Natuxok e Cervejaria Afreecana, duas marcas que trabalham com ingredientes típicos de Cabo Verde

A Natuxok é uma marca de chocolate que reúne na sua confecção ingredientes tradicionais de Cabo Verde, representando além de sabores do arquipélago, a história e as tradições. Na mesma linha, a cervejaria Afreecana apresenta uma linha de produção inédita, que conta histórias de povos africanos através de ingredientes de Cabo Verde. O Expresso das Ilhas conheceu de perto essas produções que carregam além da bandeira cabo-verdiana, os sabores e a cultura das ilhas.

Ileise Varela é uma jovem empreendedora, apaixonada pela cultura africana, que quando a empresa onde trabalhava fechou as portas devido à pandemia da Covid-19, em 2020, decidiu apostar na confecção de doces à base de chocolate. Começou a apresentar as suas iguarias aos amigos e familiares e com um feedback positivo, apostou na ideia de criar uma marca que carregasse a essência de Cabo Verde: a Natuxok.

Como surgiu o chocolate artesanal Natuxok

Ileise Varela conta que começou a trabalhar com chocolates, mas que inicialmente não foi nada pensado comercialmente. Tudo começou quando a pandemia da Covid-19 chegou a Cabo Verde. A empresa onde a jovem trabalhava, na altura, era nova no mercado e acabou por fechar as portas e ela ficou desempregada.

“Comecei a trabalhar numa empresa nova e com pouco tempo a operar a pandemia da Covid-19 apareceu em Cabo Verde. Depois foi decretado o confinamento obrigatório. Em casa comecei a elaborar receitas de vários tipos para o lazer familiar, incluindo receitas de chocolate. Em casa, todos gostamos de chocolate, todas as vezes era o mesmo sabor, então tive a ideia de acrescentar alguns ingredientes ao chocolate. Sempre fui muito curiosa e sempre tive um gosto especial pela gastronomia e confeitaria. Por isso não foi difícil começar a fazer algumas misturas para conhecer novos sabores”, explica.

Ileise, que também trabalha com frutas, principalmente manga e maracujá, disse que as frutas que sobravam da venda eram processadas e transformadas em doces e geleias para vender.

“Quando comecei a manipular o chocolate, surgiu a ideia de usar as geleias e os doces que eu vendia como recheio. Todos na minha casa gostaram e o meu marido começou a incentivar-me a produzir para fora. O meu marido dizia que o resultado era um produto de alto nível, aí comecei a oferecer aos clientes com os quais eu já lidava no dia-a-dia para experimentarem e darem a sua opinião. Para a minha alegria, foi muito bem-aceite. As pessoas que experimentaram, quiserem encomendar mais e recomendaram aos seus conhecidos. A partir daí os pedidos aumentaram e com isso a necessidade de criar uma marca, a Natuxok, sendo a junção das primeiras sílabas da palavra natural e chocolate, escritas em crioulo”, informou.

Chocolates com ingredientes típicos de Cabo Verde

A jovem mentora da marca Natuxok sublinha que a sua maior preocupação é oferecer aos seus clientes um produto com a identidade de Cabo Verde, por isso tanto a marca como os sabores são escritos em crioulo no rótulo das embalagens.

A Natuxok trabalha com recheios de vários sabores. Todos os sabores são de ingredientes que representam a identidade de Cabo Verde, como Marakujá (Maracujá), Mangi (Manga), Bissap (Hibisco), Tambarina (Tamarindo), Koku Terá (Coco Nacional), Dosi leti baka (Doce de leite de vaca), Azedinha, e o recheio do famoso vinho típico da ilha do Fogo “Manekon ku uva-passa” e ainda o recheio de “Café do Fogo”.

“O intuito é produzir um produto que em qualquer parte do mundo seja identificado como sendo de Cabo Verde e levar a nossa cultura e os nossos sabores e tradições por todo o mundo. A matéria-prima que é o chocolate, ainda compramos no mercado nacional, mas o plano é futuramente trabalhar com o fruto do cacau puro e trazer uma diversidade de percentagem de cacau nos nossos produtos que proporcionará uma grande experiência a todos os gostos e exigências”, assegura.

image

Ileise conta que os bombons de vinho Manekon e uva-passa, proporcionam os clientes uma experiência única, ou seja, apreciar um sabor mais intenso do vinho produzido tradicionalmente em Cabo Verde, uma textura única que quem conhece o vinho, em qualquer parte do mudo, identifica a Ilha do Vulcão de Cabo Verde.

Natuxok produz ainda chocolates de barra com sementes de caju, mancara, amêndoa, gengibre, bolacha e de malagueta.

Feedback positivo

A jovem conta que recebe um feedback muito positivo dos seus clientes. A empreendedora informa que já participou em várias exposições levando ao público os produtos da marca. Natuxok, como conta a sua mentora, hoje é conhecida não só nacionalmente, mas também na vasta diáspora cabo-verdiana.

“No passado mês de Maio participamos na tradicional festa da ilha do Fogo, Nhu Son Filipi, onde fizemos o lançamento da linha “Gostu di Djar Fogo”, uma linha que apresenta bombons com recheio de brigadeiro de café produzido ali na ilha do Fogo, bem como recheio de vinho Manekon, de doce de caju e da uva cultivada na Ilha do Vulcão. Nesta ilha tivemos a oportunidade de contactar um produtor local. Este produtor fornece-nos as matérias-primas acima referidas e assim podemos produzir um produto que carrega a identidade da ilha do Fogo a 100%”, informou.

Cerveja artesanal produzida em Cabo Verde

Keven Gonçalves é um jovem cabo-verdiano, natural de Santa Catarina de Santiago, é o mentor da marca Cervejaria Afreecana. O jovem empreendedor conta que sonhou sempre em montar uma cervejaria própria, porém, o jovem sentia que precisava de apresentar algo que diferenciasse o seu produto e identificasse o seu país. Conta que a ideia de fazer cerveja existiu desde o ensino secundário.

A ideia de fabricar cerveja artesanal, incluía também introduzir traços da cultura africana que seria o diferencial e o potencial máximo da cerveja. Introduzir na composição ingredientes típicos de Cabo Verde e na nomeação de cada sabor foi pensado uma homenagem que carregasse uma história por detrás do nome.

image

“Sempre falava com os meus amigos e dizia-lhes que um dia criarei a minha própria cervejaria. Era um sonho que sempre me perseguiu. No ano de 2018 tive que viajar para o Brasil, para aperfeiçoar os meus estudos em Engenharia Química e Biológica, foi aí que tive o primeiro contacto com cerveja artesanal e logo pensei em trazer o modelo para Cabo Verde”, explica.

Como é feita a produção da cerveja artesanal

Depois do primeiro contacto com a produção de cerveja artesanal no Brasil, Keven Gonçalves trouxe a ideia para a Cidade de Assomada, onde montou um espaço para as primeiras produções da Cervejaria Afreecana.

“A produção é feita toda na nossa fábrica situada na Cidade de Assomada. Utilizamos o malte, lúpulo, levedura e água (as matérias-primas para produção da cerveja) e aproveitamos ainda, um pouco, para dar às nossas cervejas um pouco da biodiversidade cabo-verdiana, acrescentando frutas e especiarias da nossa terra”, informou.

O mentor da marca Cervejaria Afreecana sublinha que a cerveja artesanal é muito mais que uma simples bebida. Segundo Keven Gonçalves, nas (quatros) linhas de produções que a cervejaria trabalha, há uma história e uma identidade que faz com que cada uma seja diferenciada. Além da textura, sabor e cheiro, o gosto remete a Cabo Verde.

“A cervejaria Afreecana é uma cervejaria artesanal focada na produção de cervejas utilizando frutas e especiarias nativas de Cabo Verde nas suas cervejas com o intuito de dar um escoamento diferente à nossa produção local. Pessoas de vários cantos do país vêm à Cidade de Assomada somente para degustar o nosso líquido divino. O feedback é muito positivo”, conta.

Os sabores e as suas histórias

A cervejaria artesanal produz mensalmente cerca de 1500 litros de cerveja, e actualmente trabalha com quatro sabores, o Bissap (Hibisco), Tambarina (Tamarindo), Manga e Caldo de Cana.

“Temos cerveja de Hibisco, nomeada de Badia, uma homenagem às mulheres da ilha de Santiago e não só; é uma homenagem à mulher africana, à sua beleza, seus traços rústicos, pele negra, forte e guerreira. Temos a Zulu que é uma cerveja feita da fruta Tambarina (Tamarino), em homenagem à Tribo Shaka Zulu, na África do Sul, que ficou conhecida pela determinação do seu líder, Shaka, um chefe tribal e estrategista militar, que posteriormente se converteria em rei dos zulus e transformou-os de uma etnia com pouca expressão territorial num império que ensombrou os desígnios coloniais britânicos”, explicou.

O mentor da marca conta ainda que a cerveja Bidjogó é uma homenagem mista, primeiro por levar na composição a manga conhecida em Cabo Verde como Bidjogó, e também segundo Keven Gonçalves é uma singela homenagem às Ilhas Bijagós da Guiné-Bissau. A designação Bijagó terá provindo da junção de “Be” e “odjogo” que, na língua local, significa pessoas íntegras. Por fim a cervejaria produz a cerveja nomeada Rabeladus que é feita de caldo de cana-de-açúcar. “Esta cerveja Rabeladus, é uma homenagem aos Rabelados, que são uma comunidade religiosa que se encontra principalmente no interior da ilha de Santiago. Formaram-se a partir de grupos que se revoltaram contra as reformas na liturgia da Igreja Católica, introduzidas na década de 1940, e isolaram-se do resto da sociedade, correndo hoje risco de extinção. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1077 de 20 de Julho de 2022.

Concorda? Discorda? Dê-nos a sua opinião. Comente ou partilhe este artigo.

Autoria:Edisângela Tavares - Estragiária,24 jul 2022 9:31

Editado porDulcina Mendes  em  25 jul 2022 10:50

pub.

pub
pub.

Últimas no site

    Últimas na secção

      Populares na secção

        Populares no site

          pub.