Olavo Correia: Continuar política económica do PAICV era “estratégia suicida”

PorAndré Amaral,25 nov 2017 6:04

Antes de o Orçamento do Estado ser apresentado e votado na Assembleia Nacional o ministro das Finanças, Olavo Correia, diz nesta entrevista que o governo confia que este é um “Orçamento para resolver alguns dos problemas estruturais com que o país se confronta neste momento” e que quer um sector privado cada vez mais forte e menos dependente do Estado. Ainda assim, avisa, é preciso encontrar “os incentivos correctos para empoderar o sector privado cabo-verdiano”.

 

Que Orçamento do Estado temos para 2018?

Este é um Orçamento para servir Cabo Verde. Um Orçamento para resolver alguns dos problemas estruturais com que o país se confronta neste momento. Queremos promover o crescimento económico, criando soluções efectivas para o acesso ao financiamento por parte das pequenas, médias e também das grandes empresas, resolvendo o problema dos transportes sejam eles aéreos ou marítimos, investindo de forma séria e decidida na segurança, continuando o programa de investimento na segurança jurídica e segurança interna. Mas vamos também apostar num programa de descentralização investindo na requalificação urbana e reforçando os meios dos municípios para que, eles próprios, possam intervir na melhoria da qualidade de vida dos cabo-verdianos e aproveitando as oportunidades que existem nas mais diversas localidades do país. Obviamente que o país se confronta hoje com desafios estruturais, desde logo ao nível do endividamento público, mas também ao nível da resiliência ao nível ambiental, estamos a ser afectados por uma crise de seca que afecta grande parte da produção nacional, e o Orçamento do Estado tem, também, de fazer face a este desafio. E temos de apostar num aspecto que me parece essencial: a melhoria do ambiente de negócios e a criação de um quadro, de um ecossistema, para a promoção empresarial e para um incentivo à promoção das empresas cabo-verdianas quer do lado fiscal, quer do lado do financiamento quer do lado legal mas também na criação de instrumentos que possam permitir o reforço do sector privado cabo-verdiano. Isto para além de continuarmos a criar as condições para a atracção de investimento directo estrangeiro. Temos investimentos sérios na área da inclusão social como o rendimento social de inclusão, mas especialmente no sector da educação desde o pré-escolar ao ensino superior porque é aí que está a chave do nosso futuro. O governo quer continuar a investir de forma séria na educação para que possamos ter uma educação de qualidade e possamos ter jovens do mundo no mundo. Jovens letrados digitalmente que dominam a ciência e a tecnologia e que estejam em condições de competir à escala global. Temos também a reforma do Estado, particularmente a reforma da Administração Pública, o aprofundamento da descentralização. Temos, então, um Orçamento que intervém na economia, que intervém na área social e que intervém também nas reformas estruturais, particularmente ao nível da reestruturação das empresas públicas nos mais diversos ecossistemas que são críticos para a criação de um ambiente favorável à competitividade e à melhoria do ambiente de negócios.

 

Quais são as grandes diferenças relativamente ao Orçamento do Estado anterior? O que é que muda?

Muda muita coisa. O futuro não pode ser o enterro do passado. Não há um amanhã sem o hoje. E nós temos sempre um ponto de partida. E o ponto de partida que recebemos em 2016 era muito complexo com um défice de funcionamento da administração pública, empresas públicas, em áreas estruturais, em situação de falência técnica, um país altamente endividado, com dívidas contingenciais exorbitantes e tínhamos um país com um sector privado enfraquecido, com fraca capacidade de acesso ao financiamento mas, também, de produção e inovação. Em 2016 o contexto era difícil e que importa ser alterado. Mas a alteração não pode ser feita com base numa varinha mágica. Esse é um processo que tem de ser construído e o governo tem aqui uma responsabilidade acrescida porque o governo tem de liderar, tem de construir uma visão envolvente, englobar todos os parceiros e liderar para que possamos ter uma economia diferente. O Orçamento deste ano é diferente porque, para além de continuar a procurar soluções para o ponto de partida que nós recebemos, tem um conjunto de soluções estruturadas para as questões críticas da nossa economia: o financiamento, os transportes, a segurança, a inclusão social, a educação mas também para a descentralização. Há aqui ideias claras que não têm a ver com a continuidade daquilo que recebemos em 2016 mas que tem a ver com a concretização do nosso programa de governação.

 

É um Orçamento que diminui a dependência dos privados em relação ao Estado?

O sector privado ainda precisa do incentivo do Estado. Não será possível termos um crescimento económico inclusivo em Cabo Verde só suportado pelo investimento directo estrangeiro. Isso é uma ilusão. Nós temos de encontrar os instrumentos correctos, os incentivos correctos para empoderar o sector privado cabo-verdiano. Temos iniciativas de empresários e pensamos que com instrumentos efectivos podemos melhorar o ecossistema para que as empresas possam inovar, possam produzir, possam gerar empregos e criar rendimentos. Porque quem faz a diferença são as empresas e as empresas precisam de um ecossistema e cabe ao estado criar esse ecossistema de promoção empresarial, de financiamento, de transportes, de internacionalização. O Estado, criando esse ecossistema, estou em crer que as empresas poderão operar de forma mais eficiente. Eu penso que há aqui uma parceria efectiva que tem de ser estabelecida entre o Estado e o sector privado para que a economia possa crescer à taxa de 7% que propusemos. Essa é uma responsabilidade que tem de ser assumida a todos os níveis, porque as empresas existem para criar valor e para o fazerem elas têm de ser bem geridas, de forma transparente respeitando todo o enquadramento em matéria de accountability mas focadas, também, no mercado para que sejam eficientes para que possam competir à escala da ilha, do país, à escala regional e global. No quadro dessa parceria temos de encontrar um ecossistema para permitir que as empresas possam expandir o negócio para que possamos ter novas empresas no mercado e acelerar o crescimento da economia nacional. Eu estou certo em como Cabo Verde tem condições nos mais diversos domínios para atrair investimento directo estrangeiro, mas também para que o sector privado nacional possa conquistar uma fatia importante do mercado. E nós estamos a tomar medidas nessa matéria para unificar o mercado e também para criar condições para as nossas empresas, aquelas que tiverem dimensão, poderem aceder ao mercado de capitais internacional para poderem aceder ao financiamento e poderem desenvolver projectos estruturantes para a economia cabo-verdiana.

 

Há dias dizia que é preciso mudar o panorama da administração das empresas públicas. Transportando isso para o sector privado, já não se justificava que os empresários nacionais encarassem esta parceria com o Estado de forma diferente? Porque a sensação que há é que se está sempre à espera de algum dinheiro do Estado para se avançar com os projectos.

Isso não existe, nem existirá connosco. O que nós vamos colocar à disposição do sector privado são incentivos. E isso é uma coisa diferente de apoios. Os incentivos devem ser os correctos, porque as falhas de mercado que existem não devem ser corrigidas por falhas ao nível do Estado, porque isto seria amplificar o problema e transportá-lo para o futuro, seria uma enorme irresponsabilidade. Aquilo que foi feito com as empresas públicas nos últimos anos demonstra como não se deve seguir esse caminho. E o que são incentivos correctos no nosso entender? O Estado pode incentivar as empresas no sentido de poderem expandir o seu negócio. Expansão do negócio tendo como contrapartida maior volume de negócios para o conjunto da economia, mais empregos e mais rendimentos. Neste caso seria um investimento em que os empresários ganhariam, mas também o Estado e os contribuintes ganhariam. Mas isso tem de ser num quadro de compromisso, como é evidente, mas sempre num quadro em que os projectos são avaliados por quem sabe gerir o risco. Não haverá, em nenhum caso, uma avaliação política do risco do negócio. O Estado vai intervir de forma supletiva, na área financeira, com o sistema bancário. Nenhum projecto sem condições de ser financiado pelo sector bancário terá o apoio do governo. E nenhuma empresa que esteja em situação de incumprimento poderá ter acesso aos incentivos do Estado. Tudo aquilo que iremos fazer será num quadro de transparência, de partilha de responsabilidades e intervindo para incentivar a empresa para melhorar o ecossistema para que a empresa possa expandir o negócio e todos possam ganhar. E isso não pode ser através de um sistema que crie uma dependência acrescida do sector privado em relação ao Estado. Tanto mais que o estado não está em condições de seguir uma política desta natureza.

 

Para além de incentivos fiscais, os empresários nacionais pretendem ter melhores transportes, taxas portuárias mais baixas e melhor acesso ao mercado hoteleiro/turístico. O que pretende o governo fazer para dar resposta a estas solicitações?

Efectivamente, a questão dos transportes é estrutural para o país, sendo uma das prioridades para o OE 2018. Não se trata apenas de dar resposta à unificação do mercado cabo-verdiano, garantindo a regularidade dos transportes marítimos interilhas, bem como dos aéreos, mas também consolidando de forma sustentável a ligação de Cabo Verde ao mundo. Quanto ao transporte marítimo, o Governo tem muitas opções sobre a mesa, mas garantirá uma solução efectiva para o próximo ano. Caso os empresários nacionais demostrarem capacidade e vontade para garantir os transportes marítimos inter-ilhas, o Governo promoverá os incentivos necessários para o efeito. Igualmente, para os transportes aéreos, medidas estruturantes estão a ser adoptadas. Como anunciado, uma solução já se encontra em curso e, em 2018 estar-se-á a concluir o processo de privatização dos TACV, garantido regularidade e, concomitantemente, promovendo uma política do transporte aéreo Low Cost e fomentando o negócio do transporte aéreo de carga. Claramente que estas soluções promoverão uma maior dinamização das ilhas e de Cabo Verde, como um todo, não apenas ao nível de acesso ao mercado hoteleiro/turístico, mas também ao nível de redução dos custos de contexto e alargamento para outros mercados, beneficiando directamente os empresários nacionais e o desenvolvimento local.

 

Um dos grandes investimentos deste Orçamento do estado é a Educação. Porquê esta aposta?

Nós vivemos, hoje, problemas conjunturais vários. O endividamento empresas públicas falidas, divida do Estado fora do perímetro do stock do endividamento, problemas ao nível da administração pública, estamos confrontados com uma situação de seca que afecta grande parte da população do país, cerca de 170 mil pessoas. Mas isso são problemas conjunturais. Os problemas estruturais e de futuro têm a ver com a educação. Porque o ambiente de negócios, as empresas, as associações que fazem a diferença do ponto de vista do desenvolvimento, é constituído por pessoas. Se não formos capazes de edificar um sistema de ensino de qualidade que possa formar e capacitar jovens capazes de competir à escala global, jovens que saibam comunicar, jovens que dominam a ciência e a tecnologia, que professam os valores da meritocracia, do trabalho e do esforço, jovens que procuram, a cada momento, atingir o limite do seu potencial, não conseguiremos ter empresas e instituições qualificadas e não conseguiremos ter um Estado capaz de ter uma visão estratégica de implementar uma acção para o futuro do país e o país não conseguirá competir à escala global. Se não investirmos hoje pagaremos muito caro, porque o mundo é cada vez mais competitivo.

 

Mas qual é o destino deste dinheiro?

Tem a ver com o funcionamento da administração, com a reforma do sistema de ensino que está em curso, com o investimento nas pessoas para que possamos ter um quadro motivado e altamente qualificado e vamos investir num programa chamado Cabo Verde Bolsa Global em que nós iremos colocar jovens cabo-verdianos nas melhores escolas e instituições do mundo para que possam ter redes e estar com o domínio daquilo que são as melhores práticas nas mais diversas áreas de negócio e desenvolvimento e tudo isso um investimento sério do governo e quanto mais cedo o fizermos melhor.

 

A infraestruturação também está prevista?

Também está, mas não é, nesta fase, muito relevante. Mas precisamos de uma rede de escolas de qualidade para que os nossos jovens possam estudar.

 

Em 2018 vamos ter uma diminuição do papel do Estado na economia nacional.

O que nós estamos a pretender fazer em 2018 é ter um investimento público selectivo. Cabo Verde não pode continuar a fazer o que fez nos últimos anos porque isso levou a um sobreendividamento do país sem o retorno correspondente para a economia cabo-verdiana. Fazer isso seria uma estratégia suicida. Temos de fazer investimentos selectivos, investimentos que sejam propiciadores de um clima de negócio e de qualidade e que seja, também, complementar ao investimento privado. Por isso é que nós estamos também a priorizar as ilhas turísticas – Boa Vista e Maio – em matéria de requalificação urbana. Estamos a investir forte num programa nacional de requalificação urbana para que possamos ter um meio ambiente e um meio envolvente que seja atractivo para que as pessoas possam permanecer nas suas localidades e possam desenvolver a sua vida empresarial e social na normalidade. Estamos a investir em matéria de água e saneamento, mas também na requalificação do nosso sistema educativo permitindo que ele atinja um nível de excelência. Estamos a trabalhar para criar as condições para os financiamentos dos portos do Maio e da Palmeira (Sal) decorrente de um financiamento que temos com o Banco Africano de Desenvolvimento, mas temos ainda projectos que estão em pipeline quer com o BAD quer com o Banco Mundial que só depois de negociados poderão ser inscritos no Orçamento do Estado. Mas pensamos que é precisa uma redução do nível global de investimento face ao que tínhamos constatado até 2016 que era um investimento público que colocaria Cabo Verde, em termos de dívida, numa situação incomportável. Isso tem de ser descontinuado, temos de continuar a investir, como é óbvio, mas de forma mais selectiva e criteriosa. Um investimento que seja portador de crescimento económico.

 

Esse investimento público acabou por tornar o Estado no principal empregador do país e criando uma administração pública pesada. Como eliminar esse excesso de peso?

Um dos desafios que o país tem está relacionado com a eficiência da administração pública. Cabo Verde viveu, nos últimos anos, um contexto de gestão da dívida pública e da reciclagem da boa vontade da comunidade internacional. Cabo Verde tem menos espaço para se endividar, a ajuda pública está a diminuir e a competição para os mercados internacionais é cada vez mais intensa. Nós temos de olhar para o sector privado cabo-verdiano, para as empresas e para os indivíduos e a administração pública tem de fazer essa mudança de chip que tem a ver com mais que servir o Estado de forma directa tem de o fazer de forma indirecta através do apoio, do incentivo às empresas, às instituições e aos indivíduos. Essa mudança de atitude é essencial para que possamos ter uma administração pública ao serviço do desenvolvimento. Claro que é fácil dizer mas, na prática, precisamos de uma mudança radical de atitude e do sistema para que possamos ter uma administração pública desenvolvimentista, uma administração ao serviço do desenvolvimento. É esta mudança que vai ser alterada e isso vai implicar uma redefinição da estrutura do Estado em relação àquilo que é o seu core business. O Estado tem de fazer, mas o Estado tem de ter pessoas qualificadas, pessoas com know how para fazer esse trabalho com excelência e tudo aquilo que o Estado não tenha de fazer directamente tem de usar uma lógica de descentralização para o poder local mas também de parceria público-privada. Portanto, esse esforço tem de ser feito. É uma mudança que tem de ser operada porque o quadro futuro exige que tenhamos uma administração pública mais pequena, bem remunerada e mais qualificada para prestar o serviço que o Estado tem desempenhado. O Estado tem um papel central, um papel liderante e grande parte dessa liderança passa pela administração pública interpretar aquilo que são os caminhos do desenvolvimento. Se não tivermos a administração ao serviço do desenvolvimento teremos uma dicotomia entre o discurso e a vontade política e aquilo que é o relacionamento entre as partes. No fundo, as empresas são entidades que gerem contractos, um bom gestor é um bom gestor de contractos e gerir esses contractos implica que haja confiança quer no sector privado quer no público. Não pode haver aqui uma relação de desconfiança. Os compromissos têm de ser cumpridos, os contractos respeitados, a lei tem de ser promovida até à última consequência e, se assim for, teremos um quadro de confiança absoluta e um ecossistema favorável à expansão das empresas. O contrário será impeditivo para o desenvolvimento das empresas, teremos aqui um sistema de crise em cadeia porque quando um não cumpre um contracto obriga a que outro também o faça e assim por diante e ficamos com um sistema que, no final, fica completamente bloqueado. Esse intangível confiança, para as empresas, é essencial e para o Estado também. E nesse relacionamento com as empresas queremos ter um quadro de confiança reforçado porque o objectivo é o mesmo, o país é o mesmo. Existem papéis diferentes mas que se complementam para que o todo possa funcionar em harmonia. Nós estamos convencidos que será possível atingir essa meta dos 7%. Na África subsaariana mais de dez países estão a crescer a 7%...

 

Mas são países com condições físicas e geográficas diferentes.

Todos os países são diferentes. O Ruanda não é igual ao Senegal e ambos crescem a 7%. Cada país tem as suas potencialidades. Cabo Verde é um país estável economicamente, não tem problemas graves de segurança, tem uma potencialidade enorme ao nível do turismo, da economia do mar, das pescas, das energias renováveis, do sector financeiro, mas também da agro-indústria. Cabo Verde tem uma diáspora enorme que lhe dá acesso não só ao capital mas também a uma rede internacional em quase todos os continentes. Cabo Verde tem atraído investimento directo estrangeiro. Por isso, estou convencido que se, e vamos fazê-lo, alterarmos o quadro do ecossistema do funcionamento das empresas teremos condições para crescer a 7% ou mais. Mas para lá chegar é preciso um trabalho sério da parte de todos, porque aqui o que importa não é a confirmação de que isto é difícil, porque todos sabem que isto é difícil. Se Cabo Verde crescer a 10% e as Maurícias a 4% nós só atingiremos o rendimento deles daqui a 20 anos. Seychelles mais de 25 anos e Singapura mais de 50 anos. Isso demonstra a necessidade que temos de aumentarmos a velocidade. Não podemos continuar a fazer mais do mesmo, nem podemos ter medo do que é novo, porque com medo não será possível atingir esses objectivos. O que está em causa aqui é uma ambição, porque nós não fixamos essa meta como sendo um totoloto, em que todos devem correr e trabalhar para lá chegarmos. Não é fácil mas temos todas as condições para lá chegar e nós temos a obrigação, enquanto Estado, de liderar esse processo com o evolvimento de todos os stakeholders e de todos os players. Cabo Verde já cresceu a esse nível, temos vários países no continente com condições similares ou até piores que nós que estão a crescer a esse nível, portanto não há razão para que Cabo Verde não atinja esse nível de desenvolvimento. Tudo dependerá daquilo que formos capazes de fazer enquanto Estado, enquanto sector privado, sociedade civil ou individuo. É uma ambição que deve orientar o nosso trabalho nos próximos anos e penso que vale a pena correr para lá chegar. A riqueza só pode ser criada pela via das empresas e não pela via do Estado. O Estado cria o ecossistema e as empresas criam valor, fazem a economia crescer, criam riqueza e criam empregos.

 

Há condições para um aumento salarial da administração pública em 2018?

Não está previsto por várias razões. Em primeiro lugar nós temos introduzido várias alterações na administração pública com progressões e reclassificações que estiveram congeladas ao longo de anos e isso tem provocado um aumento do salário médio da administração pública. Em segundo lugar porque a inflação em 2016 e 2017 será tendencialmente nula o que nos faz pensar que é essencial, do ponto de vista do aumento salarial, que sejamos contidos tendo em conta esses dois elementos que referi. Havendo espaço nos próximos anos e alterando-se o quadro macroeconómico poderemos, então, reavaliar. Mas estamos a prever uma redução em matéria fiscal de 1 ponto percentual no impostos para rendimentos até 80 mil escudos o que vai implicar um reajustamento das demais classes salariais no quadro daquilo que o governo vinha reafirmando em matéria de impostos para pessoas singulares. Quanto a pessoas colectivas, tendo em conta que o Estado irá fazer uma intervenção relativamente ao acesso ao financiamento, que irá implicar a assumpção de custos no Orçamento, pensamos que seria mais avisado avançar com este instrumento de apoio ao financiamento e, em função da dinâmica económica nos próximos anos podemos então procurar um alívio em matéria de tributação de pessoas colectivas.

 

Empresas e cidadãos queixam-se que o Estado é bom recebedor de IVA e IUR mas é mau pagador…

Isso vai acabar. O Estado tem de ser uma pessoa de bem. Até finais de 2017 regularizaremos todos os pagamentos do que respeita até 2014 e no próximo ano a questão ficara totalmente resolvida e, a partir daí, não haverá atrasos em relação a essa matéria. O Estado tem de dar o exemplo e cumprir para obrigar a que os outros cumpram. Havia um stock importante de valores a pagar e que não podia ser pago num único ano. O nosso compromisso, em 2018, ter todos os reembolsos completamente feitos e, a partir daí, entrar numa situação de normalidade.

 

Qual é a previsão de receita fiscal para 2018?

Nós temos mais de 40 milhões de contos. Mais ou menos 23% do PIB e estamos a equipar a administração pública para efectuar essa cobrança sem aumentar a taxa de incidência mas fazendo com que aqueles que, por uma razão ou outra, hoje não pagam impostos o possam passar a fazer. Este ano, no primeiro trimestre e em relação ao mesmo período do ano passado, tivemos um aumento de cerca de 10% na arrecadação fiscal.

 

Quanto à privatização dos TACV. Como está o processo?

A TACV é um processo difícil. Não é fácil reestruturar uma empresa que tinha um passivo de cerca de 100 milhões de euros, tinha excedente de pessoal, que quando falamos em indeminizações falamos num valor a rondar os 15 a 20 milhões de euros, ed estamos a falar de uma empresa que estava praticamente sem activos do ponto de vista de equipamentos e aviões. É um processo complexo e envolto em riscos mas estamos muito optimistas em relação aos passos que já demos. O mercado dos voos domésticos está controlado, têm havido pequenos problemas mas isso tem a ver com a fase de transição. Na parte internacional conseguimos trazer um parceiro estratégico que está a trabalhar connosco, temos um plano de negócio já estruturado, já iniciamos o processo da avaliação da empresa, temos vários investidores nacionais e internacionais que manifestaram interesse em estar no capital da empresa. Espero que dentro de dois meses o processo de avaliação da empresa esteja concluído. Temos um prazo para podermos fazer uma negociação directa, mas essa negociação so poderá ser feita um processo de avaliação objectivo e essa avaliação só poderá ser iniciada com a aprovação formal do plano de negócios pela entidade gestora da empresa. Portanto, estamos a avançar mas temos os desafios do passado. As dividas da empresa têm de ser pagas e isso vai fazer aumentar o stock da dívida pública e estamos a procurar uma solução para reduzir esse impacto. Temos o pessoal excedentário que tem de ser indemnizado. Mas eu quero chamar a atenção para o impacto global desta operação. Se o plano de negócio for concretizado, a TACV Internacional vai empregar tantas ou mais pessoas que aquelas que a TACV hoje emprega directa ou indirectamente. Portanto, em termos líquidos vamos ter criação de emprego e não destruição de emprego. Mas há esse desafio da afectação de pessoal que tem de ser feita numa logica objectiva, um conjunto de praticas que tem de ser descontinuadas para que possa ser uma empresa eficiente, mas o governo cumprirá com as suas obrigações indemnizando as pessoas que tiverem de sair da empresa.

 

A Icelandair é um parceiro que depois terá privilégios na privatização da empresa?

Nós temos um mandato para negociar directamente. A TACV é um caso particular. Obviamente que sendo um parceiro estratégico nós falaremos com a Icelandair em primeiro lugar. Por isso, havendo interesse da Icelandair em comprar acções da empresas é do interesse do Estado viabilizar esse negócio porque o mais importante é viabilizar o plano de negócio para a TACV Internacional fazendo do Sal um hub de transporte aéreo de passageiros e carga e trazendo outros negócios para a ilha. Há aqui um impacto sobre a economia que será essencial para o nosso futuro. É um risco que vale a pena ser corrido. O governo está a trabalhar para viabilizá-lo. Eu não posso deixar de admitir que ainda existem sérios desafios no processo, que o governo está a procurar encontra soluções, porque são desafios complexos quer do ponto de vista do valor mas também de se encontrarem soluções criativas para não bloquear o crescimento futuro do país. Mas o governo está confiante em como será possível viabilizar esta operação e tudo fará para que isso venha a acontecer porque será do interesse do apís fazer da ilha do Sal um hub.

 

Dizia há pouco eu já tiveram manifestações de interesse na compara da empresa. Pode dizer de onde chegaram essas manifestações? O Estado deixará de ser accionista da empresa?

A privatização será total, é isso que está na lei. O Estado não tem interesse em estar na gestão da empresa. Podemos ter empresas participadas do Estado a participar caso o negócio seja bom mas o Estado não tem interesse em fazer parte da estrutura accionista da empresa, a não ser que venha a ser necessário, mas esperamos que não venha a ser o caso. Temos manifestação de interesse de companhias aéreas, operadores turísticos, investidores do sector do turismo, instituições financeiras nacionais e internacionais que já manifestaram por escrito a vontade de olhar para a privatização da TACV após termos a avaliação. Logo que tenhamos essa avaliação concluída iniciaremos o processo de consulta e estou esperançado que venhamos a ter investidores com interesse em viabilizar esse negócio.

 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 834 de 22 de Novembro de 2017. 

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Autoria:André Amaral,25 nov 2017 6:04

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  24 nov 2017 10:00

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