Em entrevista à Rádio Morabeza, Josefa Sousa explica que ao resgatar técnicas transmitidas por gerações antigas, as comunidades reforçam a sua resiliência perante secas prolongadas e eventos extremos.
“Tenho uma relação de troca com o meu terreno, não tiro nada do que não necessito, e em tudo aquilo que levo eu trago os restos para servir como fertilizante, como a borra do café, as cascas,etc. É uma troca que deixa o meu terreno cada vez mais rico e produz mais, mesmo com quase nada de chuva. Consigo tirar duas colheitas num ano e com bom rendimento. Na prática agrícola, não estamos a inventar nada, os nossos avós já praticavam este conhecimento. Estamos a aprimorar e valorizar o saber fazer ancestral, para melhorar a nossa produção”, afirma.
Ao recuperar práticas como a combinação de culturas adaptadas ao solo e as rotações tradicionais que preservam a fertilidade natural e ao utilizar técnicas para conservar a humidade do solo por mais tempo, os agricultores asseguram maiores rendimentos mesmo em épocas de pouca chuva.
Josefa Sousa sublinha a importância de uma mudança de mentalidade para garantir que os solos permaneçam vivos para as próximas gerações.
“Muitos realmente não o praticam, mas eu faço a associação. Por exemplo, as pessoas vêm me pedir couves e outras coisas, mas eu não rego as minhas couves, isso quer dizer que as outras pessoas poderiam produzir também, mesmo sem água. O que mostro é que se durante as secas eu posso ter couve e outros produtos, os outros também podem ter. Estamos a ver que estamos a conseguir mudar as coisas, a cabeça das pessoas, e os próprios agricultores também estão a ver resultados”, assegura.
No âmbito do projecto "Sistemas Agroflorestais: Agroecologia e Biodiversidade em Santo Antão" foram instalados campos experimentais nos planaltos Leste e Norte, assim como em Casa de Meio, onde têm sido testadas boas práticas agrícolas.
João Lima, agricultor e membro da associação de agricultores de Casa de Meio, destaca os impactos da abordagem, que deixou de se focar exclusivamente na colheita, para promover sustentabilidade e segurança alimentar.
“Temos vindo a trabalhar com os agricultores, crianças nas escolas, jovens universitários para lhes mostrar as técnicas agro-ecológicas que temos vindo a implementar nos campos experimentais, e com os agricultores trazendo-os para junto de nós para implementarem estas técnicas, mostrando os pontos positivos e benefícios a longo prazo, mesmo que são vantagens que se notam ao longo do tempo, mas terás maior rentabilidade no futuro porque na agroecologia, além da colheita, cria as condições para aumentar a fertilidade do teu terreno, sem utilização de produtos químicos”, nota.
O jovem agricultor destaca que associar o conhecimento local com inovações, como sistemas gota-a-gota alimentados por energia solar permite às comunidades enfrentar a escassez hídrica, proteger ecossistemas e construir um futuro agrícola mais sustentável e resiliente.