Quem não conhece o Mindelo, não conhece Cabo Verde. Não somos nós que o dizemos, mas garantimos que é a mais pura das verdades.
Vá lá, seja sincero connosco: quando alguém lhe diz "São Vicente", qual é a primeira coisa que lhe vem à cabeça? (ou a segunda, depois do "ninguém-sabe-ao-certo-o-que-é-que-é-isso-de-cluster-do-mar") Festa? Aliás, paródia? Está certo! Nesta ilha qualquer motivo é bom para celebrar. E se, por mera casualidade, não há nenhuma razão aparente, inventa-se.
Faz-se, por exemplo, Março em Agosto e enche-se as ruas da morada com um carnaval de verão. Não se deixe enganar: para o mindelense típico a vida é mesmo uma festa. E não há mal nenhum em preferir encarar os dias (às vezes difíceis) com um sorriso na cara. Agora, se acha que São Vicente é só isto, anda mesmo muito distraído.
Comecemos pela história – não desista, é só um parágrafo. Das nove ilhas povoadas, a do Monte Cara foi a última a receber gente. A cidade do Mindelo, propriamente dita, foi mandada construir já no século XIX. Aqui se instalaram algumas das principais companhias de carvão mineral da altura. A movimentação de pessoas de diferentes nacionalidades deu-lhe um toque cosmopolita, que ainda hoje se sente.
As ruas do centro histórico estão cheias de gente de diferentes origens. Nacionais, imigrantes e turistas (desde velhotes de bengala, a formosas europeias, com um escaldão de louvar a Deus: "you need to use sun protector, baby")
São Vicente combina o melhor de todo o país e é por isso o destino ideal para quem procura mais do que sol e mar. Quer praia? Tem. Quer caminhar? Pode. Quer cometer excessos e arrepender-se no dia seguinte? Também pode, mas não deve (desconfiamos que o seu fígado não vai gostar nada da brincadeira). Quer umas aulas de história e uma experiência urbana? Possível.
Praias. Assim à primeira vista tem quatro hipóteses óbvias. Laginha, na cidade; Praia Grande, no Calhau, a vinte minutos; Baía da Gatas, a quinze; e São Pedro, a dez. Se sente que há em si um Indiana Jones de Ribeira Bote ou um James Bond 'di' Lém Ferreira, então pode ousar ir até Palha Carga ou Flamingo (atenção que aqui, dada a proximidade com a lixeira, e depois das chuvas, as moscas podem ser um problema).
Se o que lhe apetece é gastar a sola dos sapatos, experimente meter-se a caminho até ao vulcão de Viana (está extinto, ok?), onde é possível descer até à cratera. Se o vulcão não lhe basta, siga em direcção a Santa Luzia de Terra e faça um piquenique numa das sombras que o local oferece. As duas opções partem da estrada para o Calhau.
Mas se o que quer mesmo é uma cidade como Cabo Verde não tem igual, deixe-se ficar pelo Mindelo. Se é sua primeira vez em São Vicente (como é que conseguiu chegar a essa idade sem conhecer o Mindelo?), saiba que a cidade se vê em poucas horas, mas só se conhece ao fim de alguns meses. Portanto, das duas uma, ou veio para ficar, e então não vale a pena ter pressa, ou esqueça os planos para as férias dos próximos cinco anos: vai querer voltar uma e outra vez.
O Mindelo em 90 minutos
O Mindelo é uma cidade pequena, mas ainda assim com muito para ver. Ponha qualquer coisa confortável nos pés, não queremos choradinhos.
Começamos pela Praça Dom Luís. Entre logo na Casa Café Mindelo, um daqueles sítios que vem em todos os guias turísticos. Pode sentar-se e consumir, mas também pode só entrar, olhar e voltar a sair. Se alguém lhe perguntar alguma coisa, assobie ou finja que só fala estrangeiro.
Subindo a rua, chegamos aos Paços do Concelho. Imaginando que não quer comprar um terreno, podemos virar à direita e dar de caras com a igreja. Escolha uma das ruas e desça em direcção à Praça Estrela.
A Praça Estrela é um sítio óptimo para comprar roupa e sapatos contrafeitos, electrónica barata e artesanato da costa ocidental africana (como se fosse de Cabo Verde). Mais, se por esta altura já sente como que um rato no estômago, das duas, uma: está com lombrigas ou cheio de fome. Pode então optar por comer uma cachupa guisada num dos bares da praça, ou entrar no pelourinho e comprar frutas e legumes.
Seguindo caminho, viramo-nos para o mar. O objectivo é chegar à Rua de Praia. Ignore o cheiro, que às vezes não é o melhor, e concentre-se no movimento: pescadores, vendedoras, clientes e desocupados. Repare em quem já bebeu demasiado grogue e se quiser experimentar – por sua conta e risco – entre no Botequim Boca de Tubarão.
Se, como nós, optou por um estilo de vida saudável, troque a bebida pelo peixe. Entre no mercado, observe com atenção os tipos de peixe e a suas cores. Atente também às suas calças, para ter a certeza de que não está a limpar o chão com elas.
Continuamos pela Rua de Praia, passamos novamente pela praça Dom Luís e avançamos mais trinta metros. Eis o Centro Cultural do Mindelo, antiga alfândega, e a Biblioteca Municipal. Vire à direita.
Estamos na Rua de Lisboa. Há alguns anos, ao subir em direcção ao Palácio do Povo (em frente, pintado de cor-de-rosa) encontrava uma série de cafés emblemáticos: Portugal, Royal, Katem, Lisboa e Algarve. Desses, restam os três últimos. Havia também lojas tradicionais, que hoje se tornaram tradicionalmente chinesas (duas certezas sobre o Mindelo: quando uma loja fecha, abre sempre um chinês; em Agosto o fiambre acaba nas lojas). É também na rua de Lisboa que fica o Mercado Municipal. O edifício merece uma visita.
Concluída a volta pela artéria mais famosa da cidade, a ideia é perder-se durante um bocado. Encontramo-nos em meia hora na Praça Nova. Aproveite o intervalo que lhe damos para reparar na arquitectura e nas cores das casas antigas. Por favor, tente ignorar as construções 'pós-modernas' e os edifícios em ruínas. Mindelo é património nacional, mas nem sempre as autoridades se lembram disso.
A Praça Nova (na foto) é o grande ponto de encontro da cidade. Sente-se, descanse as pernas e aprecie o movimento. Se, por acaso, é domingo, e a tarde está a chegar ao fim, pode ser que consiga ouvir a banda municipal no coreto (alerta: nem sempre é um exemplo de afinação, mas os músicos dão o seu melhor).
Valeu a pena?
Como ir?
Para quem está em Cabo Verde, o Mindelo tem ligações aéreas diárias, através da TACV, a partir da Praia e do Sal. Uma vez por semana há um voo directo de São Nicolau. Se prefere ou tem que viajar de barco, as ligações marítimas de e para Santo Antão são regulares, várias vezes ao dia. Quanto às outras ilhas, pode ser que tenha sorte.
Onde ficar?
São Vicente tem alojamentos para todos os gostos. A residencial Mindelo é das opções melhor localizadas, com vista para a rua de Lisboa. Além disso, há hotéis, pensões, guest houses e apartamentos para todos os gostos e todas as bolsas. Também é possível dormir fora da cidade, nomeadamente no Lazareto, Baía das Gatas e São Pedro. Os preços começam nos 1500$00.
Onde comer?
Mindelo oferece opções gastronómicas à medida da carteira de cada visitante. Sem grande esforço encontra pequenos bares onde se come bem, gastando até 300$00. Não espere encontrar grande diversidade gastronómica. Os restaurantes arriscam pouco nos menus. Ainda assim, para quem procura novos sabores, sugere-se o Tapas ou o In-Fluências (este com propostas indianas). Para saber mais visite o nosso site
Onde comer?
Mindelo oferece opções gastronómicas à medida da carteira de cada visitante. Sem grande esforço encontra pequenos bares onde se come bem, gastando até 300$00. Não espere encontrar grande diversidade gastronómica. Os restaurantes arriscam pouco nos menus. Ainda assim, para quem procura novos sabores, sugere-se o Tapas ou o In-Fluências (este com propostas indianas). Para saber mais visite o nosso site
Dicas ao viajante
Mindelo tem uma boa rede de transportes públicos – a melhor do país – com autocarros para todas as zonas urbanas. Os táxis são frequentes e baratos (entre 150$00 a 170$00 nos percursos urbanos).
Existe uma boa cobertura de ATM e POS, para movimentos com cartão de débito. É possível fazer levantamentos internacionais (MasterCard, Visa, entre outros), mas é mais difícil efectuar pagamentos com esses cartões.
Mindelo é uma cidade globalmente segura, mas não deixe de ter cuidados básicos (não ande como muito dinheiro, ou com gadgets que chamem a atenção), especialmente à noite. Procure evitar ruas desertas ou mal iluminadas.