Os Serviços de Protecção Vegetal da Direcção-Geral de Agricultura, Silvicultura e Pecuária (DGASP) prosseguem os esforços de prospecção dos mil-pés na Praia, onde o primeiro foco foi detectado em Junho, disse esta quarta-feira, o coordenador Celestino Tavares.
Depois do alerta da praga de mil-pés, de nome científico “spinotarsus/banderemica caboverdus”, num dos hotéis da cidade, explicou o coordenador dos Serviços de Protecção Vegetal, o objectivo foi tomar medidas rápidas no sentido de eliminar o foco.
Assim como aconteceu no Sal, afirmou, a primeira medida foi colocar o espaço sob regime de quarentena, ao que se seguiu a destruição de todo o vegetal ali existente.
Tendo em conta que os mil-pés vivem e põe ovos até oito centímetros de profundidade, a terceira medida foi retirar e destruir toda a terra do espaço onde apareceram até 50 centímetros de profundidade, referiu Celestino Tavares.
Actualmente, “nestes lugares, não há mil-pés”, afiançou o engenheiro, garantindo que o despiste continua e que os técnicos dos Serviços de Protecção Vegetal passam semanalmente no local para colocarem isco.
Isso se faz através da colocação de casca ou rodelas de fruta madura, designadamente banana, papaia ou ananás, na planta, explicou, realçando que, por serem animais de hábitos nocturnos, se os mil-pés ali estiverem, são encontrados de manhã cedo.
Na Praia, confirmou Celestino Tavares, a prospecção já foi feita nos jardins dos palácios do Governo e da Assembleia, na praça 12 de Setembro e no mercado, no Platô, no parque 05 de Julho e em quase todos os hotéis.
“Mas estes são espaços acessíveis para os nossos serviços e aos quais tivemos acesso”, alegou, lembrando que muitas pessoas, no seu quintal, têm plantas que podem estar afectadas.
Por isso, pede a todos os cabo-verdianos a colaborarem com os Serviços de Protecção Vegetal na vigilância dos mil-pés. Em caso de suspeita, devem avisar o Ministério do Desenvolvimento Rural (MDR) imediatamente, aconselhou.
Celestino Tavares recordou que os mil-pés continuam a ser uma praga de quarentena a nível nacional e que todas as medidas que vêm sendo aplicadas, há mais de 20 anos, em relação a Santo Antão e São Vicente, continuam de pé.
Referindo-se ao “insucesso” de décadas no combate ao mil-pés, admitiu que ele não era conhecido quando chegou em Cabo Verde. Ainda hoje, não se sabe de onde veio, razão por que tem sido necessário realizar, ao longo dos anos, vários estudos para conhecer a sua bioecologia: onde e quando põe ovos, quanto tempo vive, onde vive, etc.
Paralelamente, foram feitas muitas tentativas de controlo dos mil-pés, confirmou Celestino Tavares, assinalando que os mesmos são sensíveis a pesticidas, ou seja, todas as pesticidas utilizadas para matar gafanhotos matam os mil-pés.
O problema é que os mil-pés estão dentro do solo e como sobrevivem em zonas húmidas, há o perigo de contaminar todo o espaço, pelo que não há como usar recursos químicos em grande escala, notou.
Por isso, informou, o MDR recorreu à luta biológica, nomeadamente com a introdução do parasita “nematudus”, da Austrália, que resultou numa mortalidade “não muito importante” e de fungos de género “metharizium”, também sem grandes resultados, o mesmo que aconteceu em relação aos predadores (“coleópteros”) utilizados.
“O que não desistimos de fazer é continuar a tentar identificar o “habitat” de origem dos mil-pés”, assegurou o engenheiro, esclarecendo que, normalmente, todos os seres vivos têm inimigos naturais nos seus “habitats” de origem. Se se achar estes factores de mortalidade, Cabo Verde poderia libertar-se de vez dos mil-pés, advertiu.
Os mil-pés chegaram a Cabo Verde provenientes do continente africano em plantas de jardim em 1969, tendo-se propagado em Santo Antão. Comem plantas, tubérculos e raízes, inviabilizando, por exemplo, a cultura da batata.
Em 1984, o Governo decretou o embargo legal dos produtos agrícolas de Santo Antão e posteriormente de São Vicente, para impedir que a praga chegasse às ilhas agrícolas de Cabo Verde.
Contudo, em 2010, o decreto-lei nº 41/2010, de 27 de Setembro, levantou o embargo à produção agrícola de Santo Antão, mas apenas para exportar para o Sal e a Boa Vista, sendo, por isso, de carácter provisório, até que Santo Antão possa apresentar condições fitossanitárias que viabilizem a circulação dos seus produtos para o resto do país.