Graça Machel, que é também política, vencedora do prémio Norte-Sul e da Medalha Nansen da ONU, lançou este repto em declarações à imprensa após participar enquanto “convidada especial” do “Prime Minister Speaker Series” (série de conversas com o primeiro-ministro), promovido, anualmente, pelo chefe do Governo, Ulisses Correia e Silva.
O evento, que teve como palco o Museu da Resistência, no ex-campo de concentração do Tarrafal (ilha de Santiago), enquadrado no CV Next centrou-se nos temas como a educação, a igualdade de género, o desenvolvimento e a luta contra a pobreza, onde a “convidada especial” partilhou as suas experiências sobre os mesmos.
“Este País [Cabo Verde] e o continente [África] é vosso e são vocês que vão determinar onde os africanos querem estar e como os africanos devem ser”, declarou, notando que o continente africano tem “riquezas” que outros não têm, tomando como exemplo a questão da identidade, da consciência do que vale e do saber/conhecimento.
Relativamente à questão do saber/conhecimento, observou que a África tem conhecimentos que outros não têm e que, segundo ela, devem ser valorizados e ofertados.
“E num mundo em que se fala de trocas, nós temos muito mais para oferecer ao mundo inteiro de que qualquer continente. Então têm de saber como é que negociamos isto, o que nós ofertamos, mas como nós queremos valorizar os nossos próprios recursos, como queremos desenvolver para que eles produzam a riqueza e o bem-estar de todos (…)”, concretizou.
“Todos nós temos direito a uma vida com dignidade e isto nós podemos fazer e os jovens têm essa missão histórica”, considerou, defendendo que os países africanos têm de assumir a sua própria identidade como agentes da sua trajectória e da sua forma de se assumirem no contexto das Nações.
“Por causa da nossa história colonial habituamo-nos a que sejam os outros a dizer quem nós somos. O que estou a dizer é que nós temos que mudar esse posicionamento, temos que ser nós a dizer quem somos nós africanos e o que nós temos a ofertar ao resto da família humana, (…)”, sublinhou.
Ou seja, o continente tem de ser capaz de definir como se posicionar no contexto das Nações e o que está a ofertar como valores, como recursos e como conhecimentos.
“Não temos de absorver aquilo que os outros fazem e eles quem definem quais são os passos e quais são os níveis que nós vamos atingir e é uma responsabilidade dos jovens africanos fazerem isso”, defendeu a activista social.
Por sua vez, o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, também em declarações à imprensa, notou que convidou Graça Machel porque se trata de uma personalidade africana e mundial reconhecida pela sua vasta experiência de vida, activista política que tem histórias para contar e experiências para partilhar que todos, sobretudo os jovens devem escutar.
Questionado o porquê da escolha do ex-Campo Concentração do Tarrafal, onde Graça Machel partilhou as suas experiências sobre a problemática da juventude, da mulher e do desenvolvimento da África, que por “alguns constrangimentos” foi de poucos minutos, Correia e Silva disse que foi “simbólica”.
É que, segundo ele, não obstante ser um espaço de “más memórias na história” representa um simbolismo de um Cabo Verde resistente e resiliente e que continua a lutar pelo desenvolvimento que a Africa também aspira atingir.
Durante a sua estada em Cabo Verde, além de participar no “Prime Minister Speaker Series”, Graça Machel tem agendado um conjunto de visitas a entidades do País e algumas instituições-referência, com destaque para o encontro como o Presidente da República, José Maria Neves, e visitas à Fundação Amílcar Cabral e ao Instituto Pedro Pires (IPP).