O Tribunal de São Vicente deu hoje início à audiência de discussão e julgamento de um caso que envolve o médico Carlos Além, acusado, pelo Ministério Público, de sete crimes de burla qualificada.
O médico é acusado de defraudar o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), entre 2011 e 2013, em cerca de 70 mil contos, através da emissão de prescrições médicas “utilizando indevidamente” o nome de dezenas de pensionistas.
Ao longo das duas horas em que o arguido foi interrogado pelo juiz titular do processo, pelo Ministério Público e pela defesa, Carlos Além não negou ter prescrito o rol de medicamentos constantes nos autos, mas repetiu várias vezes que “nunca quis prejudicar ninguém”.
O juiz começou por confrontar o arguido com nomes de vários pensionistas em nome de quem terá passado “com o seu próprio punho dezenas de receitas”, com valores que variam entre os 4.000 escudos e os 700.000 escudos, mas a maioria dos nomes citados não foram reconhecidos pelo médico.
Ou seja, o tribunal concluiu que essas pessoas nunca puseram os pés no consultório de Carlos Além, localizado no Alto Sentina, arredores do Mindelo, havendo inclusive um caso de um pensionistas do regime especial do INPS a quem o médico terá receitado medicamentos, depois de aquele ter falecido.
“As pessoas chegam ao consultório, dão um nome e passamos as receitas, é assim que os médicos fazem”, justificou Carlos Além perante o juiz, acrescentando que não é prática os médicos solicitarem documentos aos seus pacientes na hora de prescrever medicamentos.
Disse que trabalha “mais por favor” porque “gosta de ajudar” as pessoas, que é uma “pessoa religiosa” e que nunca pediu nada a ninguém para prescrever medicamentos e que, inclusive não sabe da existência da Lei de Prescrição de Medicamentos.
Questionado se tem consciência do montante de mais de 70 mil contos, de burla, de que fala o INPS, Carlos Além respondeu: “por amor de Deus, não tenho nada, nem casa, nem carro, é um exagero, pois levo uma vida simples e na minha conta bancária tinha 12.000 escudos, que abri só por exigência legal quando montei o consultório ”.
Quando o representante do Ministério Público questionou o médico sobre o início da sua actividade em Cabo Verde, já que estudou em Cuba, Carlos Além disparou em direcção do PAICV, que já o colocara "debaixo de olho", explicou, desde o tempo de estudante em Cuba por "um senhor da embaixada", por ter exibido o cartão de militante do MpD.
“Quando cheguei de Cuba todos já sabiam que era militante do MpD e fui fazer estágio no Hospital Baptista de Sousa com o PAI (CV) no poder”, contou, acrescentando que, “ao contrário de outras colegas”, nunca recebeu um centavo.
Terminado o estágio, o médico explicou que andou São Vicente à procura de emprego, bateu em todas as portas e nem aulas conseguiu dar.
Foi então que, acrescentou, foi abordar a então presidente da Câmara Municipal de São Vicente, Isaura Gomes, que lhe cedeu um espaço da autarquia, no Alta Sentina, onde montou a sua clínica e que não está a trabalhar no hospital porque o ” PAICV não me deixa”, lançou o médico.
Além de Carlos Além, outras cinco pessoas estão constituídas arguidas neste processo, as quais serão ouvidas ao longo do dia de hoje, para além de um leque de testemunhas, pelo que o julgamento deve durar alguns dias.
Detido pela Polícia Judiciária fora de flagrante delito, a 05 de Março, Carlos Além está sob Termo de Identidade e Residência e proibido de exercer medicina por um período mínimo de seis meses.
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