Desconfiados e cansados de pedir que a Cruz Vermelha de Cabo Verde passe a transmitir ao vivo, pela televisão, a extracção semanal do Totoloto Nacional e do Joker, um grupo de apostadores fala em levar a cabo uma petição para recolha de assinaturas para atingir o seu objectivo.
Já é antiga esta reivindicação dos apostadores, agora manifestada na página do Totoloto Nacional numa rede social onde, a cada jackpot, crescem as reclamações.
“Realmente não dá para entender como é possível a TCV fazer várias transmissões em directo, mesmo de fora da cidade da Praia, e algo tão importante e que envolve tantos milhões não é transmitido na TCV. Que sejam esclarecidas todas as dúvidas em relação ao carácter deste totoloto”, escreve um apostador no Facebook.
Outros apostadores, perante os eventuais custos de uma transmissão directa pela TCV, falam em filmagem mesmo com recurso a smartphones e publicação dos vídeos na internet.
Entretanto, a Cruz Vermelha de Cabo Verde tem em curso há já algum tempo a informatização do sistema de extracção previsto para entrar em funcionamento ainda este ano.
A segurança e fiscalização dos sorteios têm sido questionadas ao longo dos anos, mesmo com o modelo actual em que a extracção semanal dos números sorteados é feita sob o olhar atento dum júri constituído por três membros de entidades tidas por idóneas: um membro do Conselho Superior da Cruz Vermelha, que preside, um oficial superior da Polícia Nacional e um técnico da Câmara Municipal da Praia. Mais: a extracção dos números é pública e transmitida pela rádio por um jornalista presente no local onde também se encontra muitas vezes agentes das casas que vendem bilhetes e mesmo alguns apostadores.
No entanto, os casos de fraudes ocorridos em anos recentes deixam os jogadores apreensivos, sempre que o bolo dos prémios aumenta consideravelmente, como foi o caso esta semana em que havia jackpot tanto no 1ª prémio do totoloto (8.258.192$00, aproximadamente 75 mil euros) como no joker (7.517. 390$00, pouco mais de 68 mil euros).
De lembrar que em Setembro de 2014 quatro indivíduos, sendo dois escrutinadores do sector do loto da Cruz Vermelha de Cabo Verde, um apostador e uma agente do Totoloto Nacional, foram presentes ao Tribunal por fraude na extracção do Totoloto Nacional, acusados de falsificação e uso de documentos falsos e adulteração de concurso público na extracção do Totoloto Nacional.
Na altura a Polícia Judiciária terá conseguido impedir o grupo de usufruir do bolo que já estava pronto a ser dividido pelos quatro.
A mesma PJ terá, em 2007, desmantelado uma outra quadrilha numa operação apelidada de “Teia de Aranha”. Entre os meliantes, dois membros do Júri do Totoloto, um representante da Polícia Nacional e um da Câmara Municipal da Praia, um funcionário da Cruz Vermelha, que era escrutinador do concurso, e um apostador.
O grupo dedicava-se a falsificar bilhetes do Totoloto Nacional supostamente premiados. Os bilhetes adulterados pela 'rede' ultrapassavam os 14 mil contos cabo-verdianos (126 mil euros) de prémios ficcionados.
Três dos envolvidos foram condenados a 3 anos de cadeia e a pagarem indemnizações, mas um dos principais implicados conseguiu fugir do país.
O Totoloto e o Joker movimentam mais de 346 milhões de escudos por ano, valor que aumenta quando há acumulação de prémios, o chamado jackpot. Maria Ramos, a célebre peixeira de Mindelo, foi até hoje a maior ganhadora de Totoloto Nacional com um prémio de 32 milhões de escudos (cerca de 260 mil euros) dos quais 8 milhões viriam a ser desviados da sua conta sem que até hoje fosse identificado e condenado o culpado.