Mais uma Proposta Política

O repetir-se, ao longo dos anos, de experiências e comportamentos que interessam a vivência coletiva produz cultura, quer dizer uma forma de pensar e consequentemente uma forma de viver. Cada um de nós tem de ter em conta essa dinâmica que, inconscientemente, envolve e orienta as nossas ações ou reações, individual e no meio social. No entanto, no difícil caminho da vida, beber duma cultura da qual nos sentimos parte é base útil e referência importante que nos permite caminhar até amadurecer melhores comportamentos e visões mais alargadas. Tudo isso porém é possível quando cultivamos um sentido crítico e temos como referência os valores humanos universais.

Estamos agora em tempo de campanha eleitoral e assistimos, já estamos habituados, ao repetir-se e aperfeiçoar-se de dinâmicas e instrumentos que fragilizam o livre direito de voto. Nessa altura a procura do consenso eleitoral dos partidos monta estratégias de aproximação à população mais marginalizada, que é de facto a maioria em número eleitoral, prometendo maior interesses e soluções para as dificuldades deles. Cada candidato mostra a própria e exclusiva solução que, só por esse motivo mostra à partida a sua ineficácia, porque o alcance do bem comum, por natureza própria, exige a união de todos. Mas não estamos preocupados apenas com espalhar-se e reforçar-se da cultura da mentira mas também com o facto de que muita gente espera a campanha eleitoral como oportunidade para obter algum beneficio que não conseguiu ao longo dos anos ou no momento em que se apresentou a sua necessidade e considera ser agora o momento, na altura da campanha, em troca da sua aproximação ou adesão a uma determinada proposta ou candidatura. Esta forma de comportamento por parte dos políticos pode produzir vantagens imediatas e egoístas para os objetivos próprios dos candidatos, candidaturas ou partidos políticos, e de curto prazo, mas a longo prazo, pode acarretar a degradação ou a própria morte da política. Efetivamente é uma proposta na qual nenhum dos lados acredita, não se vê bondade na proposta, nem quem “compra” nem quem “vende” acredita no que dito e proposto, o que interessa é o momento, cada uma está interessado num bem pessoal e momentâneo.

Será que podemos só assistir, sem nada dizer ou fazer? Não estaremos todos a ser cúmplices de uma maneira perversa de organizar o viver social? Será que temos de permitir que os nossos jovens criem numa cultura de morte dos valores humanos ?

São estas as reflexões que partilhamos no âmbito da Comissão de Justiça e Paz da Diocese de Mindelo e que quereríamos alargar a toda sociedade civil de São Vicente e se for de Cabo Verde, propondo momentos de encontro onde analisar juntos essa situação e ver quais são as formas mais convenientes para inverter um caminho que leva ao abismo o bem precioso e delicado da convivência humana e social. Essa proposta nasce na altura dessa campanha mas não se limita ao tempo dessa campanha. Poderá ser também ocasião de voltar a dar força e expressão à sociedade civil para recuperar em cada um o empenho na política, o gosto do trabalho e a força da convivência que constrói a sociedade, atual e vindoura.

Todas as associações, os grupos desportivos, culturais, artísticos, empresariais, estudantis, todas as diferentes expressões comunitárias e todos os indivíduos são convidados a reagir a essa carta escrevendo ao “justicaepazmindelocv@gmail.com” propondo o que acham bem.

A Comissão Justiça e Paz encarregar-se-á de tratar as diferentes visões e opiniões, as diferentes reações e, a partir daí, avançar com uma proposta de trabalho útil a dar os passos necessários para encaminhar uma cultura digna do ser humano.

Mindelo 14.11.2024

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1199 de 20 de Novembro de 2024.

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Autoria:Dom Ildo Fortes, Frei Silvino Benetti,25 nov 2024 8:32

Editado porClaudia Sofia Mota  em  25 nov 2024 9:20

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