Movimento Slow Food: O alimento bom, limpo e justo

PorRendy Santos,20 dez 2015 6:00

Fundada em 1986, a Slow Food é um movimento que tem como princípio básico o direito ao prazer da alimentação, utilizando produtos artesanais de qualidade, produzidos de uma maneira que respeite tanto o meio ambiente quanto as pessoas responsáveis pela produção, os produtores. Opõe-se à tendência de padronização do alimento no Mundo, e defende a necessidade de que os consumidores estejam bem informados, tornando-se co-produtores. “É inútil forçar os ritmos da vida. A arte de viver consiste em aprender a dar o devido tempo às coisas, diz Carlo Petrini, fundador da Slow Food.

 

Cabo Verde está ligado à Slow Food desde 2006, data em que uma delegação do país participou pela primeira vez na Bienal “Terra Madre - Salão do Gosto”. Nas várias edições em que marcou presença posteriormente, através de agricultores, pescadores, estudantes e professores associados a projectos promovidos do Atelier Mar, o arquipélago tem dado a conhecer o esforço das comunidades que defendem a preservação dos produtos mais genuínos e a importância de se estabelecer políticas adequadas para a sua valorização enquanto património gastronómico.

Em 2007, após estudos e o esforço de uma equipa de professores da Universidade de Turim, chefiada por Giuseppe Quaranta, o queijo de Bolona, (queijo de leite de cabra, cru, fabricado segundo a tradição) do Planalto Norte, na ilha de Santo Antão, recebeu a chancela de Slow Food como património mundial do gosto depois de competir com queijos semelhantes de outras partes do mundo.

Como explicou então Leão Lopes, ex-ministro da cultura de Cabo Verde e presidente da ONG Atelier Mar, o queijo produzido em Santo Antão é resultado de um processamento natural do leite, sem a adição de água, sem o uso do fogo, sem ser resfriado ou refrigerado. A produção acontece em Bolona, pequena vila num planalto semi-árido onde vive um rebanho de sete mil cabras e que garante renda e trabalho a mais de 60 famílias. “Cabo Verde é um país pobre e talvez por isso conseguimos ainda manter as nossas tradições. Agora estamos a perceber como preservar e valorizar a tradição agrícola e pecuária do nosso país”.

Uma nova gastronomia é a grande bandeira da Slow Food. E ao gastrónomo cabe o papel que Carlo Petrini denomina  de “co-produtor”: não apenas o alienado elemento final de uma longa cadeia, mas alguém conhecedor da agricultura e pecuária, das condições dos trabalhadores do campo e da proveniência dos produtos. Mas, isso não basta. É imprescindível que o gastrónomo seja uma pessoa activa na mudança do planeta, rejeitar alimentos provenientes de exploração humana, de meios de transporte poluidores em excesso, de empresas que arruínam culturas locais ao instalarem-se nas comunidades. Além disso, todas as pessoas devem estar dispostas a pagar mais por tais alimentos.

Com sede em Bra, Itália, e tendo como símbolo um pequeno caracol, a Slow Food teve como objectivo inicial apoiar e defender a boa comida e o prazer gastronómico. Com o tempo, a iniciativa foi sendo ampliada para abranger a nossa qualidade de vida e, como consequência, a própria sobrevivência do planeta em que vivemos. A Slow Food acredita que a gastronomia está indissociavelmente ligada à política, à agricultura e ao ambiente.

A Slow Food foi o primeiro dos movimentos “Slow” a surgir, em 1986, em Barolo, Itália. Em 1989, em Paris, constituiu-se o movimento internacional Slow Food, por oposição ao conceito de Fast Food e ao estilo de vida acelerado. É um movimento que valoriza o que é de origem “Local” em oposição ao “Global”, não negando, contudo, a Globalização desde que esta seja pautada pela justiça, pela equidade, pela humanização e pela regulamentação. É, na realidade, um contributo para que seja criado um modelo de desenvolvimento sustentável onde prevaleça o respeito pela biosfera e pela socioesfera, e onde se defende a sustentabilidade dos recursos da natureza e os valores culturais humanos.

O movimento tem actualmente mais de 100.000 membros, em 170 países, que constituem mais de 800 Convivia (o nome dos grupos da organização), além de escolas, hospitais, instituições e autoridades locais, juntamente com 1.600 Comunidades do Alimento, 5.000 produtores de alimentos, 1.000 Chefes e cozinheiros e 400 académicos de 150 países. A Slow Food organiza eventos nacionais e internacionais como o Dalone del Gusto, a maior feira de comida e vinhos de qualidade do mundo, organizada bienalmente no Centro de Exposições Lingotto em Turim; a Cheese, uma feira bienal organizada na região de Piemonte e a Slowfish, uma exibição anual em Génova dedicada à pesca sustentável. Também em Turim, se organiza a cada dois anos o evento Terra Madre, que reúne mais de 5 mil pequenos produtores agrícolas, chefes de gastronomia e pesquisadores de todo o mundo.

“Ao treinar os nossos sentidos para compreender e apreciar o prazer que o alimento proporciona, também abrimos os nossos olhos para o mundo.” Lê-se no Manual Slow Food. Em resumo, o que é um alimento slow? É aquele que é bom, limpo e justo. Ou seja, bom porque é saboroso e apetitoso, fresco, capaz de estimular e satisfazer os sentidos, capaz de juntar as pessoas e trazer bons momentos passados em companhia ou mesmo sozinho, bons momentos passados na sua produção, confecção ou degustação; limpo porque é produzido sem exigir demasiado dos recursos da terra, dos seus ecossistemas e meio-ambiente e sem prejudicar a saúde humana; e justo porque respeita a justiça social, o que significa pagamento e condições justas para todos os envolvidos no processo, desde a produção até a comercialização e consumo.

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Autoria:Rendy Santos,20 dez 2015 6:00

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  21 dez 2015 8:32

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