O início da construção do empreendimento hoteleiro “Cabral Beach Resort”, na Praia Cabral, ilha da Boa Vista, avançada na semana passada por um semanário da praça, ainda, vai dar muito que falar.
É que o Expresso das Ilhas teve acesso a uma carta-circular do advogado que representa a empresa Pôr-do-Sol, Lda., endereçada às várias entidades, nomeadamente, ao presidente da Câmara Municipal da Boa Vista, ao Presidente da Cabo Verde Investimentos e ao PCA da Sociedade de Desenvolvimento Turístico Integrado de Boa Vista e Maio, com conhecimento ao Primeiro-ministro, ministro que tutela o turismo e aos deputados, Aristides Lima e José Luís Santos, a pedir que “sejam tomadas todas as medidas no sentido de impedir essa construção.”
De acordo com a missiva, “tal obra colocará em causa a continuidade da exploração do Resort Turístico Pôr-do-sol e, consequentemente, privará a ilha da Boa Vista de milhares de turistas, particularmente, italianos, que, anualmente, visitam a ilha das dunas”, lê-se na circular que mais a frente acrescenta que a construção do Cabral Beach Resort poria em causa a continuidade do posto de trabalho de centenas de trabalhadores cabo-verdianos e poderia, inclusive, “criar sérias desconfianças quanto a segurança de investimentos estrangeiros no arquipélago, particularmente, na Boa Vista”.
‘Desastre ecológico’
“Mas também tal obra será uma ‘agressão’ a ilha da Boa Vista e suas gentes que ficarão privadas de uma das mais belas praias do País, onde poderia ser utilizada para espaços de lazer, nomeadamente, construção de parques desportivos, esplanadas e/ou área pedonal”, alerta o causídico na missiva, em representação do empreendimento Pôr-do-sol, sublinhando, ainda, que esta empresa sempre disponibilizou-se, no quadro da sua responsabilidade social, em colaborar com as autoridades e a população da Boavista no sentido de apoiar na construção de espaços de lazer na Praia Cabral.
Pode-se ler, ainda, no documento que aquando da realização do investimento turístico – Pôr-do-sol, propriedade do italiano, Cláudio Molin, no valor de mais de seis milhões de euros, “não existia nenhum projeto de investimentos na linha de frente do empreendimento hoteleiro – Pôr-do-sol -, até porque seria um ‘crime’ ambiental e um grande ‘desastre ecológico’ construir, literalmente, dentro da Praia Cabral, que é o mesmo que edificar dentro ou a escassos metros da orla marítima”, garante o representante do Resort Pôr-do-sol, para quem os pressupostos que estiveram na origem desse investimento, nomeadamente, a Praia Cabral, como atrativo dos milhares de turistas que visitam a ilha das dunas, poderão estar seriamente afetados.
Recorde-se que segundo o jornal A Semana, na sua edição de sexta-feira, 7, arrancaram as obras do empreendimento hoteleiro - Cabral Beach Resort - “mais polémico de sempre na ilha da Boa Vista.” Trata-se de uma infraestrutura cuja construção já devia ter iniciado há mais de seis anos, quando foi aprovado o seu estudo do impacto ambiental.
Este complexo habitacional de alto standard, ocupa uma área de 41.500 metros quadrados, está a ser edificado na Praia Cabral e contempla cinco piscinas, um restaurante, spa, 100 apartamentos tipo bungalow e uma zona comercial. Embora o projeto preveja também a requalificação da orla marítima com pedonais, ciclovias, espaços verdes e iluminação pública, mas não acolhe consenso no seio da população e dos ambientalistas, que estão a recolher assinaturas a favor do embargo da obra.
Ambientalista contra Cabral Beach Resort
Para a bióloga, Maria Medina a “Praia Cabral irá perder muita areia com esta construção. A nidificação de tartarugas no local é pouca, mas acontece, e isto também deixará de existir”. O Clube Ambiental da Boa Vista alega, igualmente, que a construção do Cabral Beach Resort pode pôr em causa as praias de Cruz e Cabral e, por isso, vai subscrever o abaixo-assinado para que a obra seja, imediatamente, embargada. ‘Pedimos a população para aderir a este protesto e barrar esta obra. Queremos também que os eleitos municipais se juntem a nós, porque este empreendimento vai acabar com as praias” exorta Emiliano Santos que espera recolher mais de 500 assinaturas.
Já Paulo Santos, empresário boa-vistense, que inicialmente tinha algumas dúvidas sobre o impacto daquele investimento, vem agora apoiá-lo considerando que o mesmo vai trazer benefícios para a ilha. ‘Tinha alguma reticência em relação ao projeto. Uma vez feitas as alterações, penso que temos que analisar os benefícios socioeconómicos. Teremos um resort dentro de Sal-Rei, o que vai trazer turistas para a cidade, e mais postos de trabalho, reconhece Santos.
Ainda assim, o advogado Hélio Sanches espera que a justiça funcione através da intervenção do Ministério Público, enquanto defensor da legalidade e da coisa pública.