O ano de 2023 reservou ao País duas mãos cheia de feriados nacionais, sem contar com os feriados municipais, 52 sábados e 53 domingos. Desta forma, dos 365 dias do ano, apenas 250 serão dias úteis, restando 115 dias que correspondem à soma dos sábados, domingos e os feriados nacionais.
No entanto, se por um lado, os feriados e finais de semana prolongados representam a paralisação de algumas actividades, por outro, estimula outras, nomeadamente as associadas ao turismo, cultura e lazer.
Prova disso são as tradicionais festividades de Páscoa, realizadas nas várias localidades da ilha de Santo Antão, como Tarrafal de Monte Trigo, Paul, e Povoação, na Ribeira Grande, criadas à medida para atraírem pessoas da vizinha ilha de São Vicente, onde os pacotes de viagem anunciados pelas companhias de viagem, para este Tríduo Pascal, já começaram a esgotar-se.
É esta linha que o país deve seguir, segundo o economista cabo-verdiano e director da Faculdade de Turismo e Hotelaria da Universidade Federal Fluminense (Brasil), João Evangelista Dias Monteiro.
Segundo o economista, é preciso transformar os feriados e finais de semana em momentos de lazer e de negócios para gerar rendimento ao País.
Ou seja, explicou,os municípios de Cabo Verde devem criar um calendário de feiras, eventos e actividades culturais, aproveitando os feriados prolongados e finais de semana principalmente, neste momento de recuperação económica pós-pandemia em que essas acções podem potencializar o processo de geração de negócios, emprego e renda, nos municípios e no país.
“O ano corrente possui uma série de feriados que, se somados aos sábados e domingos, correspondem a 31,51% dos dias do ano, ou seja, 115 dias. Em uma análise superficial, isso pode ser interpretado como uma perda económica para o país, uma vez que, nesses dias haverá uma redução nas actividades dos sectores público e privado. Fazendo uma conta simples, utilizando o dado do Produto Interno Bruto (PIB) de Cabo Verde de 180 bilhões de escudos, que corresponde à riqueza produzida no país, em 2021, cada dia ocioso representaria uma perda de, aproximadamente, 493 milhões de escudos”, analisou.
Por outro lado, segundo a mesma fonte, fazendo uma avaliação mais profunda dessa questão, conclui-se que essa equação precisa de outras variáveis para melhor a acurácia do resultado. Sendo assim, acrescentou, o resultado líquido dessa equação dos efeitos positivos em relação aos negativos dependerá da capacidade dos governos, principalmente, municipais, na organização de atividades que possam estimular as atividades de turismo, cultura e lazer.
“É importante ressaltar que, esse planeamento deverá ser construído em cooperação com as associações de classe ligados à hotelaria, restauração e outros, promovem acções de lazer, desporto e cultura, durante os feriados e finais de semana prolongados”, sustentou João Evangelista Monteiro, realçando que é necessário o planeamento integrado dos sectores de transporte, lazer, segurança, comércio, hotelaria e restauração nos municípios para potencializar os benefícios dos feriados prolongados.
Para o economista em Cabo Verde é necessário uma melhoria nos transportes marítimos de ligação inter-ilhas assim como a formatação de produtos turísticos por regiões turísticas e ainda a produção de um calendário de eventos e cooperação entre as câmaras municipais.
Outra estratégia que poderia potencializar a geração de renda e negócios nos feriados e finais de semana prolongados seria a organização de feiras e eventos culturais.
“Esses eventos são importantes para fomentar os gastos dos residentes e dos turistas. O valor do gasto do turista durante a viagem depende da variedade de produtos e serviços oferecidos no local da viagem, sendo assim, quanto mais produtos e serviços são oferecidos, maior será o potencial de gastos”, ajuntou o economista João Evangelista Monteiro.
Mas, para o técnico de administração, finanças e auditoria, Nelson Faria, sendo o público o sector que cobre maior parte da economia nacional, os feriados não deixam de ser impactantes no serviço público.
Entretanto, frisou que essas paragens podem ser vantajosas para o privado, particularmente em sectores ligados ao comércio e lazer que operam nesses períodos, como festas, eventos e turismo.
“Para o turismo, pode se tornar uma grande oportunidade, entretanto o turismo interno, estará sempre condicionado pela disponibilidade de transporte inter-ilhas, sendo que beneficiará as ilhas com maior previsibilidade e regularidade de transporte como São Vicente e Santo Antão”, analisou referindo que nos feriados “não se deixa de produzir no país, apenas o serviço público e alguns privados gozam de maiores pausas”.
Pelo que, acrescentou, “quem planeia tem de considerar estes fenómenos, quer no público quer no privado, orientando-se pelos objectivos da organização durante o ano, com pausas incluídas”.
“Não é necessariamente o número de dias de trabalho que dita a produtividade. A eficiência por ser alcançada com períodos de trabalho mais reduzidos, como no caso e verificaremos no final do ano se as metas organizacionais e nacionais foram conseguidas a nível do crescimento esperado. Portanto, não é linear fazer essa correlação apenas tendo como factor os dias de pausa de trabalho. Pode impactar, mas não pode ser o único determinante”, destacou, lembrando que as previsões de crescimento económico para este ano “são positivas mesmo com as condicionantes”.
Segundo Nelson Faria, se este ano calhou mais dias de descanso, há anos que calham menos e nem por isso significa também maior produtividade. Isto porque, lembrou, “a produtividade tem a ver com a eficiência e o tempo. Quanto menor for o tempo levado para obter o resultado pretendido, mais produtivo será o sistema”.