Segundo a agência de notícias Lusa, a informação divulgada hoje,consta do relatório e contas de 2021 do grupo Electra, indicando que as dívidas de clientes - que a empresa descreve como o maior problema que enfrenta na gestão - aumentaram 5,2% face a 2020.
"O combate às perdas [cerca de um quarto do total da produção], aliado à redução da carteira de dívidas, continua a ser uma das grandes prioridades da empresa. Neste âmbito, foram realizadas várias intervenções, com ênfase na Cidade da Praia", refere o conselho de administração, na mensagem que consta no documento.
"No entanto, os resultados atingidos continuam longe do necessário para reverter o actual quadro, pelo que este tema continuará a merecer uma atenção especial nos próximos tempos, requerendo um amplo engajamento de vários 'stakeholders', visando, além das penalizações previstas nos termos da lei, a criação de forte dinâmica de reprovação social aos actos de furto e fraude de electricidade", acrescenta-se na mensagem.
A maior fatia das dívidas ao grupo - que o governo pretende privatizar na componente de produção e distribuição de electricidade e que integra a Electra SA, Electra Sul e Electra Norte - é de consumidores domésticos, que desceu 7,2%, para 5.148 milhões de escudos, enquanto o peso das dívidas das autarquias aumentou 7,1%, para 2.207 milhões de escudos.
Já as dívidas das empresas públicas ao grupo estatal Electra dispararam em 2021 quase 25%, para 2.392 milhões de escudos, enquanto as empresas privadas deviam mais 10%, cerca de 1.602 milhões de escudos, e o Estado 569 milhões de escudos, um aumento de praticamente 65%.
Da dívida global associada às três empresas do grupo, 62,5% é das contas da Electra Sul, que serve a ilha de Santiago, a mais populosa do arquipélago.
O grupo registou no ano passado um aumento do volume de negócios na ordem dos 22%, face a 2020, crescendo para 10.391 milhões de escudos.
Além dos prejuízos de 1.338 milhões de escudos em 2021, o grupo Electra já tinha apresentado resultados negativos em 505 milhões de escudos em 2020 e em 368 milhões de escudos em 2019.
Em três anos, o grupo Electra somou prejuízos superiores a 2.211 milhões de escudos.
No final de 2021, o grupo contava com 163.908 clientes no serviço de electricidade e 32.262 no serviço de água, além de um total de 822 trabalhadores.
O Governo aprovou em Julho o processo de privatização da Electra, envolvendo a cisão em duas sociedades, de produção e distribuição de electricidade, e posterior alienação de até 75% do capital a parceiros estratégicos.
Segundo um decreto-lei do Conselho de Ministros publicado em 21 de Julho, que aprova o processo de privatização, o mesmo deverá avançar em 2022 e está "em linha com as reformas económicas e estruturais preconizadas no Programa do Governo", para "redução dos custos e a promoção e eficiência económica" na área da energia.
"O Governo pretende proceder à revisão do modelo de organização do sector eléctrico, à reestruturação da Electra SA e à subsequente retirada do Estado das duas sociedades em fase de constituição por cisão da actual Electra SA para, respectivamente, o exercício das actividades de produção e de distribuição de eletricidade, mediante alienação das suas participações sociais a parceiros estratégicos selecionados através de concurso público", lê-se no preâmbulo do decreto-lei.
O processo envolve apenas a componente de eletricidade - a produção e distribuição de água manter-se-á com a Electra, pública - prevê a alienação "a um parceiro estratégico, até ao limite de 75% das acções representativas do capital social de cada uma das sociedades resultantes da cisão e/ou aumento de capital social das sociedades para alienação das acções", recorrendo a concurso público.
Envolve ainda a "alienação a trabalhadores, emigrantes de nacionalidade cabo-verdiana e pequenos accionistas, até ao limite de 25%", através de uma oferta pública de venda.
O preço das acções destinadas aos trabalhadores e emigrantes cabo-verdianos "deve ser determinado com o valor médio da avaliação, beneficiando de um desconto de 15%", prevê-se ainda no diploma.
Refere-se também que os processos de alienação "só podem ser iniciados depois da criação das duas sociedades que resultarão da cisão da atual Electra SA, em curso, sendo que esta última mantém a sua personalidade jurídica após a reestruturação operada pela cisão".