Praia manifesta-se contra o actual estado da Nação

A Rede das Associações Comunitárias e Movimentos Sociais da Praia (RACMS) saiu às ruas da capital do país para manifestar a insatisfação dos cidadãos com o actual estado da Nação, com as palavras de ordem “Sima nu sta nu ka podi fika”.

A manifestação que teve a Praça Alexandre Albuquerque, no Plateau, como ponto de concentração, reuniu na tarde da última sexta-feira, dia 19 de Agosto, cidadãos de vários pontos da ilha de Santiago que juntos mostravam a sua insatisfação com o actual estado da Nação.

Segundo o porta-voz da Rede das Associações Comunitárias e Movimentos Sociais da Praia (RACMS), Bernardino Gonçalves, a situação no país é cada vez mais insustentável para os cidadãos, sobretudo aqueles que dispõem de escassos recursos financeiros, e sublinha que é necessário que a população saia às ruas para exigir a mudança de que o país precisa.

“Escolhemos o mês de Agosto para vir às ruas e fazer a nossa leitura do estado da Nação enquanto cidadãos. Nós sabemos que as mudanças que a nossa sociedade precisa não vão acontecer hoje com a nossa manifestação. Estar aqui é uma maneira de reforçarmos a nossa democracia. Mais do que temos feito no dia-a-dia, hoje queremos chamar à consciência dos nossos governantes para terem em mente que o povo está atento a tudo que estão a fazer e não vamos aceitar que o povo seja levado em consideração só no dia das eleições”, informa.

Segundo este representante, aos cidadãos comuns são pedidas constantes contenções e exigências. “Infelizmente isso não se nota a nível dos sectores públicos nas decisões e nos actos de gestão”.

Sobre a manifestação diz que é uma acção “genuína da sociedade civil que está descontente com o actual estado da Nação. A nossa mensagem deixa claro: a Rede de Associações Comunitárias é formada por pessoas que vivem a realidade das comunidades no seu dia-a-dia, são pessoas que estão por dentro do que acontece nas comunidades, é fazer sentir que da maneira que estamos hoje, não podemos ficar”, acrescenta.

Por onde começar a mudança?

Bernardino Gonçalves assegura que diversos sectores precisam ser revistos. Aponta ainda que o foco principal da manifestação é chamar à atenção para a segurança e situação da justiça, que considera precária.

“A questão da saúde e evacuações vem-se mostrando cada dia mais precária, é preciso uma urgente intervenção, são inúmeras as situações de perdas humanas que temos que enfrentar por conta de termos um sistema de saúde frágil. O desemprego, a precariedade laboral, a desigualdade salarial, situação dos transportes (marítimos e aéreos), ineficiência e não transparência na gestão da coisa pública, bloqueios no processo de governação devido a interesses partidários” motivaram esta saída às ruas, indicou.

Visão dos manifestantes

Paula Silva, uma cabo-verdiana que vive há muitos anos no exterior fez questão de participar na manifestação e chama a atenção para a precariedade salarial, aumento do preço dos bens e serviços e principalmente o desemprego, que segundo esta manifestante deixa a maioria dos cidadãos em situação de vulnerabilidade.

“É uma vergonha para um país uma pessoa ganhar um salário avantajado ao mesmo tempo que temos outras a receber uma pensão social do governo de cinco mil escudos. Todos os cabo-verdianos merecem ser tratados com respeito, precisamos acabar com a facilitação para os grupos considerados privilegiados, ou elites da sociedade. Copiamos a Europa em tudo, então precisamos copiar o respeito pelos Direitos Humanos da Europa”.

Esta manifestante menciona ainda a situação do turismo urbano e o desemprego juvenil, acrescenta que é necessária uma maior fiscalização nos serviços públicos, que considera terem um péssimo atendimento, morosidade e descaso para com os cidadãos.

“É uma vergonha ver os pacotes turísticos vendidos para os estrangeiros, só são mostradas as nossas belas praias, a Praça do Plateau, é pintada uma fachada que não corresponde à verdade. Esses mesmos turistas quando vão aos bairros periféricos, a sensação que fica é que entraram em outro país, porque deparam com ruas sem asfalto, estão sujeitos a assaltos, deparam com a realidade de crianças e idosos em condições precárias, e um monte de jovens, que poderiam estar a dar um maior contributo para o país, a tentar ganhar a vida com empregos precários, ou alguma outra actividade geradora de rendimento, que só sustenta o pão de cada dia. É uma vergonha para Cabo Verde”, desabafou.

Na mesma linha Bernadete Silva, que também aderiu à manifestação, considera que já é altura de dar um basta à precariedade de Cabo Verde.

“Estamos fartos de um governo gordo com uma população a passar fome. O que me faz participar nesta manifestação é a falta de saúde, falta de segurança, falta de emprego e precariedade na justiça, uma porcaria de salário e os preços só aumentam todos os dias”.

A manifestação sobre o estado da nação contou com uma boa adesão ao longo do percurso que passou pelo mercado de Sucupira, o maior mercado informal do país, dirigindo-se depois em direcção ao Palácio do Governo. No entanto, o percurso acabou por ser desviado junto ao Estádio da Várzea por um forte aparato policial.

Da mesma forma foram recebidos em Achada Santo António, onde foram “barrados” nas proximidades da nova sede do Banco de Cabo Verde, quando a ideia era parar à frente da Assembleia Nacional.  

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1082 de 24 de Agosto de 2022. 

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Autoria:Edisângela Tavares (Estagiária),24 ago 2022 12:48

Editado porClaudia Sofia Mota  em  26 ago 2022 12:48

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