, a par do jogador do Real Madrid, o “gigante das bancadas” tem sido um espetáculo dentro do próprio espetáculo, chegando mesmo a rasgar uma bandeira, de tanto a esticar. Felizmente, o pai já tratou de lhe enviar outra, que chegará a tempo do próximo jogo.

Tem noção do “impacto” que a sua presença nos jogos tem tido no nosso país, mas apesar de se confessar contente pelo feedback que tem recebido, via Facebook, onde há muito quem diga que ele tem, à sua maneira, representado todo o povo cabo-verdiano, este jovem engenheiro, conhecido em casa como “Yá”, diz que apenas tem sido igual a si próprio e esteja onde estiver, será sempre um incondicional apoiante de quem que seja que esteja a representar o país.

Aconteça o que acontecer daqui para a frente no AFROBASKET, Cabo Verde tem já um campeão. OBRIGADO Yá! 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1031 de 1 de Setembro de 2021.

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Autoria:João Carlos Silva,5 set 2021 9:11

Editado porAndre Amaral  em  5 set 2021 21:43

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