O presidente da Associação Hoturumu, Joaquim Martins, falava à margem de um evento de confraternização entre ex-reclusos, familiares e comunidades, realizado no Centro Comunitário da Água Funda, no bairro Jamaica, enquadrado no projecto “Acompanhamento de ex-reclusos nas famílias e na comunidade”, em parceria com o Ministério de Justiça e a Câmara Municipal da Praia.
Nesta primeira fase, o referido projecto engloba três bairros da Cidade da Praia, quais sejam Achada Grande Frente, Jamaica e Águas Funda, disse aquele responsável, assinalando que o próximo será Tira Chapéu para o mesmo efeito, levantamento do número de ex-reclusos residentes naquela zona e examinar as condições em que vivem para depois dar uma resposta a cada um individualmente.
“A nossa maior preocupação é o engajamento dos ex-reclusos e inseri-los dentro da sociedade e uni-los com suas respectivas famílias porque muitos refugiam por faltas de apoio familiar e vivem em condições precárias, alguns de rendas, mas com poucos recursos financeiros para se sustentar e outros vivem nas barracas”, ressaltou Joaquim Martins à Inforpress.
E quando assim é, lamentou, os ex-reclusos se tornam um risco para a sociedade com tendência a ser reincidente e influenciar crianças e jovens a seguir o caminho da criminalidade.
Outras dificuldades detectadas no decorrer do projecto é que a maioria dos ex-reclusos não tem uma habilitação literária necessária para ingressarem nas formações, bem como o facto de estes estarem inseridos no nível 4 do Cadastro Social Único.
“Este nível não chega porque não têm nenhum outro recurso, não tem emprego, vão recomeçar do zero como é que vão sobressair assim na vida. Se os ex-reclusos estão inseridos no programa de cadastro social, pensamos que devem ser inscritos desde presídio para quando saírem ter uma margem de recomeço”, afiançou o presidente da Associação Hoturumu.
Pelo que, defendeu Joaquim Martins, há que criar novos mecanismos para dar resposta a esta classe que merece “mais atenção”, argumentando que só desta forma haverá redução da criminalidade no País.
“Queremos discutir futuramente com o ministro das finanças esta possibilidade de criar uma alternativa para que os ex-reclusos possam ter acesso a pequenos empréstimos e criar pequenas empresas para melhorarem a vida, uma vez que tem dificuldade de arrumar um emprego, sobretudo devido ao preconceito”, justificou.
Joaquim Martins destacou também a necessidade de a associação ter um fundo de emergência, acreditando que isto resolveria problemas de vários ex-reclusos que se encontram em situação de fome.
Neste momento, frisou, a associação tem vindo a acompanhar os ex-reclusos que saíram recentemente da cadeia, “são mais de uma centena na Praia”, e já está a identificar os do interior da ilha de Santiago, nomeadamente Renque Purga, Santa Cruz, Calheta de São Miguel, São Domingos e Assomada.