São Francisco: Reciclagem de garrafas de plástico e vidro une comunidade e sensibiliza população na protecção do ambiente

PorExpresso das Ilhas, Inforpress,14 set 2023 14:17

A comunidade de São Francisco está sensibilizada com a protecção ambiental, muito pela força do projecto “Ekonatura” que transforma garrafas de vidro e de plástico em matérias-primas para a construção civil e produtos de embelezamento.

Para esta pequena localidade, situada a 10 minutos da cidade da Praia, a leste da capital, com pouco mais de mil habitantes (censo 2010), pequenas acções, como a recolha de garrafas de vidro e de plástico, têm um significado especial, pois não só evitam que estes resíduos sólidos sejam transportados para aterros sanitários, assim como faz com que estes “lixos” tenham impacto nas suas gentes e comunidades.

A Ekonatura, segundo o seu administrador João Ferreira, nasceu em 2019 no âmbito de uma parceria com a Universidade de Cabo Verde (UNI-CV), a Eco-CV, Raiz Azul e a Associação Comunitária de São Francisco, da qual é presidente, e visa reduzir o impacto ambiental causado pelos resíduos sólidos urbanos, particularmente plástico.

Aos plásticos e vidros descartados são dados um novo destino e uma nova imagem ambiental à terra de Codé di Dona, o mítico tocador de gaita, referenciado como o “Pai do Funaná”.

O plástico é transformado em produtos de enfeites e embelezamentos como chaveiros, caneteiros, porta-copos, de entre outros, já que a associação já conta com uma máquina com moldes adaptados, e o vidro é transformado em areia, visando a construção de materiais de construção civil como blocos, pavês, lancis e contra lancis, assoalhados e vasos de plantas.

A recolha, segundo explicou, este professor licenciado em matemática, é feita voluntariamente na comunidade, sobretudo junto dos estabelecimentos comerciais, como pequenas mercearias, bares e restaurantes, já que estes resíduos eram, outrora, abundantes por toda a localidade, para além dos resíduos provenientes da Cidade da Praia através de pessoas singulares.

Afora isto, a Ekonatura recebe ainda uma grande quantidade de garrafas e plásticos que já se encontram fora da circulação da Cavibel, empresa responsável pelo engarrafamento das bebidas com a marca Coca-Cola e, da Água Trindade, esta última, uma indústria especializada na produção de águas engarrafadas, com custos de transportes suportados pelas próprias empresas.

“Pontualmente fazemos limpezas na comunidade. As pessoas já estão a começar a fazer a separação na recolha e entrega dos plásticos e garrafas de vidro. Paulatinamente estamos a moldar a comunidade para que possam colaborar na melhoria do meio ambiente”, explicitou.

Iniciativa aprovada por Nélia Lopes, proprietária de um pequeno estabelecimento na redondeza, para quem, doravante “a zona está mais verde, mais limpa e mais aprazível”, alegando que contrariamente a outros tempos, hoje em dia a população deixou de deitar vidros, plásticos e outros resíduos no solo, preocupando-se com a preservação ambiental de São Francisco.

“Hoje as garrafas e plásticos estão sendo seleccionados e canalizados ao Centro Comunitário para a sua transformação em produtos de valor económico”, explicou.

Uma forma encontrada para, ainda que de forma limitada, fornecer o sustento a um grupo de oito pessoas, dos quais cinco senhoras e três homens que, diariamente, ganham o dia-a-dia mediante uma gratificação, numa zona árida onde, ainda assim, os habitantes vivem, tradicionalmente, da agricultura e da criação de gado (caprino, bovino, ovino e suíno).

João Ferreira já perdeu a conta das garrafas recolhidas e transformadas desde o arranque do projecto até ao momento, mas garante que neste período a Ekonatura já fabricou 100 toneladas de areia de vidro, “muita quantidade de garrafas” e que os residentes começaram a ter uma outra visão sobre a preservação do ambiente e da natureza.

“Para se ter um saco de areia, à volta de 80 quilogramas, são em média 20 grades destas vasilhas, à semelhança dos blocos confeccionados com areias mecânicas, mas o projecto depara-se com dificuldades para colocar os seus produtos no mercado, muito pelo custo mais elevado em relação aos blocos tradicionais”, observou.

Ferreira lamentou, por outro lado, um certo desconhecimento da sociedade para com os produtos ali produzidos, alegando que ainda tem a tendência para trabalhar com os produtos tradicionais, considerados “comuns, ainda que o projecto consegue tirar da natureza uma grande quantidade de lixo, ao mesmo tempo que as pessoas dedicam os seus tempos livres num trabalho muito nobre”.

Sublinhou, entretanto, que pouco-a-pouco a Ekonatura está a ganhar terreno, exemplificando com a edificação do primeiro Passeio Sustentável da Cidade da Praia, construído na Praia Negra, com pavês e lancis confeccionados com areias de vidro, nas imediações de empresa produtora de refrigerantes, Cavibel, num projecto avaliado em cinco milhões de escudos.

Orgulham-se ainda de terem colaborado na construção de uma quinta totalmente construída com 380 mil garrafas de vidros, em Agostinho Alves, uma localidade fronteiriça, sendo que os voluntários do centro já se mostram “totalmente conectados com a preservação ambiental”.

Os desafios para os próximos tempos são imensos já que o projecto Ekonatura almeja dotar a fábrica de mais maquinaria, mas tem-se deparado com dificuldades de financiamentos junto da banca, para poderem expandir o negócio, mas promete continuar a luta por entender que este projecto tem asas para ser aplicado e rentabilizado, igualmente, em outros pontos do País.

Entretanto, realçou que os pedidos de parceria solicitados às empresas e instituições têm-se resultado infrutíferos, já que estas alegam pouca margem de manobra dado “ao sufoco financeiro”, ressalvando que do Governo e autarquias já há um trabalho de sensibilização, mas que “de concreto ainda não há nada”.

O projecto Ekonatura, goza de parceria com as organizações especializadas em meio ambiente como a Biodiversidade, uma outra similar brasileira, realiza trabalhos de sensibilização junto dos estabelecimentos escolares, do básico ao universitário, como forma de fazer passar uma mensagem de valor educativo.

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Autoria:Expresso das Ilhas, Inforpress,14 set 2023 14:17

Editado porAndre Amaral  em  15 set 2023 9:39

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