O sector segurador e a “posição única” no debate climático

Protecção de bens e pessoas encontra novos desafios perante aumento de fenómenos meteorológicos extremos.

As alterações climáticas são um tema crítico no negócio segurador, do qual se fala pouco. Especialistas em seguros defendem que o sector segurador tem um papel central na discussão em curso, até porque tudo o que está relacionado com protecção de bens físicos pode deixar de ser viável se não se controlarem e mitigarem os efeitos das mudanças nos padrões do clima.

Rui Esteves, director de estatística e estudos técnicos não-vida, e João Mestre, director de sustentabilidade, representaram uma das principais seguradoras portuguesas na COP28. Sem uma visão catastrofista, preferem uma perspectiva pragmática, real e abrangente.

“As seguradoras detêm uma posição única no debate sobre as alterações climáticas. Estão mais expostas aos riscos financeiros das alterações climáticas do que muitas outras instituições financeiras. Isso gera preocupações, mas o desafio é encontrar soluções equilibradas para proteger pessoas e empresas”, refere Rui Esteves.

O responsável comenta que tudo aquilo que está relacionado com o clima sempre foi uma preocupação dos seguros. Nas últimas décadas, a dimensão dos fenómenos climáticos capazes de impactar o negócio segurador aumentou, dando origem a novas preocupações.

“[Há mais] preocupações para as pessoas e para as empresas que estão expostas aos efeitos das alterações climáticas. Isso traduz-se automaticamente em preocupações para as seguradoras, porque têm de continuar a garantir protecção, mas num contexto que está em constante mutação. Há sempre muita incerteza sobre o que é que vai acontecer e o que é que não vai acontecer”, acrescenta.

Compreender os riscos é o primeiro passo para, em seguida, encontrar soluções equilibradas. João Mestre complementa esta ideia, sublinhando que “o negócio depende totalmente dos custos que advêm das alterações climáticas”.

“Se nós seguramos uma casa, uma fábrica, um carro e começam a ocorrer mais inundações, incêndios, tufões, dependendo da zona do mundo onde eles ocorram, naturalmente os nossos custos vão aumentar. Portanto, nós temos de pensar como é que garantimos que, por um lado, temos uma empresa rentável, porque ninguém quer ter um seguro em que depois a seguradora, quando há um sinistro, não paga e, por outro lado, como é que garantimos aquilo que se chama de transição justa. Ou seja, como é que eu garanto que as pessoas que precisam de ter seguros têm seguros que conseguem pagar”, realça.

O especialista defende a necessidade de explicar ao público a importância do tema e a necessidade de uma protecção para um evento extremo.

O impacto das alterações climáticas no negócio das seguradoras já é real. Nos Estados Unidos, por exemplo, o segmento de seguro residencial passa por dificuldades devido ao aumento de fenómenos climáticos particularmente intensos.

*com Nuno Andrade Ferreira

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1150 de 13 de Dezembro de 2023.

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Autoria:Fretson Rocha (Rádio Morabeza no Dubai),16 dez 2023 8:02

Editado porSara Almeida  em  18 dez 2023 9:34

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