Venda de cosméticos naturais em tempos de pandemia

PorSheilla Ribeiro,28 fev 2021 7:38

O que não falta, ou nunca faltou, são ofertas de sabão, shampoos, esfoliantes, óleos, de entre outros. Voltando ao contexto actual em que a chegada de uma pandemia e a necessidade de isolamento social fizeram como que o comércio tivesse que se readaptar às estratégias de venda, valorizando ainda mais o uso da tecnologia, a surpresa foi o crescimento na venda de cosméticos. Isso em todo o mundo e Cabo Verde não foge à regra.

Nesta reportagem ouvimos testemunhos de quem aposta na venda de cosméticos naturais.

Vários meses após concluir a licenciatura em Serviços Sociais e Animação Sociocultural, sem um trabalho na área, Yarin Almeida, de 29 anos, começou a produzir e vender cosméticos feitos à base de ingredientes naturais, entre eles azeite de oliva extra virgem, frutas, argilas, sementes e cascas de frutos.

Inicialmente vendia escondido no bar onde trabalhava e em pouco tempo decidiu abandonar o emprego e dedicar-se à produção e venda de produtos naturais. Yarin Almeida, que é natural e residente em São Vicente, conta que entrou em contacto com o grupo de feirantes “JUNTÁ” e lançou o produto.

“Foi uma grande surpresa quando constatei que os meus produtos foram muito bem aceites pelas pessoas. As visita ao meu stand não parava pelo que decidi fazer parte desse grupo”, narra.

Hoje, Yarin Almeida tem um ateliê em Espia, São Vicente, e vários revendedores naquela ilha, em Santo Antão e na ilha do Sal. Entretanto, a jovem revela que com a pandemia as vendas online aumentaram pelo que sentiu necessidade de divulgar ainda mais os seus produtos para que a dinâmica não caísse.

Com dois anos de existência, a marca baptizada Natuyara’s tem no catálogo 21 tipos de sabão, um shampoo sólido, quatro esfoliantes e três tipos de argila. Os preços variam entre os 50 e 800 escudos.

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“Com uma base 100% natural, os nossos produtos são produzidos a partir de matéria-prima local, mais precisamente de Santo Antão, São Vicente, Boa Vista e Fogo. Mas também importamos alguns produtos de Portugal, Brasil e Dakar, todos sustentáveis e biodegradáveis em defesa do ambiente”, afirma.

Yarim Almeida diz que as matérias-primas usadas na sua produção são facilmente encontradas, com excepção dos óleos essenciais, as manteigas e os extractos vegetais. “Além de serem provenientes do estrangeiro são bastante custosos”, diz.

Sobre o volume das vendas, esta empreendedora diz que depende da época. Segundo informa, durante as feiras e épocas comemorativas como o Natal, dia dos namorados e durante o Verão as vendas disparam.

“Não conseguimos dizer exactamente quantos produtos são vendidos, pois temos vários parceiros. Por exemplo, no mês de Novembro de 2020, juntando no geral, feira, entregas e revendedores, vendemos quase 200 produtos e em Dezembro mais ou menos 160 produtos. Em contrapartida, os piores meses foram Abril e Maio. Após se declarar o estado de emergência as vendas caíram bastante sendo que no mês de Abril conseguimos vender nada mais do que 13 produtos. No mês de Maio as coisas começaram a melhorar, mas ainda continuam fracas, vendemos 42 produtos”, acrescenta.

Da paixão pela babosa a uma marca de cosméticos

Uma outra marca de cosméticos naturais, também da ilha de São Vicente, é a Naturababosa. A marca foi criada em 2015 e foi vencedora de um Start Up Universitário em 2015 e em 2019 conseguiu o prémio de empreendedores Start Up Challenge.

“Sempre gostei muito da babosa e sentia-me triste quando alguém menosprezava a babosa. Foi então que decidi criar um projecto que valorizasse esta planta com muitos benefícios terapêuticos para a pele e para o cabelo. Também porque sempre tive o sonho de ter uma empresa própria. Juntei a minha paixão e vontade de ser empreendedora”, revela Rosalina Lima fundadora da marca.

A aposta da Naturababosa são as redes sociais. Mas, segundo Rosalina Lima, os produtos da marca já estão, para além de São Vicente, nas ilhas de Santo Antão, Fogo, Sal, Santiago e, em breve, na Boa Vista e no Maio, através dos revendedores mediante um contrato comercial.

No catálogo da Naturababosa é possível encontrar 15 tipos de sabões desde sabões de babosa, de leite de cabra, de argila, enxofre e café. Mas, também pode-se encontrar óleos e shampoos.

“As matérias-primas que utilizamos são facilmente encontradas porque a maioria é oriunda de Santo Antão e São Vicente. Isto porque o nosso objectivo com este projecto é valorizar os produtos locais. Utilizar o que temos na nossa flora que é riquíssima, para fazer cosméticos. Alguns produtos como a manteiga de karité e manteiga de cacau que não temos no mercado nacional trazemos de fora”, refere, apontando que por este motivo os custos variam entre os 150 e 250 escudos.

Em relação às vendas, Rosalina faz saber que, normalmente, num mês, vende por volta de 400 produtos.

O processo produtivo

Yarin Alemeida utiliza o método Cold Process ou Processo a Frio para a produção dos sabões. Primeiro calcula-se o hidróxido de sódio com a quantidade de água, dependendo da quantidade do azeite extra virgem.

“Enquanto esta mistura descansar, vamos pesando os óleos, os extractos naturais e a glicerina, derreter as manteigas vegetais, e pesar o produto que tanto pode ser argila, sementes, fruta, ou outro”, descreve.

Depois, contínua, junta-se lentamente, ao segundo preparo. Quando a textura misturada começar a engrossar alcançamos o ponto ideal, mistura-se a babosa, argila, ou outro, os óleos essenciais. 24 horas depois o conteúdo é desenformado e o sabão passa pela “cura” ou secagem durante 30 dias. O passo seguinte é embalar e vender.

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“Os nossos produtos são confeccionados em casa. Temos um espaço de produção e secagem e o nosso ateliê de exposição e venda dos produtos”, prossegue.

Rosalina Lima conta igualmente que os seus produtos são feitos artesanalmente, sem a utilização de máquinas industriais, até porque o objectivo também é não fazer os produtos em grande escala para evitar a perda de qualidade.

“Fazemos uma pequena quantidade de cada tipo de produto de forma a não perder a qualidade. Utilizamos, na nossa fórmula, azeite extra virgem, óleo de amêndoa doce, manteiga de karité, rícino, óleo de aloé vera e alecrim que nós mesmos produzimos. Utilizamos ainda alguns outros produtos essenciais, embora pouco, ervas extraídas da natureza e hidróxido de sódio”, explica.

Marca veterana em cosméticos naturais

A marca Mamdyara, de Rosana Lima, nasceu em 2004, na ilha de São Vicente. Uma marca que é, segundo a dona, especialista em tratamento de peles e cabelos afro. Para além de um SPA, espaço de fabricação, hoje a marca utiliza as redes sociais como uma extensão da loja física.

“Foi a partir das redes sociais que começamos a expandir para todas as ilhas. Agora temos produtos na ilha do Fogo, Sal, Boa Vista, Santo Antão. Também conseguimos, através das redes sociais, representantes em Senegal, conseguimos uma licença em Senegal para poder abarcar a África Leste que tem muitos potenciais clientes”, narra.

Além do Senegal, a Mamdyara já está à venda nos EUA, após assinar um contrato com uma empresa cabo-verdiana de cosméticos naquele país.

Com o objectivo de conquistar ainda mais mercados internacionais, Rosana Lima revela que no mês passado lançaram uma página web. Durante este mês, continua, o site foi muito visitado a partir de lugares que descreve como ‘inimagináveis’”.

Rosana Lima que é formada em Estética afirma que de 2004 a 2015 dedicou-se à investigação e à criação da base científica para a marca que hoje conta com mais de 100 produtos regularizados.

“Constantemente estamos a elaborar novos produtos porque com o SPA vamos verificando quais são as necessidades do nosso público e vamos testando novas fórmulas para ver quais funcionam para o seu problema. Uma vez que esses produtos consigam gerar alguns benefícios fazemos dele um Kit”, explana, acrescentando que após a avaliação da especificidade do cliente, o passo seguinte é o acompanhamento dos tratamentos.

Para desenvolver as fórmulas, a Mamdyara conta com uma equipa constituída por uma biomédica e botânicas. Conforme Rosana Lima, ter uma biomédica na equipa contribuiu para mais pesquisas e alcançar a estabilidade da marca.

A maioria das matérias-primas ou as “mais importantes” na constituição dos produtos Mamdyara são cabo-verdianas.

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“Por exemplo, na ilha do Santo Antão pode-se encontrar uma vasta flora que podemos usar, temos argila em todas as ilhas e inclusive podemos extrair alguns óleos de algumas plantas”, aponta.

Com o confinamento imposto pela pandemia da COVID-19, o espaço Mamdyara foi fechado e dedicou-se a entregas ao domicílio em São Vicente e ao envio pelos Correios.

“Todos os produtos que tínhamos esgotaram durante o confinamento. Fechamos o ano bem, com todas as nossas contas em ordem”, expressa.

Na ilha de Santiago

Na ilha de Santiago pode-se encontrar a marca Badia Natural Cosméticos, existente desde 2017. A sua fundadora, Lúcia Cardoso, diz que ultimamente, tem havido uma valorização de produtos naturais e que, por isso, tem apostado na diversificação de produtos e também na criatividade, até na escolha dos nomes.

“Temos vários produtos que são bastante procurados como o sabonete de carvão, para pele mista e oleosa, temos também os óleos perfumados que são muito procurados, bem como as nossas manteigas para corpo e cabelo. A maioria dos produtos da Badia tem nomes de música, por exemplo, são inspirados pela nossa música e pela nossa paisagem. Assim cada produto tem a sua identidade”, explica.

A Badia Natural Cosméticos tem, segundo Lúcia Cardoso, uma loja e também disponibiliza seus produtos na plataforma Nha Kretxeu, além de estarem igualmente disponíveis nas redes sociais.

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“Nós gostamos de realçar algumas matérias-primas como o nosso sal, o cacto, calabaceira, bisap. São facilmente encontrados aqui. Por outro lado, há karité, manteigas de macadâmia, azeite, óleos de amêndoas, óleos essenciais que não são fáceis de encontrar aqui”, informa.

A Badia usa, segundo conta a sua mentora, várias técnicas tradicionais e modernas na produção dos cosméticos que são feitos artesanalmente no seu atelier.

“As fórmulas, desenvolvi. Estudei, desenvolvi as fórmulas, são todas originais da Badia e hoje em dia há vários programas, softwares para desenvolvimento de fórmulas de cosmetologia”, frisa. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1004 de 24 de Fevereiro de 2021.

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Autoria:Sheilla Ribeiro,28 fev 2021 7:38

Editado porFretson Rocha  em  1 mar 2021 15:03

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