Conhecido como Zé Rui Surfista de Santa Maria, o entrevistado da Agência Inforpress, por telefone a partir do Mindelo, disse que perdeu tudo e que a parte da ilha onde vivia, Lahaina, “o coração e centro turístico de Havai”, ficou reduzida a cinzas.
“Este furacão surpreendeu todo o mundo aqui, porque supostamente ia passar longe, mas na noite de segunda-feira, 07, afectou a ilha, ficamos sem energia eléctrica e debaixo de um vento extremamente forte”, contou Zé Rui.
No dia seguinte, terça-feira, 08, prosseguiu, o vento continuou ainda com mais força, dia e noite, derrubou postes de energia, as habitações incendiaram-se e o fogo alastrou-se por toda aquela parte da cidade de Lahaina.
“Foi uma surpresa, ninguém esperava passar por aquilo que estamos a viver neste momento”, lançou o surfista, que vive há ano e meio no Havai, para fazer a carreira de ‘water-man’, porque quer ser capitão de barco, como disse.
Zé Rui contou que no momento do incêndio, na terça-feira, 08, estava a caminho da casa de uns amigos, a 15 minutos da sua residência, depois de uma noite “mal dormida”, no meio de um vento forte, que derrubou árvores e postes de iluminação pública.
“Perdi a casa, armazém onde guardava os barcos e vários outros materiais de kitesurf, botes, casas dos meus amigos, tudo queimado, muitas mortes, uma tragédia”, declarou à Inforpress.
“Ainda estamos a viver o choque do que aconteceu, mas a perspectiva é aguentar porque tínhamos um bom trabalho, agora é esperar pelas ajudas do governo e seguir vida para a frente, porque o mais importante é que estamos com vida e saúde”, concretizou.
A imprensa internacional apontava para 93 mortes até domingo, 13, mas Zé Rui diz que o número vai aumentar “e muito”.
“De todas as formas, Havai é grande, com várias ilhas, eu vivo em Maui, e o que ficou destruído foi a parte da cidade de Lahaina, mas todo o mundo está a ajudar, a comunidade encontra-se unida a enviar alimentos e a fazer trabalho voluntário para ajudar”, considerou, com esperança.
“A mensagem que envio é viver o momento, sempre dar graças à Deus pelo pão de cada dia que temos porque de um momento para o outro tudo pode mudar na tua vida”, finalizou Zé Rui Surfista, na esperança de que “melhores dias virão” e que “o pior já passou”.
A imprensa internacional dava conta no domingo, 12, que as entidades oficiais do Havai preveem que, à medida que as buscas prosseguem nas zonas devastadas, mais vítimas vão ser encontradas.
Dois dos três incêndios de Maui ainda estão ativos, segundo o último balanço feito pelo condado, que até agora apenas conseguiu verificar a identidade de duas das 93 vítimas confirmadas.
A polícia local sublinhou que o processo será moroso, uma vez que é necessária uma verificação genética ou dentária.
O governador do Havai, Josh Green, referiu que os incêndios são já a “maior catástrofe natural que o Havai alguma vez viveu”, segundo a CNN, ultrapassando as 61 mortes confirmadas na sequência de um tsunami em 1960.
Antes de o Havai se tornar um estado, em 1959, um tsunami em 1946 matou 158 pessoas.
O governador também estimou as perdas materiais em cerca de 6 mil milhões de dólares (cerca de 5,5 mil milhões de euros).
“Se olharmos para o que se viu agora em West Maui, 2.200 estruturas foram destruídas ou danificadas, 86% são residenciais”, frisou Green.
De acordo com as autoridades locais, mais de 14.000 pessoas foram retiradas na quarta-feira da ilha de Maui, enquanto cerca de 14.500 foram deslocadas para outras ilhas próximas na sexta-feira.
O presidente da Câmara de Lahaina, Richard Bissen, disse que 80% da antiga capital do arquipélago, e uma das zonas turísticas mais populares do Havai, foi completamente destruída pelas chamas originadas pelo furacão Dora.
Estes incêndios são os mais mortíferos nos EUA em mais de 100 anos, superando o de Camp Fire, no estado da Califórnia, que causou 85 mortos e reduziu a cinzas a cidade de Paradise.