O evento foi o mote para uma breve conversa com o ministro da tutela, o médico Arlindo do Rosário, sobre o Fórum e algumas questões que aí serão directa ou indirectamente debatidas. Tanto a nível dos ganhos já conseguidos como dos desafios que se impõem ao sector, salienta-se a questão da intersectorialidade e da cidadania na saúde. Estes são, refere, aspectos fundamentais para o sucesso das políticas de saúde, nomeadamente em termos da segurança sanitária, uma das suas frentes prioritárias. Entretanto as evacuações médicas, um dos temas do Fórum, estão a ser “equacionadas todas as soluções”, garante o ministro.
Ao longo dos últimos 42 anos Cabo Verde tem conseguido uma evolução bastante positiva nos indicadores de saúde. A esperança de vida aumentou, a taxa de mortalidade materna apresenta valores satisfatoriamente baixos e a mortalidade infantil tem vindo a reduzir-se consideravelmente. A par disso, o programa Nacional de Vacinação é encarado como uma referência regional. São ganhos e motivos de orgulho.
Cabo Verde “é um país que apresenta indicadores de saúde, de uma forma geral, próximos de países com capacidade de investimento e de recursos de longe superiores aos nossos”, congratula-se o ministro.
Além disso, o país é hoje reconhecido a nível dos ganhos do sector, pela atenção que este tem merecido dos sucessivos governos.
O Fórum Nacional de Saúde e da Segurança Social serve pois para fazer um ponto da situação sobre os ganhos na saúde, ao longo destes 42 anos. Mas serve, principalmente, para “receber contribuições importantes não só de profissionais de saúde a nível nacional mas também dos convidados”, ganhando “um novo fôlego” para os desafios que se colocam no sector.
E este, pela natureza insular e arquipelágica do país, seus parcos recursos e diminuição da ajuda externa após a qualificação a país de rendimento médio, não são poucos.
Aliás, um dos temas que no fórum deverá ser discutido são novas fontes de financiamento para o sector. Um outro tema é a criação de um quadro legal claro que estabeleça a relação Público-Privado. Outro ainda são as evacuações.
Evacuações: “Estamos a equacionar as soluções”
Questionado sobre a ausência de um sistema de evacuação eficiente, passadas mais de quatro décadas, o ministro relembra: “Cabo Verde já resolveu muita coisa...”
Contudo, embora reconheça o problema da ausência de transportes, sublinha não querer “que a questão seja vista apenas de um ângulo”.
“Teremos oportunidade de discutir aqui todo um programa de emergência pre-hospitalar e emergência hospitalar, que envolverá não só a questão do transporte marítimo e transporte aéreo, mas também inter-ilha”.
Quanto à aquisição de um avião preparado para emergências médicas, conforme recentemente reiterado pelo Primeiro-ministro, Arlindo do Rosário apenas refere que estão a ser equacionadas soluções, não negando (nem confirmando) a possibilidade de compra de helicópteros.
“Estamos a equacionar todas as possibilidades. O que é certo é que seja qual for a solução, é uma solução que integra todas as ilhas e que tem em equação as ilhas onde não há aeroporto, ou aeródromo. Tudo isso está sendo equacionado”, diz.
Um sistema hierarquizado
Problemas de transporte à parte… A visão que se quer estabelecer em Cabo Verde, avança, é a de um “sistema hierarquizado, quer em termos de cuidados hospitalares, quer de cuidados primários”.
Isto porque, como refere, “não vamos conseguir pôr hospitais em todas as ilhas, nem resultaria em termos de eficiência”. Assim, há que hierarquizar, o que no seu entender permitirá o atendimento, o mais rápido possível, em situações que assim o exigem”.
Isso demanda um trabalho, “que está sendo feito”, a nível dos hospitais centrais, e que também será levado a cabo nos centros de saúde e hospitais regionais.
De acordo com o ministro da Saúde, quando a sua equipa entrou em funções encontrou os hospitais centrais numa situação “quase de insustentabilidade financeira, com dívidas enormes”.
Houve então, nas suas palavras, “um trabalho árduo que tem sido realizado pelas administrações, de saneamento financeiro”, sendo que neste momento “já chegamos a um ponto em que é possível avançar para outros níveis”.
Assim, sob o horizonte próximo está a melhoria do nível do atendimento das urgências, dos exames de diagnóstico, entre outros. A segurança sanitária e o reforço da capacidade de resposta nos hospitais centrais e a nível regional surgem como prioridade. “A vontade existe, as estratégias existem, vamos com os recursos possíveis trabalhar para melhorar a segurança sanitária”, aponta.
Aliás, um outro tema a ser debatido é a “segurança sanitária e o turismo”. Neste desiderato, refere o ministro, Cabo Verde também já alcançou um certo nível de eficiência. Não obstante, há que continuar a trabalhar as várias vertentes da segurança sanitária, nomeadamente o controlo das doenças de transmissão vectorial, que são uma questão “muito sensível para o turismo”, reconhece.
Além do Fórum propriamente dito, que decorre nos dias 14 e 15 sob o lema ““Eficiência e equidade para a cobertura universal em saúde”, decorrem desde o inicio da semana várias actividades, nomeadamente o Congresso Nacional sobre o Cancro e o III Congresso da Organização Africana de Pesquisa e Treinamento em Cancro (AORTIC), que arrancaram ontem e terminam hoje.
O fórum conta com o patrocínio OMS, escritório conjunto FNUAP/UNICEF, INSP, Garantia, Emprofac, Tecnicil Indústria e CV Telecom.
Vacina contra a Febre Amarela entra no Programa de Vacinação
A vacina contra a Febre Amarela vai entrar no Programa de Vacinação de Cabo Verde, ainda este mês. A garantia é dada pelo ministro da Saúde que avança já a data do lançamento: 21 de Junho.
Além da vacina de Febre Amarela, que já vai então entrar no programa, também está prevista a introdução da Vacina contra o Virus do Papiloma humano.
Cabo Verde vai acolher o II Fórum Africano de Saúde
Cabo Verde vai ser anfitrião da segunda edição do Fórum Africano de Saúde, que acontece em 2019. O evento vai reunir todos os países africanos, em debate sobre o sector.
Para o ministro da Saúde, Arlindo do Rosário, a escolha de Cabo Verde para a realização desse fórum mostra como o país é “muito bem visto entre os seus parceiros, a nível regional e mundial” e a importância que conferem ao “trabalho árduo que tem sido realizado não só no sector da saúde, mas em termos da intersectorialidade.”
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 863 de 13 de Junho de 2018.