A proposta foi apresentada pela comissária para a Agricultura, Desenvolvimento Rural, Economia Azul e Ambiente Sustentável, da Comissão da União Africana, Josefa Sacko, durante a sua intervenção na 3ª edição da Conferência Anual de Política Externa (CAPE24), que decorre na Cidade da Praia, de hoje a sexta-feira, 22, sobre o tema central “Mudanças Climáticas e os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento: Desafios e Perspectivas”.
Lembrou que os SIDS são os que menos contribuem para a crise climática, mas são eles que suportam o maior peso dos seus efeitos e que continuaram a ser ameaçados pela subida do nível do mar, pelos ciclones tropicais e extratropicais, pelo aumento da temperatura do ar, da superfície do mar e pela alteração dos padrões de precipitação.
Segundo a comissária, os dados disponíveis dão conta de que os efeitos das alterações climáticas na agricultura geram repercussões significativas e negativas noutros sectores, desde a indústria aos serviços e à exploração mineira.
Explicou que nos últimos 50 anos, os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento perderam cerca de 153 mil milhões de dólares devido aos riscos relacionados com o tempo, clima e a água, e sublinhou que estes efeitos podem ser invertidos através do aumento de investimentos de adaptação na agricultura.
“Por exemplo, é demonstrado que o aumento do investimento na conservação do solo e da água, de modo a atingir 40 a 90 por cento (%) das terras cultivadas ajudaria a evitar os impactos negativos das alterações climáticas nestes países”, precisou.
Neste sentido, defendeu que o acesso a um financiamento climático adequado será fundamental não só para ajudar os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento a recuperar as perdas, mas também para realizar todo o seu potencial.
Entretanto reconheceu que o financiamento climático para os SIDS continua a ser chocantemente baixo, sendo que em 2021 foram destinados apenas 2,0% do financiamento climático para os países insulares.
Apontou ainda que a frequência, a intensidade e a escala das catástrofes relacionadas com o clima tiveram um impacto negativo nos rácios da dívida em relação ao PIB nos SIDS, atrasando o seu progresso no desenvolvimento sustentável.
Para Josefa Sacko, é urgente que a comunidade internacional reforce o seu apoio técnico aos esforços dos SIDS para colmatar as lacunas nas infra-estruturas e construir economias mais diversificadas, sustentáveis e resilientes.
Na mesma linha apelou à comunidade global para que inicie rapidamente e intensifique as intervenções nesses países na elaboração de planos nacionais de adaptação, crescimento e desenvolvimento das microempresas e das pequenas e médias empresas, promoção do investimento directo estrangeiro, desenvolvimento da economia verde, incluindo o sector das energias renováveis.
Durante três dias, os conferencistas nacionais e internacionais vão debruçar-se sobre temas pertinentes como “O Índice Multidimensional de Vulnerabilidades (IMV) de Cabo Verde enquanto SIDS: Alinhamento nos mecanismos multilaterais da S.A.M.O.A. Pathway e novos meios de mobilização de recursos” e “Cabo Verde e a geopolítica dos oceanos: Construção de uma Agenda de Desenvolvimento Ancorada na Potencialização e Geração de Riquezas Internas”.