Pedra Badejo em festa

PorFrutuoso Carvalho,31 jul 2023 8:04

O município de Santa Cruz celebrou esta terça-feira, 25 de Julho, o dia do seu santo padroeiro, Nhu Santiago Maior, patrono da freguesia do mesmo nome.

Aproveito esta ocasião para abraçar a todos os conterrâneos daquele litoral santiaguense, residentes e na diáspora, amigos e dirigentes municipais que se empenham, arduamente, na transformação daquele município azul e verde, rumo ao progresso e desenvolvimento de um município potencialmente rico, mas que ainda se situa na cauda do desenvolvimento, no contexto dos municípios de Cabo Verde.

Nhu Santiago Maior sabe, conhece e assiste à luta titânica que este povo humilde, mas pressuroso e trabalhador vem travando nos diversos domínios, tais como, por exemplo, na agricultura, na pesca, na educação, na saúde, nas indústrias, em geral e, em particular, nas indústrias criativas, no comércio, no turismo, no agronegócio, etc. Por isso deve abençoar esse esforço abnegado.

Os governos central e local têm dado mostras na edificação de um novo Santa Cruz, com envolvimento de todos os munícipes, mas ainda não fizeram o suficiente para que esta parcela da ilha grande acordasse daquele longo sono letárgico a que foi votado durante vários anos que precederam à independência nacional, a 5 de Julho de 1975. A democracia conquistada a 13 de Janeiro de 1991 criou expectativas enormes na mente daquele povo que tem respondido, entusiásticamente, aos eventos da democracia. Os sinais de degração social derivados do desemprego e da falta de oportunidades, sobretudo para os jovens, saltam a olhos nus de quem reside ou visita a vila, digo Cidade de Pedra Badejo aos fins-de-semana. Situação que nos obriga a pensar que se o desenvolvimento tem que ser económicamente viável, ele tem que ser, socialmente justo.

É inegável o esforço que o Governo vem desenvolvendo na integração de Santa Cruz no mapa do desenvolvimento sustentável de Cabo Verde e é hoje seguro afirmar que há sinais de vitalidade e de alguma prosperidade que alimentam e renovam a esperança no porvir, apesar da tripla crise que o país vive e que todos o sabem. Mas este país sempre soube driblar as crises e cresceu no meio delas. Portanto, não podem constituir óbice ao nosso desenvolvimento.

Será bom que os leitores conhecessem a cor das lentes através das quais vejo Santa Cruz: as lentes que estão a aprimorar a minha visão e a escrita destas páginas, de um concelho que me viu nascer e em relação ao qual tenho um sentimento de pertença, muita estima e amor.

Na terra de Catchás e Quim de Santiago não podem morrer as ilusões, os sentimentos e a paz. A alma musical não pode morrer! É disso exemplo paradigmático o festival de Areia Grande realizado nos dias 21 e 22 deste mês, no quadro do programa de celebração desta efeméride. A presença de um numeroso público oriundo de quase todos os concelhos da ilha e não só, bem como os oriundos da diáspora, porque, efectivamente, Cabo Verde é uma grande nação diásporica, fala por si próprio, com destaque para a qualidade dos artistas. Élida Almeida, Nató Simas e tantos outros jovens músicos anónimos não deixarão a chama musical, que alimenta este povo, apagar.

A Cidade de Pedra Badejo vestiu, ontem, dia 25 de Julho trajes multicolores que emprestaram-na um brilho e uma dinâmica diferentes dos outros dias.

A festa de Nhu Santiago Maior é uma ocasião boa para reencontro de amigos, familiares, visitantes e emigrantes que, anualmente, regressam à terra-natal para matar saudades e renovar votos ao seu santo padroeiro. Nesses votos não faltará o pedido de boas-azáguas para que haja fartura e garantir o bem-estar de toda a sua população.

Finalmente, um breve olhar sobre Santiago Maior, também conhecido por Santiago filho do Trovão, Tiago, filho de Zebedeu e Santo Apóstolo, o Maior, martirizado no ano 44, foi um dos doze apóstolos de Jesus Cristo. Foi feito santo e chamado Maior (mais velho) para o diferenciar do outro discípulo de Cristo de mesmo nome, conhecido como Santiago Menor (mais jovem) e também de Tiago, o Justo, sendo, possivelmente, a mesma pessoa.

Filho de Zebedeu e Salomé, Santiago Maior nasceu em Betsaida, às margens do Mar de Galileia, 5 a. C., e faleceu em 44 d. C, em Jerusalém e foi enterrado na Catedral de Santiago de Compostela, na Espanha. Vinha de uma família de pescadores, tal como Pedro e André. Foi um dos primeiros discípulos chamados por Jesus e fazia parte dos principais, dos mais íntimos, ao lado de Pedro e João. Nos momentos mais importantes da missão de Jesus, nomeadamente, a Transfiguração, a Ressurreição da filha de Jairo, a Santa Ceia, entre outros, esses três estavam sempre presentes.

Apelidado por Jesus Cristo de «Filhos do Trovão» porque quando Jesus e uma grande comitiva de discípulos se preparavam para atravessar Samaria, os samaritanos recusaram-se a recebê-los. Tiago e João perguntaram a Jesus se poderiam mandar cair fogo do céu sobre os rebeldes. Mas Jesus os repreendeu dizendo que «Não veio para perder, mas para salvar as pessoas.

Quando Jesus estava caminhando para os seus últimos dias em Jerusalém, Salomé, mãe de Tiago e João, foi até Jesus com os dois filhos, ajoelhou-se e pediu ao Senhor que, quando viesse em sua glória, colocasse um dos seus filhos à sua direita e outro à esquerda. Jesus respondeu que os dois irmãos beberiam o mesmo cálice de sofrimento que Ele beberia. Porém, quanto a estar à direita ou à esquerda, somente o Pai é quem sabe e determina. Os outros discípulos ficaram indignados com o pedido. Jesus, então, deu-lhes uma lição de humildade dizendo que, no Reino dos Céus, o maior é aquele que se coloca ao serviço de todos.

Tal é o nosso santo padroeiro que veneramos, anualmente, cada 25 de Julho. É nele que acreditamos e isso deixa-nos extremamente felizes e interessados nos seus pormenores mais íntimos. Assim, a história deste apóstolo atribui-nos uma identidade e confere sentido à nossa vida ao integrar-nos no seio de algo maior do que nós próprios.

Termino com o escólio de Yuval Noah Harari, um historiador visionário e notável que diz: “A maioria das histórias mantém-se de pé mais devido ao peso do telhado do que a força dos seus alicerces».

Nhu Santigo, rogai por nós e abençoe Santa Cruz! 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1130 de 26 de Julho de 2023.

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Autoria:Frutuoso Carvalho,31 jul 2023 8:04

Editado porAndre Amaral  em  31 jul 2023 8:04

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