A música entra pela vida e a morte

PorPaulo Lobo Linhares,28 out 2023 10:52

​Confesso que já tinha lido o artigo, aquando da partida de Sakamoto. Li-o de novo. Ontem voltei a lê-lo, mas desta vez ouvindo-o.

O que Sakamoto fez à sua paixão de sempre – a música – foi de tal maneira imenso que confesso ter-me assustado na primeira leitura. Será que pela primeira vez vi realmente o tamanho da dimensão da música… qualquer coisa que traz consigo o tamanho do além? Não sei….

Lembro-me de ter começado por pensar como poderia ler o artigo…por onde entrar? Teria eu capacidade para perceber a dimensão do que Sakamoto fez? Definitivamente não.

Por outro lado, se não faria sentido não o fazer. Tentei e comecei “pelas beiradas” tal criança… talvez assim fosse menos intenso com começo mais inocentemente-fácil.

Sem ainda ver as escolhas, tentei adivinhar a presença óbvia de alguns dos requiems, obviamente, a electrónica, muito piano solo, o seu “amigo” Sylvian… mas não consegui imaginar mais… apesar de considerar que ouvi minimamente Sakamoto para que de alguma forma pudesse ter alguma ideia das escolhas… mas não… claro que não: esqueci-me, de uma coisa – o mestre não escolhia repertório para tocar para outros, mas sim o que os músicos que em vida lhe foram queridos fizeram… temas e senioridades que nele encontraram, aninho, recolho, abraço e na verdade – Vida…e Morte.

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Ouvi várias vezes, imaginei porquês (como se fosse possível). Insistência que às vezes a música nos faz fazer sem sentir… ela certamente nos percebe…

Tentei, inclusive, imaginar quais teriam sido os critérios de escolha – provavelmente nenhum – foram temas que durante a vida de Sakamoto foram tão intensos que da mesma maneira como se foram encostando e se abraçando – conforme o parágrafo anterior – partiram com ele para o pós-vida, ou não?

Poderá também ter sido a música a escolher Sakamoto para ser um dos que – pela sua dedicação e paixão por esta forma de arte – o homenagear e no momento da passagem do compositor, ter proposto as notas que terão se transformado em pétalas de som e terão levado Sakamoto ao pedaço do paraíso reservado à música.

Uma certeza! A grandeza da música, na verdade, é tão simples… basta que lhe dediquemos o nosso eu para que ela nos recompense – de forma bem superior…como neste caso, onde oferece a sua presença a…ou em… um de nós no todo-sempre.

Sem o querer – de certeza que não – Sakamoto mostrou-nos… uma vez mais… a transcendentalidade da música e, por mais que traga para aqui justificações, suposições ou seja la o que for, uma só verdade se reafirma – a grandeza da música.

Para mim, foi um dos mais intensos sinónimos de beleza-grandeza que alguma vez vi e que dificilmente será ultrapassado…

Sakamoto já tinha sido premiado por uma banda sonora que fez….

Esta foi dele e nesta foi o real imperador e não… o último.

Sim, Ryuichi Sakamoto deixou uma ‘playlist’ com canções pensadas para o seu funeral: agora podemos ouvi-la…

Em memória de Sérgio Sequeira

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1143 de 25 de Outubro de 2023.

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Autoria:Paulo Lobo Linhares,28 out 2023 10:52

Editado porDulcina Mendes  em  30 out 2023 12:33

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