HUAN promete resolver em breve situação de acompanhantes de crianças internadas

PorSheilla Ribeiro,7 mai 2022 8:14

Acompanhantes de crianças internadas reclamam da falta de estrutura no Hospital Universitário Agostinho Neto (HUAN), dizendo que se acomodam como podem nas cadeiras.

Em sua defesa, o HUAN diz que as poltronas adquiridas inicialmente não têm medidas que servem às especificidades da pediatria do hospital e que, por isso, mandou confeccionar mais 40 unidades com dimensões ajustadas. As poltronas, segundo o PCA do HUAN, deverão chegar a Cabo Verde dentro de dez dias e ainda durante este mês de Maio, ou na primeira quinzena do mês de Junho, vão ser alocadas àquele serviço.

Edsana Correia conhece bem a pediatria do HUAN uma vez que a filha de um ano e meio tem problemas no coração e muitas vezes precisa ser internada quando sente muita febre e vómito.

Desde que ela nasceu, relata, que a menina já foi internada pelo menos cinco vezes e sempre tem de a acompanhar.

Todas as vezes em que ficaram internadas, a progenitora dormiu numa cadeira de plástico duro.

“Nunca reclamei do desconforto da cadeira junto do hospital porque fui à procura da saúde da minha filha. Se dormir numa cadeira desconfortável é o preço a pagar, pago” afirma.

Edsana Correia conta que houve época em que a filha esteve internada durante 15 dias. Nesses 15 dias dormiu na cadeira de plástico e encostava a cabeça no berço.

“Enquanto a minha filha esteve internada, de tanto dormir assim, sentia muitas dores de barriga e nas costas e eu nem sequer podia ir deitar em casa porque eu era a única que podia acompanhá-la. Quase não dormia nesses 15 dias porque para além da preocupação com a minha filha, tinha de lidar com as dores que sentia”, relata.

Correia garante que sempre foi tratada bem, assim como a filha, mas que ainda é preciso melhorar a questão dos acompanhantes.

“Acho que devia haver um sufá cama para todos os acompanhantes das crianças. Contudo, se calhar, não há essa disponibilidade porque as salas não são grandes o suficiente. Mas, se arrumarem de outra forma pode ser que dê para colocar essas poltronas”, diz, frisando que deveria haver melhores condições.

Esta mãe acrescenta que já viu quem usasse as poltronas que o HUAN possui, mas que não são todas que as podem usar.

“Eu mesma nunca cheguei a usar porque disponibilizam apenas para aquelas com bebés de um mês ou menos de um mês. Já quem tem filhos maiores usam as cadeiras para sentar e dormir. Deviam aumentar o número dessas poltronas”, reclama.

Dores e pés inchados

Por sua vez, Kátia Rodrigues, mãe de um rapaz de dois anos de idade, relata que o filho esteve internado na pediatria do HUAN durante treze dias.

Nesse período, entretanto, diz que nos dez primeiros dias dormia numa cadeira de madeira que lhe provocou dores no corpo, cãibras e pés inchados.

“Quando faltava apenas três dias para o meu filho ter alta, uma outra mãe que acompanhava o seu bebé e que tinha uma poltrona hospitalar deixou-a para mim. Depois que passei a dormir na poltrona continuei com as dores no corpo, mas, pelo menos já não tinha os pés inchados. A poltrona é muito, mas muito mais confortável do que as cadeiras”, acrescenta.

Contudo, observa que para descansar os pés era preciso abrir as poltronas e isso só era possível à noite, após o último medicamento de cada criança do quarto onde se encontrava.

Kátia Rodrigues afirma que chegou a reclamar o facto de dormir na cadeira ao que lhe foi dito que as poltronas seriam disponibilizadas apenas às mães com bebés e não àquelas com crianças mais crescidas.

“Agora, quando um bebé tinha alta, quem tivesse uma criança mais crescida, como no meu caso, podia ficar com a poltrona. Entretanto, avisam logo que se aparecer uma mãe com um bebé a poltrona seria retirada”, ressalva.

“Eu sei que há muitas poltronas no HUAN, cheguei a ver na sala das enfermeiras e sei que há outras guardadas. Mas, não sei o motivo de não as disponibilizarem a todas as mães, talvez por causa do espaço. Por isso, penso que num quarto onde dá para meter duas poltronas, não deviam meter quatro ou cinco berços, que diminuam o número de berços para que fique mais espaço para as poltronas”, sugere.

HUAN recebe mais 40 poltronas hospitalares nos próximos dias

Em declarações ao Expresso das Ilhas, o PCA do HUAN, Imadueno Cabral explica que no final do ano passado o hospital adquiriu 60 poltronas que foram disponibilizadas ao serviço de pediatria e outras enfermarias. Isto porque as mães não têm um espaço próprio para ficar.

Entretanto, admite que não foram suficientes, até por causa da especificidade de cada sala, cujas dimensões dependem do tipo de patologia.

“Então, percebemos que as poltronas que adquirimos inicialmente não tinham as medidas que serviam para aquelas salas. Por isso, mandamos à empresa fabricante uma proposta para confeccionar mais 40 unidades dessas poltronas, com dimensões ajustadas àqueles espaços específicos”, declara.

“Normalmente as poltronas têm uma dimensão padrão e nós tivemos de pedir, excepcionalmente, para que sejam fabricadas poltronas com dimensões e características adequadas às nossas salas, ao nosso clima, ao nosso ambiente para que não danifiquem”, assegura.

Imadueno Cabral avança que neste momento as poltronas estão a caminho de Cabo Verde e que deverão chegar dentro de dez dias.

“Ainda durante este mês de Maio, no máximo na primeira quinzena do mês de Junho, vão ser alocadas ao serviço da pediatria.

O PCA do HUAN destaca que houve um esforço adicional em termos de orçamento para tal aquisição e garante que as poltronas serão disponibilizadas às mães, sobretudo aos jovens.

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Quanto à acusação de que as poltronas disponíveis são facultadas apenas às mães com bebés, Imadueno Cabral responde que elas são dispostas de acordo com a sala, tendo em conta que cada sala tem uma patologia específica.

“Por exemplo, um doente com problemas respiratórios não pode ficar muito perto de um outro doente, mesmo que tenha o mesmo problema, porque há diversos tipos de problemas respiratórios. As poltronas que adquirimos inicialmente tinham um tamanho padrão e ocupava um espaço que dificultava a movimentação ou a mobilidade das pessoas dentro da sala. Por isso, mandamos fabricar poltronas específicas à dimensão daquele serviço e também respeitando as normas de segurança sanitária”, justifica.

Sala de espera da maternidade

Sob outro enfoque, Elder Paiva, de Santa Cruz, procurou o Expresso das Ilhas afirmando que no passado dia 27 de Abril, sua mulher foi dar à luz na maternidade do HUAN por volta das 4h00 da manhã.

Todavia, alega que mesmo estando a sala de espera vazia, teve de esperar do lado de fora até às 8h00.

“Quando chegamos, entrei eu, a minha sogra, mais a minha mulher. Ela foi para a sala de parto, mas o porteiro nos disse que tínhamos de ficar do lado de fora porque não podíamos ficar na sala de espera”.

“Questionei e argumentei que há muitos thugs na Praia e que não deveríamos nos ficar do lado de fora àquela hora. Ele refutou dizendo que ordens são ordens e que tínhamos, sim, de esperar na rua”, narra.

Elder Paiva assevera que o porteiro não poderia indicar o distanciamento social como um factor para ficarem na rua porque naquele momento com a excepção dele e da sogra, havia apenas mais uma pessoa.

“Fiquei na rua cheio de medo, logo eu que não sou muito fã de ficar nas ruas da Praia à noite ou de madrugada. Passado horas, pedi que deixasse ao menos a minha sogra ficar lá dentro e a minha mochila que continha objectos de valor”.

“Ele deixou a minha sogra entrar mas eu tive de ficar na rua porque ele alegou que o espaço ficaria cheio. Numa sala com cinco filas, com quatro cadeiras cada, ele disse que ficaria cheia se eu, a minha sogra e um outro senhor ficássemos la dentro”, contesta.

Elder Paiva expressa que percebe que o hospital não é grande e que a sala de espera é menor ainda e que por esta razão não seja conveniente que ela esteja sempre cheia de pessoas, sobretudo devido à COVID-19.

Porém, defende que pelo menos o pai devia ter autorização para sentar na sala de espera.

“Eu nem sequer fiquei na Praia durante os dias em que a minha mulher esteve internada porque sabia que teria de ficar na porta da maternidade ao sol, ou então ao vento durante a noite. Não justificava”, admite.

Para este pai, ficar na rua desencoraja muitos homens a acompanharem as parturientes à maternidade, mesmo que naquele momento não possam fazer nada.

“Não podemos fazer nada, mas queremos estar por perto naquele momento. Peço que pelo menos facilitem a nossa entrada de madrugada”, apela.

“Estando na sala de espera é como se estivéssemos junto das nossas mulheres num momento especial. Eu sei que o espaço não é grande, não tem a capacidade de levar muitas pessoas, mas pelo menos os pais deveriam ficar na sala de espera. Diria, até sala de parto para humanizar o parto porque, a meu ver, o parto no HUAN não é humanizado”, opina.

PCA do HUAN garante que neste momento não há restrições no acesso à sala de espera

À esta questão, Imadueno Cabral garante que actualmente, tendo em conta que existe uma legislação que orienta o direito de acompanhar os doentes, no serviço de maternidade não há nenhuma restrição nem aos acompanhantes, nem aos familiares

“Nós estamos a sair de uma pandemia em que houve restrições, medidas de contingência, em que a própria legislação impedia que os pacientes não doentes ficassem juntamente com outros profissionais de saúde, juntamente com os seus familiares mesmo estando internados. Por isso, fizemos as restrições, inclusive das visitas”, fundamenta.

“Há pessoas que gostam de vir para o Hospital mesmo que não sejam familiares. Às vezes vem cá uma grávida com 20 acompanhantes e nós, na sala de espera, se cada grávida vier com 20 acompanhantes dificulta o trabalho. Não há restrição nem do pai, nem da acompanhante directa para ter acesso à sala de espera que é para os utentes, para os acompanhantes e para os familiares”, reitera.

Imadueno Cabral informa que a partir hoje, 04, haverá uma reunião do Conselho de Administração e será liberada a entrada de visitas sem limites em termos de número. Haverá limites em termos de horários, dependendo da condição de cada doente. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1066 de 4 de Maio de 2022. 

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Autoria:Sheilla Ribeiro,7 mai 2022 8:14

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  8 mai 2022 11:16

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