José Luís Santos: «Na Boa Vista puseram a carroça à frente dos bois»

PorJorge Montezinho,5 fev 2017 6:00

José Luís Santos, presidente da câmara, diz que se fartou de avisar quando ainda era deputado: a ilha não foi preparada para a explosão turística da última década. Agora, é preciso fazer muito num curto espaço de tempo, mas o autarca acredita que o momento das decisões já chegou.

A grande conclusão a que chegamos é que o turismo cresceu, mas não foi acompanhado por políticas eficazes.

Isto é evidente e pode-se constatar a olho nu. O turismo desenvolveu-se, cresceu, mas a ilha não foi preparada esse boom turístico e não se estão a tomar medidas para acompanhar este desenvolvimento. E é por isso que temos um conjunto de problemas, o surgimento de bairros degradados, temos o problema do bairro da Boa Esperança, conhecido por todos, e temos em forja o surgimento de mais dois bairros degradados na Boa Vista. Precisamente porque nesta ilha tem-se posto a carroça à frente dos bois. Enquanto deputado, há muitos anos que tinha chamado a atenção da necessidade de cuidar desta ilha, da necessidade sobretudo a alguns níveis como a segurança, infra-estruturação e falo de água, de saneamento, de habitação, de se tomarem medidas, sobretudo porque ainda estamos a tempo de evitar males maiores. Efectivamente, esta ilha não tem sido tratada como devia ser para acompanhar o desenvolvimento do turismo.

 

De qualquer maneira, as acções são muitas e o tempo é curto.

É verdade. Temos a plena consciência das nossas limitações, aliás em muitas áreas a competência não é totalmente da câmara municipal, mas estamos a trabalhar em parceria com o governo, que se tem mostrado muito disponível, no sentido de arrepiarmos caminho e vermos se ainda vamos a tempo de evitar algumas situações complicadas que têm acontecido na Boa Vista. Temos a questão da habitação, e estamos já a trabalhar com o governo e com outros parceiros – ainda há dias esteve aqui o senhor director regional da ONUHABITAT para sensibilizá-los a um djunta mon com o governo, a autarquia, a sociedade, para ver se a gente consegue trabalhar para criar as condições para reverter a situação actual que é muito má para a Boa Vista. Temos aqui um défice habitacional muito grande, temos gente a dar uma contribuição enorme para esta ilha e a viver em condições infra-humanas, imagine as pessoas trabalham durante todo o dia em hotéis de luxo e depois voltam a habitar nas tocas, isso não pode continuar. Temos o grande desafio da requalificação, felizmente já começamos a dar passos muito importantes e decisivos, sobretudo na cidade de Sal Rei, que é a sala de visita desta ilha, e estamos já a trabalhar, tendo ate um calendário de lançamento de um conjunto de obras para que possamos ter uma cidade arrumada, agradável, de que nos podemos orgulhar. Mas temos o desafio também da requalificação do bairro da Boa Esperança que é, como tenho dito, o pulmão da Boa Vista. Nós temos uma gratidão muito grande por este bairro porque a maior parte da população operária da Boa Vista reside neste bairro, por isso temos essa gratidão muito grande, e por isso temos de lhe levar qualidade de vida, levar água, levar saneamento, levar energia, levar arruamentos, para que possamos deixar ainda neste mandato uma marca importante. Estamos já a trabalhar também na requalificação das zonas litorais, da zona da praia Cabral, cujo projecto será apresentado muito brevemente, já temos um calendário das sucessivas fases até à adjudicação da obra, mas esses trabalhos estão também inseridos nas obras de requalificação da praia Diante e do Estoril, para criarmos também espaços de lazer e diversão para a população e para todos quantos visitam a Boa Vista. Mas estamos também muito preocupados com a formação profissional. É uma ilha que vai ter nos próximos anos grandes investimentos e queremos ter aqui escolas de formação profissional para que os nossos jovens possam formar-se e transformar-se em mão-de-obra qualificada para os hotéis e para todo o desenvolvimento que a ilha vai precisar nos próximos anos.

 

E qual será a solução?

Enquanto não temos a escola de formação teremos pólos de formação profissional. Já estamos em negociação com uma escola da Praia, que vai aqui estabelecer um pólo, porque enquanto não podemos cumprir o nosso sonho temos de ter soluções temporárias, porque temos aqui um fenómeno que não nos agrada: os jovens da Boa Vista não conseguem aceder aos melhores postos de trabalho que surgem na ilha precisamente porque não têm acesso à formação. Os jovens que vêm das outras ilhas, onde têm formação profissional, têm acedido em condições muito vantajosas aos nichos de mercado que têm surgido.

 

Ou seja, os investimentos quase não têm reflexo junto dos jovens da Boa Vista.

Exactamente. Ou seja, a população da Boa Vista tem andado à margem do desenvolvimento turístico na ilha. São basicamente essas questões que nos preocupam, mas queria referir-me também ao saneamento. Esta é uma questão muito cara a esta ilha. Qualquer hotel, por mais pequeno, produz muito mais lixo do que toda a população da Boa Vista e todo esse lixo é vazado a céu aberto. Temos uma lixeira municipal gigantesca, com toda a espécie de lixo e que constitui um problema ambiental, um problema de saúde pública, e nós estamos, juntamente com o governo, a procurar uma solução para o problema. A resolução deste problema através de um aterro sanitário não é a melhor forma, do nosso ponto de vista. Temos de evoluir para outras soluções mais sustentáveis, mais amigas do ambiente, para que possamos resolver o problema dos resíduos sólidos. Temos reunido com vários parceiros, estamos a analisar propostas, cabe ao ministério do ambiente a decisão final, mas estamos a preparar-nos para influenciar o governo na tomada de melhores soluções.

 

E qual é a solução preferida pela câmara municipal?

Ainda não temos uma posição. Temos tido várias propostas, ainda há pouco fomos convidados para ir a Paris para participarmos na apresentação de um sistema de tratamento de lixo a combustão, segundo os promotores mais amigo do ambiente e com a possibilidade de usar os resíduos produzidos pela combustão na energia. Portanto, estamos a analisar todas as possibilidades e logo que possível tomaremos uma posição.

 

Disse na Mesa Redonda que era o momento da acção e que chegava de palavras. Acredita que será assim?

Acreditamos que pode dar uma contribuição importante para passarmos à acção. Eu disse isso porque têm-se feito vários fóruns na Boa Vista, lembro-me de há uns anos a câmara da Boa Vista ter promovido um fórum semelhante, de pensar a Boa Vista e algumas das conclusões saídas desse mesmo fórum não passaram do papel. Estamos aqui a discutir precisamente questões que discutimos nessa altura, estamos a chegar a conclusões a que chegamos nessa altura, portanto espero que este fórum, a que demos o nome de mesa redonda para que todos estivessem posicionados ao mesmo nível, seja também para diagnosticar os pontos fracos, mas que sirva também para se tomar decisões, para cada parceiro assumir responsabilidades e engajar-se fortemente na solução desses mesmos problemas. Temos muitas expectativas que este pode ser o fórum das decisões.

Texto originalmente publicado na edição impressa do  nº 792 de 01 de Fevereiro de 2017.

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Autoria:Jorge Montezinho,5 fev 2017 6:00

Editado porAndré Amaral  em  6 fev 2017 9:31

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