A participação parental na escola no actual contexto pandémico: o desafio da (re) aproximação

PorAntónio Moreira,20 set 2021 11:50

​A pandemia da Covid19 teve uma repercussão em toda a organização e funcionamento da escola e na relação desta com a comunidade educativa, neste caso particular, as famílias.

De repente, com as medidas de isolamento social, os canais de comunicação presencial anteriormente estabelecidos entre os membros da escola (gestores e professores) e os pais e encarregados de educação foram limitados e readaptados. Houve um relativo ‘afastamento’ na relação entre esses sujeitos educativos, cuja colaboração é imprescindível no sucesso escolar dos alunos. Em razão disso, e considerando o atual momento de retomada à situação de ‘normalidade’, é necessário refletir sobre o desafio da (re) aproximação e participação mais ativa dos pais no espaço escolar.

Como sabemos, no período anterior à pandemia, a relação escola-família decorria-se, essencialmente, através de contactos presenciais. Por um lado, os pais e encarregados de educação participavam nas reuniões, cerimónias e atividades recreativas e culturais. Por outro lado, haviam escolas que deslocavam-se às comunidades para encontros com os pais, visitas domiciliárias e organização de atividades de cariz social, desportivo e cultural. Todas essas ações garantiam uma relativa proximidade e regularidade na relação entre a escola e a família, ainda que isso não fosse num nível satisfatório e aceitável.

Porém, a pandemia da Covid19 condicionou, inevitavelmente, a presença dos pais na escola. Para conter uma rápida propagação do vírus da Covid19, foi imposto, em março de 2020, o isolamento social e, logo, as escolas tiveram que suspender as atividades letivas e todas as ações que organizavam para envolver a participação familiar e da comunidade na vida escolar. Com efeito, os contactos presenciais foram substituídos, principalmente, pela comunicação à distância, passando os pais a assumir não só o papel de intermediários na comunicação entre a escola e os seus educandos, como também na ação pedagógica destes últimos (quando o espaço escolar foi substituído pelo ambiente doméstico para estudo e aprendizagem dos alunos).

No ano letivo seguinte (2020/2021), com a reabertura das escolas e a retoma das aulas presenciais, diversas atividades que contavam com a participação das famílias e da comunidade foram retomadas, mas de forma muito limitada, devido às restrições impostas pela situação epidemiológica. Isso provocou uma diminuição significativa da presença dos pais no ambiente escolar, provocando, deste modo, um impacto negativo na relação escola-família. Diante desse facto, e considerando a retomada gradual à situação de ‘normalidade’, é necessário encarrar o desafio da (re) aproximação e reforço da participação parental na escola. Mas, que caminho percorrer para vencer esse desafio?

Antes de discutir a questão formulada, importa realçar que é fraca a cultura de participação parental no espaço escolar em Cabo Verde, pese embora as possíveis variações e exceções existentes, em termos geográficos e socioculturais. Essa fraca participação, certamente agravada com a pandemia, requer a adoção de ações e estratégias capazes de promover uma participação mais efetiva dos pais e encarregados da educação, tanto na gestão e funcionamento das escolas, quanto na vida escolar dos seus educandos.

O reforço do envolvimento parental na vida escolar exige, antes de mais, uma gestão escolar democrática e participativa. As direções escolares devem adotar práticas de gestão que promovem a delegação de responsabilidades e envolvimento de todos nas tomadas de decisões importantes sobre os diversos aspetos da organização escolar. Isso exige romper com aquilo que Lima (2014) denomina de participação ritualista e formalmente democráticos, em que os pais (e não só) são convidados para a escola mais para assistir e ouvir do que para participar e decidir. Assim, é preciso mobilizar os pais (e também alunos e professores) a participar na gestão e funcionamento da escola, mas garantindo-lhe vez, voz e voto, pois, desta forma, sentirão que são envolvidos e que tomam parte das decisões.

Essa democratização da gestão escolar implica, também, o reforço do Conselho Escolar (que é um órgão que garante a representação e participação da comunidade educativa na gestão do agrupamento) e a efetivação do direito legalmente consagrado aos pais e encarregados de educação de estarem representados no Conselho Diretivo, para que possam tomar parte das decisões que dizem respeito aos seus educandos e a própria escola. É necessário que o legislado seja aplicado, na medida em a representatividade dos pais nesses órgãos trará uma contribuição valiosa para estreitar os laços e reforçar as parcerias entre a escola e a família.

Por outro lado, é fundamental romper com essa visão redutora de promover a participação dos pais, sobretudo, para assistir reuniões e cerimónias na escola. Como defendem Oliveira e Marinho-Araújo (2010, citados em Dantas & Mezzalira, 2020), essa participação deve ocorrer através de: contactos permanentes entre família e a escola por via de outros canais e não apenas nas reuniões; realização de debates com pais e encarregados de educação sobre o seu papel e o da escola no processo de aprendizagem dos filhos e; construção de uma relação de igualdade e diálogo, sem que haja imposições e culpabilização da família por parte da escola em relação insucesso escolar dos seus educandos, o que contribui, muitas vezes, para afastar os pais da escola e, nalguns, casos, a retirar o filho da escola.

Um outro aspeto fundamental prende-se com a necessidade dos pais e encarregados de educação de consciencializar do ser verdadeiro papel no acompanhamento da vida escolar dos filhos e na própria gestão da escola. Ao mesmo tempo, precisam constituir-se em associações, pois unidos terão mais facilidade na participação e protagonismo nas decisões sobre questões relativas à escola e à aprendizagem dos seus educandos. É claro que as escolas também devem assistir e ajudar os pais nesse processo, já que ambos são parceiros insubstituíveis e exercem um papel crucial no sucesso educativo dos alunos.

Além disso, é imprescindível que as escolas se abram à comunidade, para fomentar a aproximação às famílias para melhor conhecer a realidade dos alunos e suas necessidades e incentivar seus encarregados de educação a ter uma presença mais assídua na escola. Essa parceria poderá trazer inúmeros benefícios para o desempenho organizacional da escola, assim como para o processo de ensino-aprendizagem dos alunos.

Enfim, essas e outras ações, concebidas e executadas de forma concertada, poderão resultar em práticas e mudanças de atitudes capazes de promover maior participação parental no ambiente escolar. A escola e a família exercem um papel de complementaridade no processo educativo, pelo que uma relação próxima e colaborativa entre as duas instituições educativas releva-se indispensável para o alcance dos objetivos educacionais. Obviamente, essa união será sempre um processo lento, complexo e contínuo, que exige persistência constante e forte engajamento por parte de todos os segmentos da comunidade educativa. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1033 de 15 de Setembro de 2021. 

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Autoria:António Moreira,20 set 2021 11:50

Editado porAndre Amaral  em  20 set 2021 11:50

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