Em declarações à Inforpress antes de participar, como orador, na conferência “Qualidade de Água e do seu abastecimento na ilha de Santiago”, realizada hoje na Universidade Jean Piaget de Cabo Verde e enquadrada nas comemorações dos 20 anos desta instituição do ensino superior, que se celebra na próxima sexta-feira, 07 de Maio.
“Da qualidade de água na ilha de Santiago, posso dizer que tem vindo a degradar-se ano após ano, derivado a vários factores”, afirmou, apontando para a questão da sobre-exploração dos pontos de água, principalmente dos furos.
Nemias Gonçalves falou ainda da falta de chuva, que tem assolado o País nos últimos anos, ressaltando que sem chuva não há recarga aquífera, sem a qual os furos não produzem água de qualidade para o consumo.
“A sugestão que deixo para a população em si e para a comunidade académica é para que haja a sensibilização de todos no sentido de se poupar água. Também sugiro uma melhor gestão dos furos explorados, tanto públicos como privados, como também uma gestão adequada dos pontos de água”, prosseguiu.
Nemias Gonçalves justificou, exemplificando que se há um determinado ponto de água, o furo, por exemplo, com um caudal de exploração de 5 metros cúbicos por hora para ser explorado em 12 horas, deve-se respeitar essa indicação. Segundo afirmou, se se exceder essa indicação, ao invés de explorar durante 20 anos, vai se explorar por somente 10 anos.
“Há muitos pontos de água na ilha de Santiago em que se está a exceder a exploração, não respeitando o tempo limite para a exploração durante o dia”, denunciou, relembrando que há um determinado tempo para que o furo possa recuperar o seu nível aquífero, o seu nível freático, para que possa ser explorado novamente.
“Se não respeitarmos essas indicações é claro que o furo seca. Nas zonas mais costeiras há o risco de salinização, o que tem acontecido principalmente na bacia hidrográfica de Ribeira Seca, em Santa Cruz. Está a acontecer também em São Miguel e mesmo em São Domingos acontece este fenómeno que é chamado de salinização”, referiu.
Nesta matéria, disse o especialista que responsabiliza primeiramente as entidades responsáveis pela gestão, mas frisou que os cidadãos têm “grandes responsabilidades” na parte da gestão e exploração dos recursos hídricos porque é um bem para todos.
“Não é um bem infinito. Ao contrário do que muitos pensam, a água doce não é infinita e pode acabar. Nós estamos a sofrer muitos problemas nos últimos tempos com a falta de chuva e quando não temos chuva e secarmos os furos, os poços e as nascentes, tudo acaba e teremos de recorrer ao processo de dessalinização que normalmente é muito custoso e não consegue abarcar toda a população”, alertou.
Finalizando, Nemias Gonçalves defendeu que o principal enfoque passa pela educação das pessoas na gestão adequada desses recursos, mas que também a entidade reguladora ou entidade que faz a distribuição devem sensibilizar a população no sentido de preservar esse recurso que é indispensável para a vida.