Os imigrantes de países da África Ocidental residentes em Cabo Verde estão preocupados com o aumento de casos de Ébola nos seus países, mas só tencionam regressar quando houver uma vacina para a doença.
"Estou muito triste porque a situação não é muito boa", começou por dizer à agência Lusa Oscar Uzama, natural da Nigéria, país que já registou 13 casos de Ébola, entre os quais dois mortos.
O comerciante, residente na Cidade da Praia desde 2004, garantiu que tem estado a acompanhar a situação no seu país, e brinca dizendo que os familiares recomendaram-no para tomar banho e beber água salgada como forma de evitar a contaminação.
Entre o atendimento a um cliente e a conversa com a agência Lusa, que flui ora em inglês, ora em crioulo cabo-verdiano, Oscar garantiu que por enquanto vai ficar na Cidade da Praia e regressará à Nigéria só quando aparecer uma vacina para o Ébola.
"Estou sempre em contacto com os familiares e estou preocupado com eles. Espero que a situação melhore e que encontrem a cura para doença", perspectivou o imigrante, dando conta que, em Cabo Verde, comenta-se que o vírus entrou em Abia, estado do sudeste da Nigéria.
Quem também disse à agência Lusa estar muito preocupado é Hassan Sesay, natural da Serra Leoa, outro dos países afectados pelo vírus.
Hassan Sessay, representante da Associação de serra-leoneses em Cabo Verde - são cerca de 100 no país -, informou que fala sempre com os familiares e garantiu que estão todos bem.
O imigrante indicou que tem acompanhado o desenrolar da situação através das televisões cabo-verdianas e considerou que o estado de emergência decretado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é uma "boa iniciativa" porque vai permitir controlar a situação.
Hassan indicou que a região do país mais afetado é Kenama, a cerca de 200 quilómetros da capital Freetown, a sua cidade-natal, onde prefere não ir até a situação ficar controlada.
Para o imigrante, que vive em Cabo Verde desde 2000, as maiores preocupações no seu país são as questões sanitárias e de higiene e garante que assim que tiver disponibilidade vai enviar algum dinheiro e mantimentos para os familiares.
"Mas o único remédio é a prevenção", recomendou Hassan, confidenciando que não tem dormido nos últimos dias, só de pensar na mãe e no irmão e em todos os serra-leoneses infectados pelo vírus, que desde Fevereiro contaminou quase 1.800 pessoas, sendo que mais de 960 morreram na Serra Leoa, Guiné-Conacri, Libéria e Nigéria.
O comerciante no Sucupira elogiou o trabalho das autoridades cabo-verdianas, que têm aproveitado todas as oportunidades para passar informações, e na semana passada o delegado de Saúde da Praia reuniu-se com líderes das Associações de Imigrantes da Costa Ocidental Africana para esclarecimentos sobre o Ébola.
"Estou preocupado porque os casos podem alastrar a qualquer momento", manifestou Djaló Mutari, natural da Guiné-Conacri, que espera que a descoberta de uma vacina possa trazer mais tranquilidade às pessoas.
Natural de Zabé, uma localidade que garante ainda não registou nenhum caso de Ébola, Djaló Mutari disse que, apesar de estar preocupado com os familiares, com quem mantém contactos frequentes, também prefere ficar na Cidade Praia até a situação melhorar.
Por sua vez, Djaló Amadou, também natural da Guiné-Conacri, disse estar "tranquilo" e que se houver necessidade vai regressar ao seu país, mas tomando as "devidas precauções".
Natural de Labé, o imigrante que está há cinco anos em Cabo Verde lamentou a escassez de informação que chega a Cabo Verde, mas pelo menos sabe que os familiares, que vivem a cerca de 1.000 quilómetros das zonas mais afetadas, estão todos bem.
Na semana passada, a ministra-adjunta e da Saúde, Cristina Fontes Lima, desaconselhou os cabo-verdianos e os imigrantes a viajar para os países africanos afectados pelo vírus do Ébola, dizendo que só assim se pode evitar o alastramento da doença.
Cabo Verde ainda não registou qualquer caso, mas as autoridades do país já elaboraram um Plano de Contingência, com alerta máxima e vigilância nos portos e aeroportos e também estão a formar os agentes de saúde e de segurança sobre como agir com rapidez e eficácia em qualquer eventualidade.