Américo Fortes, o palhaço Xclumbumba, acusa a Polícia Nacional de São Filipe, no Fogo, de o ter agredido durante a madrugada de domingo. Tudo aconteceu depois de Américo Fortes ter visto "um rapaz a bater numa menina no meio das pessoas, tentei separar os dois". João Barros, comandante da esquadra de São Filipe diz que Américo estava alterado que que os agentes "foram benevolentes".
Tudo aconteceu quando Xclumbumba estava numa discoteca na zona do Congresso, em São Felipe. “Um rapaz estava a bater numa menina no meio das pessoas, tentei separar os dois”, disse Américo numa declaração escrita que enviou ao Expresso das Ilhas. “Afastei o rapaz e fiquei no meio dos dois, tentando falar com o rapaz, que parecia não estar a entender nada”, continuou. A briga parecia terminada, “um amigo do rapaz chegou perto de mim e fez-me sinal de que estava tudo controlado, então ele começou de novo a dançar”, afirmou.
De repente Xclumbumba foi agarrado por detrás. “Soltei-me e reparei que era um polícia. Nesse instante um outro policial começou a dar-me bastonadas”. Xclumbumba tentou explicar que era outro rapaz que estava a agredir a mulher. De nada serviu. “Chegaram mais polícias, 3 ou 4, atingiram com pancada o rosto e os ouvidos, no meio da discoteca, sem lhe falar nada”, relata na declaração escrita que entregou ao Expresso das Ilhas. “A única frase que ouvi foi: «É badiu.»” Américo tentou defender-se “enquanto as agressões aumentavam”.
Perdeu os sentidos.
Quando acordou “estava de cabeça para baixo, arrastado pelos policiais” na escada de acesso à discoteca. “Tinha uma revolta, de confusão na escada, as pessoas estavam a empurrar os policiais”, recorda o artista que ouviu um dos agentes da PN a dizer: «kebral pé!». “Agarrei-me a qualquer coisa e depois de me por de pé comecei a gritar «N’kre fala! N’kre fala! N’kre fala!». Os polícias continuaram a puxar-me e a bater-me”.
Colocado no interior da viatura da polícia, Américo foi conduzido “a alta velocidade” para a esquadra de São Filipe. À chegada, os polícias disseram-lhe: «Ali nu ta mostrou que bô sta na Fogo», diz o artista.
As agressões, segundo Xclumbumba, prolongaram-se até de manhã, altura em que foi conduzido para o hospital. De novo na esquadra, “a nova equipa de serviço abriu a cela e ordenou que me levantasse. E aí, bofeteadas de novo. Nessa altura chegou um policial da esquadra com um cachorro bem grande, identificou-se como comandante e começou a explicar aos policiais como é que me deveriam ter dado um tiro no joelho”, escreve Xclumbumba.
Xlumbumba foi libertado na segunda-feira à noite, depois de ter sido ouvido no tribunal.
Actualmente Xclumbumba não consegue ver. “Segundo os médicos, com a medicação, a visão deverá recuperar-se em alguns dias”.
Comandante diz que agentes "foram benevolentes"
Em conferência de imprensa, o comandante da policial nacional no Fogo João Barros reafirmou toda a confiança nos agentes acusados de abuso de autoridade. Ainda segundo este responsável, a polícia agiu conforme a lei e pode provar afirmando ter testemunhas de que a acção violenta da polícia foi justificada.
Em declarações à RCV, João Barros, disse mesmo que os seus agentes terão até sido benevolentes com o detido.
Pela versão da polícia Américo terá recusado sair da discoteca, não acatou a ordem de prisão dada pelos agentes, agrediu dois deles que se encontram de baixa médica.
De tal forma o detido se encontrava alterado que foi preciso reforço policial para o imobilizar, atesta o comandante regional da policia nacional.
Por outro lado e respondendo às acusações feitas à sua pessoa, João Barros nega ter ameaçado o detido, aliás, afirma que nem sequer se encontrava na esquadra no momento da detenção.
“Os agentes da polícia nacional fizeram o seu trabalho, foi uma actuação difícil mas pautada por muito bom senso e profissionalismo” remata o comandante.
MAI vai investigar
Entretanto, o Ministério da Administração Interna, contactado pelo Expresso das Ilhas, anunciou que "foi ordenada, logo pela manhã uma averiguação através do Inspector Geral de Segurança Interna (IGSI)" e que concluída essa averiguação "são interpostos os competentes processos disciplinares se for o caso e inquérito se for recomendação do IGSI"