LGBTI: «Postagem do deputado incita ao preconceito e à homofobia»

PorChissana Magalhaes,15 jul 2017 6:59

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Associações de defesa aos direitos e liberdades das pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transgé- neros e Intersexuais consideram grave e inadequada a forma como o deputado e secretário-geral do MpD, Miguel Monteiro, manifestou através do seu perfil do Facebook a sua oposição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Na sequência da reportagem publicada na edição anterior do Expresso das Ilhas (nº814) sobre a entrada do casamento homossexual na agenda política do país (com o posicionamento público da Associação LGBT de Cabo Verde e das jotas dos partidos) desencadeou-se um intenso debate que já extravasou o âmbito daquela rede social. O primeiro-ministro já veio a público reagir à polémica.

“200% contra!”. Assim marca o deputado e secretário-geral do MpD a sua posição sobre a questão do casamento homossexual, a partir de um post publicado domingo (09) na rede social Facebook em que partilha a reportagem “Casamento Gay entra na Agenda Política do País” da edição de 05 de Junho do Expresso das Ilhas. A justificar o seu posicionamento, Miguel Monteiro faz acompanhar a partilha do link para a notícia publicada no site do Expresso das Ilhas nesse mesmo domingo com várias passagens do velho testamento da bíblia, chegando a incluir uma que diz “ (…) que são dignos de morte os que tais coisas praticam não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem”. Seguiram-se uma série de reacções, quer em comentários ao post do deputado quer em publicações próprias, com muitos a criticarem o porta-voz do partido no governo pela forma como expressou o seu posicionamento, mas também não poucos a apoiarem a atitude do deputado. Anita Cruz, presidente da Associação LGBT de Cabo Verde - e que foi a porta-voz da comunidade quando em conferência de imprensa, a 20 de Junho, manifestou a vontade deste grupo social de ver a lei do país revisada de modo a permitir a união de facto e o casamento homossexual - avançou ao Expresso das Ilhas que a sua organização não esperava “de um deputado usar a igreja para discriminar”. “Trata-se de um ataque directo à comunidade LGBTI. Como secretário-geral de um partido e deputado fica-lhe mal, e também ao próprio partido.” “É exactamente por ser deputado que emito a minha opinião sobre esta matéria sem titubear nem nhe-nhe-nhe! Digo e repito 200% contra. A minha consciência não está à venda! Quem quiser votar a favor, que vote! A democracia o permite, mas a liberdade de emitir a minha opinião, principalmente nesta matéria ninguém a tira”, respondeu o parlamentar às pessoas que argumentaram sobre a questão do seu cargo político nos comentários ao seu post. Ulisses: “tenho máxima tolerância” O primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, também assim o entende; ao comentar ontem (11) o assunto disse achar que “é uma posição pessoal do cidadão Miguel Monteiro, que tem a sua própria opinião”. Ulisses Correia e Silva ressaltou ainda que “em relação a esta matéria tenho máxima tolerância. Não tenho nenhum estigma, nem preconceitos. Agora, não pode também haver intolerância a quem se posicione contra”. “Cada um é livre para expressar a sua opinião, mas acima de tudo não usar a religião para incitar o preconceito. Como figura pública e no alto cargo que desempenha devia ter mais cuidado com o que diz, até porque pode-se pensar que expressa a opinião do seu partido”, responde por sua vez o presidente da Arco-íris, Elvis Tolentino. Também uma organização de defesa aos direitos das pessoas LGBTI, a Associação Arco- -íris manifestou ao Expresso das Ilhas ser contra a forma como Miguel Monteiro expôs a sua posição. “A postagem do deputado incita ao preconceito e à homofobia e pode criar problemas sérios à comunidade LGBT”, alerta aquele activista. Entretanto, ambas as associações pró direitos LGBTI têm esperanças que o primeiro- -ministro contribua para que o tema casamento homossexual entre para a agenda do governo. “Apelamos a um Cabo Verde melhor, um Cabo Verde igual.

Esperamos que o primeiro-ministro introduza o assunto na agenda do governo”, diz Anita Cruz. O governante já avançara que esta causa, agora na agenda política do país, “não está na agenda política do Governo”. “Quando chegar o momento político teremos sobre a mesa decisões que têm que ser tomadas se for o caso”, reforçou Correia e Silva. Uma decisão que o deputado e secretário-geral do MpD garante que não hesitará em tomar é o abandono do partido, caso alguma vez seja condicionado a votar favoravelmente ao casamento homossexual. “…Prefiro sair do partido a votar favorável!”, escreveu Miguel Monteiro, em Língua Cabo-verdiana, nos comentários ao seu post quando confrontado com a hipótese de o MpD vir a ser favorável à alteração da lei. Com as associações em roda- -viva a prepararem uma petição que contam ter pronta dentro de dias, o dia de se tomarem as decisões poderá não estar assim tão distante. O objectivo é de colher entre 10 a 15 mil assinaturas, fazer chegar a petição ao parlamento antes do último debate do ano parlamentar (o estado da Nação do final deste mês) contudo, cientes de que a ser aceite a petição o debate pretendido só se realizará a partir de Setembro, quando os deputados regressarem às sessões plenárias.

Até lá, pelo menos a jota do PAICV já terá algum trabalho feito. A JPAI, conforme avan- çara à reportagem anterior do ExprI, encontrou-se no passado dia 7 de Julho com os representantes das associações pró-direitos LGBTI de Praia e São Vicente para recolha de subsídios. “Acreditamos que Cabo Verde, enquanto país tolerante e exemplo em África no que toca aos direitos e liberdades dos cidadãos deverá dar continuidade às políticas públicas que visam reforçar os índices que garantam uma sociedade cada vez mais igualitária, à altura das aspirações de cada cabo- -verdiano”, avançou a direcção da Juventude do PAICV em comunicado. Por seu lado a JPD só prevê iniciar o contacto com as associações pró-direitos LGBTI a partir de Novembro. “Temos o nosso plano de actividades e, para além dessas associações, estamos a pensar ouvir também alguns especialistas. Estudar o que tem acontecido em outros países onde o casamento homossexual já é consentido, tentar perceber em que medida isso ajudou a diminuir a intolerância, entre outros aspectos”, explicou Euclides Silva, o presidente da Juventude do MpD. Ambas as jotas reiteram que trabalham sobretudo no sentido de orientar os jovens para a tolerância, para o não preconceito e a não discriminação.

 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 815 de 12 de Julho de 2017

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Autoria:Chissana Magalhaes,15 jul 2017 6:59

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  17 jul 2017 10:04

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