Qual visionário, apesar de três anos de seca severa, contados justamente a partir da data do investimento, hoje, com um largo sorriso nos lábios, e quatro mil toneladas de água armazenadas depois, o empreendedor reforça a ideia de que “a arma do cabo-verdiano é a esperança”.
“Nunca desisti, sempre com a ideia de que a água das chuvas havia de encher os reservatórios, tratou-se de um esforço pessoal, mas para mostrar que podemos fazer e armazenar a água das chuvas”, lançou, uma ideia que surgiu, contou, a partir do estudo que fez da forma mais barata e simples de armazenar águas pluviais do que, por exemplo, construir um dique.
“Se fizer uma boa rentabilização das quatro mil toneladas terei água para um ano de rega, numa área de dois hectares”, continuou Amílcar Lopes, que disse ter feito a experiência para mostrar que qualquer agricultor pode fazer o mesmo e rentabilizar o investimento, em vez de investir em furos, que requerem montantes elevados.
O investimento, segundo a mesma fonte, chega aos 800 contos, em mão-obra, pois a tela foi uma oferta e a escavação contou com entreajuda de uma empresa local.
Por isso, o entrevistado da Inforpress mostrou-se seguro de que esta é a solução para Cabo Verde, os lagos artificiais e não as barragens, pois, exemplifica com o seu caso, “é só cavar um buraco, pôr uma tela, e recolher a água da chuva”. “Sempre disse que não queria ver a água da chuva escorrer para o mar”, concretizou.
O vasto terreno agrícola de Amílcar Lopes no empreendimento Gota d’Ága – “que agora deveria chamar-se Torneira de Água”, brinca o empreendedor – vai agora ter uma área cultivada e de produção alargadas, reforçou, regadas com uma “água doce” e não água de poço.
Por esses dias, muitas pessoas queixam-se de prejuízos derivados das fortes chuvas, um pouco por todo o País, não sendo, contudo, o caso de Amílcar Lopes.
“Estas foram chuvas abençoadas, boas e sem vento e sem prejuízos, mas preparei-me convenientemente para não ter prejuízos, pois já conhecia as previsões”, reforçou a mesma fonte, que já trabalha para receber mais chuvas no próximo fim-de-semana.
Amílcar Lopes, ex-torneiro mecânico, ex-marítimo e ex-emigrante, que começou a trabalhar aos 13 anos, e que após experiências na produção de cebola em escala, que exportava para outras ilhas, em 1987, e na indústria da serigrafia, confecções, tipografia e embalagens, optou pelo ramo da agricultura e criação de gado.
Explora três hectares de terreno cultivados, o equivalente a três campos de futebol, e um outro tracto para a criação de animais como vacas, cabras e ovelhas, tudo raça melhorada, alimentados com forragem produzida no local à base de cevada, em contentores, na Ribeira de Julião, que Lopes define como sítio de experiências para oferecer a Cabo Verde.