“Estamos com um projeto de expansão a duplicar a capacidade de produção, um investimento de cerca de 60 milhões de euros, que passará a representar cerca de 30% da eletricidade consumida no país”, referiu Bruno Lopes, num dos painéis do Fórum de Investimentos na África Lusófona.
O encontro arrancou na quinta-feira e continua hoje, na ilha do Sal, Cabo Verde, organizado pela Sociedade Financeira Internacional (IFC, sigla inglesa), braço do Banco Mundial para o setor privado.
A Cabeólica é uma parceria público-privada que tem como objetivo suportar a transição energética no país (que tem como meta 50% de fontes renováveis até 2030) e que tem o Banco Europeu de Investimentos (BEI), o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e o IFC como parceiros com uma perspetiva de crescimento.
“Há espaço para mais empresas, já existem outros ‘players’ [intervenientes] e certamente virão outros para o setor”, referiu o CEO da Cabeólica, que considera haver uma evolução positiva para investir nesta área: “os desafios já foram maiores”.
“Há uma evolução clara de legislação”, há regulamentação e a estabilidade tem contribuído para a criação de um histórico desde que o projeto arrancou, há 15 anos, contribuindo desde então para a constituição de conhecimento local.
A Cabeólica trabalha a 100% com técnicos e gestores cabo-verdianos e há uma política proativa ao nível dos subcontratados, por exemplo nas baterias.
Foi criado um grupo de técnicos que, nos últimos 13 anos, receberam certificação e, além do arquipélago, “trabalham noutras paragens”, no continente africano e na Europa, referiu, considerando relevante o contributo para a qualificação.
Às portas da expansão do parque eólico, Bruno Lopes antecipa a interconexão entre ilhas como um dos próximos desafios, no que respeita à área técnica.
Além da Cabeólica, outros investimentos no setor renovável incluem a construção de uma central de bombagem hídrica na ilha de Santiago, com apoio da União Europeia (UE), para encher uma barragem com recurso a energia produzida pelo vento fora das horas de consumo, permitindo descarregá-la e ativar geradores quando a energia é necessária.
O setor energético vai voltar a estar em foco, em breve, graças à Associação Lusófona de Energias Renováveis (ALER) que vai promover um encontro, a 26 de março, em São Tomé e Príncipe, antes da segunda conferência de energia da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), nos dias 27 e 29 de maio, em Cascais, à margem do encontro de ministros da energia da CPLP.
A evolução exige mobilização dos setores público e privado: “temos de ter árbitro e jogadores em campo, estamos a tentar juntar estas partes”, referiu Isabel Cancela de Abreu, diretora executiva da ALER, no mesmo painel do Fórum de Investimentos na África Lusófona.
Por um lado, está na mira o acesso universal à eletricidade até 2030 – com a média dos países lusófonos ainda a representar um desafio – e a necessidade de “construir e afirmar o espaço da lusofonia” a par de uma “concertação em bloco” para participar em eventos como a Conferência das Partes (COP), reunião anual da ONU dedicada às mudanças climáticas.
O acordo de troca de dívida por financiamento climático, entre Cabo Verde e Portugal, e a emissão de títulos verdes para suportar investimentos de transição energética, também no arquipélago, foram dois dos exemplos apontados pela ALER como formas de agregar parcerias.