Porém, estas directrizes emitidas pela autarquia, organizadora do Festival Internacional de Música da Baía das Gatas, que este ano vai na sua 39ª edição, não foram empecilho para os comerciantes que, à reportagem da Inforpress, se mostraram expectantes com o retorno financeiro do investimento feito para os três dias do festival.
É o caso de Berta Fernandes, que faz parte dos 70 comerciantes que pediram licenciamento para venda. Estreante nestas lides de negócio, junto com o marido, adquiriu um quiosque de cerca de 20 metros quadrados para o comércio durante o festival.
Segundo a mesma, a ideia é obter algum lucro apesar de desembolsar cerca de 13 contos, seis dos quais pagos à Câmara de São Vicente e sete à Electra para a ligação de eletricidade, e de mais uma tranche maior de cerca de 20 mil escudos para a cobertura do quiosque.
“Estou confiante de que fiz um investimento para tentar tirar o lucro. Os produtos estão bastante caros, mas espero que consigamos alcançar os nossos objectivos”, declarou, tecendo elogios à iniciativa da câmara de melhorar a estética e ao mesmo tempo criticando o horário fixado para abastecimento.
“Acho que deveriam prolongar o horário para podermos repor os produtos em caso de faltar algum”, completou.
No rol dos estreantes está também a jovem Suasilene Freitas, que investiu pela primeira vez com expectativa de “vender, conquistar clientes” para no próximo ano voltar a montar o seu negócio no festival.
A mesma mostrou-se satisfeita com a organização e aspecto visual dos quiosques, mas defendeu que nos próximos festivais a Câmara de São Vicente deve disponibilizá-los já totalmente prontos para licenciamento.
“Ficaram com um visual muito melhor, mas espero que no próximo ano possamos comprá-los já prontos para não perdermos tempo à procura de materiais para fazer a cobertura e divisórias. Estive muito tempo à procura de materiais até que consegui alugar alguns para terminar os trabalhos de hoje e estar pronta para vender amanhã”, prognosticou Suasilene Freitas, que garantiu ter um bom stock de produtos.
Já Domingos Delgado e Cláudia Patrícia investiram numa banca este ano, como casal, para cumprir uma tradição familiar. Segundo Domingos quem tradicionalmente adquiria e chefiava o quiosque de venda na Baía das Gatas era a sua sogra, mas a mesma faleceu e este ano decidiu ir com a mulher, esta que aceitou para cumprir a tradição e honrar a memória da mãe.
“Costumava vir há uns 11 ou 12 anos com a minha mulher e a minha sogra e já temos uma pequena experiência. A vida está difícil, cada um procura a sua maneira de ter um ganha-pão e nós decidimos montar este negócio para ver como vai ser este ano. Mas, ter um bom movimento e lucro para poder cumprir com as nossas responsabilidades”, revelou Domingo Delgado.
Das normas, estabelecidas pela Câmara de São Vicente, Domingo Delgado criticou apenas a fixação do horário de reabastecimento dos espaços de venda, realçando que a autarquia deveria alargar o horário, tendo em conta que há muitas pessoas que não conseguirão ter todo o stock para venda porque a câmara entregou os espaços apenas a poucos dias dia festival.
De acordo com o vereador do pelouro de Património da Câmara Municipal de São Vicente, Rodrigo Martins, a fixação do horário para abastecimento dos quiosques é uma forma de disciplinar e organizar o decorrer do festival, mas haverá flexibilidade para que os comerciantes tenham sempre stock de produtos para venda.
A 39ª. edição do Festival Internacional de Música da Baía das Gatas, que este ano homenageia o falecido cantor Bana, tido como “O rei da morna”, arranca hoje, sexta-feira, 11, justamente com o tributo ao homenageado, proporcionado pela Banda Monte Cara e por nomes como Leonel Almeida Dany Silva e Jenifer Solidad.
Do alinhamento do primeiro dia constam ainda nomes de artistas e bandas como Zé Delgado & Friends, Josslyn, Nelson Freitas e, a fechar, Alborosie & Shengen Clan.
Sábado, 12, o palco abre, também às 21:00, com uma demonstração do Carnaval de São Vicente e as vozes de Edson Oliveira, Gai Dias, Constantino Cardoso e Anísio Rodrigues, seguindo-se a brasileira Paula Fernandes, Dynamo, Xamã e Deejay Télio.
O certame encerra no domingo, 13, com o desfile de artistas e bandas, a principiar às 18:30, sendo eles Ceuzany, Dino d´Santiago, Protoje, Plutonio, Yuran Beatz, Ary Beatz & Mc Acondize.
O Festival Internacional de Música da Baía das Gatas, que este ano celebra a 39ª edição, teve a primeira edição no dia 18 de Agosto de 1984.
É realizado anualmente na praia da Baía das Gatas, a oito quilómetros da cidade do Mindelo, e não se realizou ali apenas em 1995, devido a uma epidemia de cólera que assolou Cabo Verde, e nos anos 2020 e 2021, por causa da pandemia da covid-19, em que se concretizou o evento no formato online.
Anualmente, a Câmara Municipal de São Vicente, que organiza o certame, reserva uma verba no orçamento municipal para fazer face às despesas com a logística, viagens e cachê de artistas de Cabo Verde e do estrangeiro, mas “o grosso do montante” para suportar o evento, de acordo com a autarquia, provém de patrocínios de empresas e outras instituições.