No seu discurso, Ulisses Correia e Silva destacou a escolha do dia 25 de Abril para marcar o arranque das celebrações, pelo seu simbolismo associado às lutas de libertação nos países africanos de língua portuguesa.
“Procedemos à abertura das comemorações num dia simbólico da representação da democracia e da liberdade conquistadas a 25 de Abril de 1974, em Portugal. Uma referência que é partilhada porque também foi impulsionada pelas lutas de libertação nacional nos vários países africanos de língua portuguesa”, afirmou.
O Primeiro-Ministro enalteceu o percurso de Cabo Verde ao longo destes 50 anos e lembrou as várias gerações que sonharam e lutaram pela independência.
“Travámos combates pela democracia, pela liberdade e pela dignidade da pessoa humana. Conseguimos, em 13 de Janeiro de 1991, erigir, em Cabo Verde, uma democracia liberal constitucional respeitada no mundo. Tivemos de emigrar por razões difíceis de vida, de sobrevivência. A nossa história tem essa parcela muito importante. Hoje já temos uma vasta diáspora nos vários cantos do mundo, parte integrante da nação cabo-verdiana, que amplifica o território nacional e é um orgulho da nossa existência. Fomos um país muito pobre, passámos fome e morremos de fome. Lutámos contra secas, resistimos e progredimos. Somos hoje um país de rendimento médio e estamos bem posicionados para atingir os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável.”
Para o chefe do Governo, Cabo Verde reúne hoje todas as condições para idealizar o futuro com confiança.
“Este percurso de nação resiliente é motivo para termos orgulho em Cabo Verde, para acreditarmos e reforçarmos a confiança em nós mesmos e no nosso país. O vento e o sol, que simbolizavam estiagens, hoje representam recursos naturais para a produção de energias renováveis e para a redução da nossa dependência de combustíveis fósseis. O mar, que simbolizava partida e saudade, hoje representa turismo e economia azul. A localização, que nos colocava longe do mundo, hoje, com as conectividades, os transportes, as telecomunicações e a internet, coloca-nos perto dos mercados, integra-nos no resto do mundo e cria-nos iguais oportunidades”, sublinhou.
Na mesma linha, o presidente da Câmara Municipal de São Vicente, Augusto Neves, defendeu que este deve ser um momento de reflexão para projectar o futuro do país.
“Devemos, pois, celebrar esta data como país adulto, olhando para o passado para aprender com os erros e os sucessos, e não para nos vangloriarmos dos grandes feitos, esquecendo soberbamente as mazelas e os maus momentos que também fazem parte da nossa história; enfrentando o presente para resolver os problemas que afectam a nossa vida em sociedade. Todas as gerações têm direito a uma vida digna. Vamos perspectivar o futuro com realismo, conscientes das nossas limitações, mas com ousadia, porque só os que desafiam as vicissitudes e os seus próprios limites conseguem realizar grandes feitos. O que conseguirmos definir como um querer comum terá, na tenacidade e na determinação da nossa gente, no país e na emigração, o nosso primeiro suporte. Que cada vez mais, a independência, a liberdade e a democracia signifiquem inclusão e bem-estar para todos os cabo-verdianos”, referiu.
O embaixador de Portugal em Cabo Verde, João Luís Neves Queirós, que marcou presença no evento, destacou o impacto decisivo do 25 de Abril nas antigas colónias africanas, ao abrir caminho para o reconhecimento da sua independência.
“E se os portugueses conquistaram, nesse dia, a liberdade, os povos africanos viram então reconhecida, também por Lisboa, a autodeterminação que já tinham conquistado pela sua própria luta. Pois o que é a autodeterminação senão a conjugação dessas duas palavras maiores — liberdade e dignidade? Nesse dia, que infelizmente foi impedido de testemunhar com vida, Amílcar Cabral viu ser-lhe dada razão quando afirmava que a luta dos portugueses e dos africanos era a mesma e o seu objetivo comum. Claro que, cá e lá, nem tudo se conquistou num só dia, mas hoje, meio século depois, Portugal e Cabo Verde, duas nações soberanas e iguais, partilham os valores da liberdade, da dignidade de todos os homens e mulheres, do Estado de Direito, da democracia e da igualdade de direitos”, disse.
João Queirós reafirmou o compromisso de Portugal com o reforço da “parceria leal” e empenhada entre os dois países e as suas instituições.
O Centro Nacional de Arte e Artesanato recebeu a sessão protocolar de abertura das comemorações dos 50 anos da independência de Cabo Verde, com a presença do Primeiro‑Ministro, do embaixador de Portugal e do presidente da Câmara Municipal, entre outras personalidades.
O dia de ontem ficou marcado ainda com o concerto comemorativo com Rodji, Kings e Riza Sanches , na Rua de Lisboa. O fogo‑de‑artifício antecedeu a actuação de Gil Semedo.
O programa prosseguirá hoje , sábado: às 16h00, na Praça D. Luís, com a Associação Kolá Sanjon; às 18h00, no Parque Nhô Roque, com Avelino Chantre e uma demonstração de dança tradicional e contemporânea; às 20h00, com um desfile de moda de época (aos nossos dias) na rua pedonal.
A partir das 21h30, regresso à Rua de Lisboa, para uma festa com sons e cores carnavalescos.