Sentonton: mut mej kum bom grog

PorAlexis Cardoso,29 ago 2014 11:36

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Ora bem, para início de conversa, diga-me lá como é que estão essas pernas? Em forma? Ou cheias de preguiça? Não me leve a mal, mas é que o nosso destino desta semana não espera de si menos do que muita vontade de caminhar.

Ora bem, para início de conversa, diga-me lá como é que estão essas pernas? Em forma? Ou cheias de preguiça? Não me leve a mal, mas é que o nosso destino desta semana não espera de si menos do que muita vontade de caminhar.

Um fim-de-semana é coisa pouca para se conhecer Santo Antão. A cada visita, vai descobrir um novo recanto preferido, um outro lugar indescritível, uma paisagem capaz de o deixar sem fôlego. A Natureza foi generosa com a “ilha das montanhas” e, por isso, não é possível ir, sem querer voltar.

 

Em rigor, não é só a experiência natural que cativa. Santo Antão tem nas suas gentes outro recurso valioso. A sua genuinidade, que se revela nos pequenos gestos, tanto como na gradeza de carácter, fazem deste local um ponto de passagem obrigatório. Quer conhecer essa coisa da morabeza? Venha cá.

A proximidade com São Vicente – a menos de uma hora de barco – transforma a ilha montanhosa num destino privilegiado para escapadinhas de fim-de-semana (mas mesmo se está mais longe, acredite que vale a pena). A ilha do Monte Cara e a vizinha mais a norte têm uma relação antiga e a sua história confunde-se, mas faça o favor de não achar que é tudo a mesma coisa. O santantonense tem muito orgulho na sua origem.

Os caminhos vicinais, mesmo quando pouco ou nada cuidados, e ainda menos assinalados, são diariamente percorridos por dezenas de amantes deste tipo de experiência. Que o digam os turistas – cada vez em maior número – que procuram em Santo Antão umas férias diferentes. O turismo de natureza é, entre nós, um nicho em crescimento.

Se lhe apetecer apenas uns dias de sol e mar, esqueça. Claro que também há praias e sol é coisa que não falta, mas a visão é demasiado redutora. Se a ideia é passar a tarde inteira de ‘papo para o ar’, há destinos mais adequados. Santo Antão precisa de tempo e desprendimento. Esqueça o supérfluo e concentre-se no essencial, na relação do homem com a terra. É disso que deve vir à procura: do reencontro com o princípio das coisas, mesmo que o seu história em nada se confunda com o desta ilha imponente.

Acredite quando lhe digo que, a espaços, vai ficar sem fôlego. Vai olhar em frente e dizer “uouuu”. Aí, meu amigo, o melhor é abrir a mochila, tirar discretamente a garrafinha de grogue que lá tem ‘gatchod’ e sossegar o espírito até ao próximo espanto (nada de exageros, pois sabe perfeitamente que aguardente em excesso condena o corpo e não salva a alma).

Em Santo Antão, o truque é admirar o imenso e procurar o detalhe. Percorra as montanhas com um olhar atento e pergunte-se: “mas como é que aquela gente foi ali parar?”. Há casas e povoações nos sítios mais inacreditáveis. Na ilha de Roberto Duarte Silva, mas também de Ize, Menel, Meria , Nhô Antoninha, Polina e Jonzim, a vida ainda é um desafio. Para nós, há-de ser uma lição.

 

 

Um fim-de-semana para tonificar os glúteos


Ponta do Sol, concelho da Ribeira Grande

A ideia é esta: depois deste fim-de-semana, pode cancelar a inscrição no ginásio ou suspender as caminhadas no calçadão. Das duas uma, ou está em forma e nem vai notar o esforço, ou andou a molengar nas últimas semanas e na segunda-feira não vai conseguir carregar nem a sua própria existência.

Chegar a Santo Antão implica uma viagem de barco a partir de São Vicente e até Porto Novo. Se não tem um espírito marinheiro, passe na farmácia e compre Vomidrine. Às vezes, o mar está agitado, mas como não o quero desencorajar, imagine que faz parte da experiência.

Compre bilhete para uma das ligações da tarde. À chegada, repare no porto, recentemente remodelado. O velhinho terminal de passageiros foi substituído por um edifício novo, cheio de vidro, como agora é moda. Nos dias de muito calor, além de sala de espera, funciona também como sauna, mas isso é apenas um detalhe. É moderno, e isso é que conta.

Saindo do terminal, vai encontrar várias Hiaces, com destinos diferentes. Os condutores são bastante pró-activos na prospecção de mercado, mas não ao ponto de um jornalista espanhol se sentir assaltado (piada que exige a leitura prévia de um certo texto da concorrência).

Hoje dormimos em Porto Novo. Se não tem um primo na cidade, procure uma das residenciais que existem, ou o hotel – um dos melhores do país, dentro do género. Depois do ‘check in’, tem três opções: se ainda estiver enjoado da viagem, deitar-se e recuperar; sair e passear pela cidade; procurar um carro e subir até Lajedos.

Todo o Planalto Norte merece atenção (eu avisei que isto não ia lá com um fim-de-semana), mas se conseguir, depois de Lajedos, siga caminho, pelo menos, até Alto Mira. A vista é maravilhosa.

De regresso a Porto Novo, é hora de procurar um sítio para jantar. À dimensão da cidade, a oferta é relativamente vasta. Procure, mesmo a pé, o restaurante que mais lhe agradar. Tenha alguma paciência – já sabe que o serviço nem sempre é o mais rápido – e relaxe.

O segundo dia começa [cedo] com um regresso ao cais, mas para apanhar uma boleia via estrada velha. Hoje é o dia! Desça na Cova, inspire o ar puro e comece a descida pelo Vale do Paul. Se não tem um bom sentido de orientação, contrate um guia (as agências turísticas locais indicam-lhe um, se necessário). Eu espero por si lá em baixo (que não fiz mal a ninguém).

Vai levar algumas horas a fazer o percurso, mas a descer, já se sabe, todos os santos ajudam. Tenha calma, veja onde põe os pés, vá parando para descansar e mantenha-se hidratado. Santo Antão saboreia-se lentamente.

A Cidade das Pombas, sede do município do Paul, e ponto final na caminhada, é um lugar pitoresco, pequeno, à beira-mar. O barulho das ondas acompanha cada passo. É aqui que almoçamos.

O segundo dia terminará na Ribeira Grande – a partir das Pombas encontra transporte durante praticamente todo o dia. É pena que nos falte tempo, uma ida a Chã de Igreja ou Cruzinha são fundamentais.

A manhã de domingo é dedicada a Ponta do Sol. Sede de município, a dez minutos de carro da Ribeira, Ponta do Sol é um lugar pacato. A cidade (Cabo Verde tem muitas cidades, com se percebe) foi construída de tal forma que todos os caminhos vão dar ao mar. Este é também um daqueles lugares que podia ser muito mais do que aquilo que é.

Almoçamos em Ponta do Sol (eu sou convidado, não vale a pena partir a conta) e preparamo-nos para regressar. Primeiro, à Ribeira Grande e daí, de Hiace, até ao Porto Novo. Não nos despedimos. Ainda nos vamos reencontrar por cá.

 

 

 

Como ir?

Para chegar a Santo Antão deve apanhar o barco em São Vicente. Há, em média, quatro viagens por dia, pelo que não é complicado conseguir lugar. No entanto, tome atenção às épocas festivas, onde as passagens costumam esgotar. A Naviera Armas é a empresa há mais tempo na linha e também o operador a mais regular.

 

Onde ficar?

Santo Antão tem uma considerável oferta hoteleira. Guest Houses, residenciais, pensões e um hotel, em Porto Novo. Se procura uma verdadeira experiência no meio na natureza, procure alojamento nas montanhas. O Pedracin Village, em Boca de Coruja (Ribeira Grande) é uma das opções mais populares.

 

Onde comer?

Nas cidades existem diferentes opções de restauração. No interior, a oferta é menor, mas é possível encontrar casas particulares que servem refeições aos viajantes. Acredite que a hora de almoço é uma das melhores alturas para experimentar a generosidade das gentes da ilha.

 

Dicas ao viajante

Se vai para Santo Antão à procura de um contacto directo com a natureza, não se esqueça das coisas básicas: calçado confortável, roupa fresca, água e um pequeno lanche. Se não conhece os trilhos, não se aventure demasiado. Peça ajuda a um guia. Note que nem toda a ilha tem cobertura de rede móvel.

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Autoria:Alexis Cardoso,29 ago 2014 11:36

Editado porRendy Santos  em  29 ago 2014 12:20

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