Mindelo prepara-se para o Carnaval

​A menos de uma semana da festa do Rei Momo, grupos oficiais ultimam preparativos Nas ruas do centro histórico, as bancadas já começaram a ser montadas. Nos estaleiros, não há tempo para descansar. Nos polivalentes, ensaia-se a pensar na Rua de Lisboa. A poucos dias do Carnaval, São Vicente já está em festa.

A Liga Independente dos Grupos Oficiais do Carnaval de São Vicente (LIGOC-SV) garante que tudo está a ser finalizado. O presidente da LIGOC, Marco Bento, explica que neste momento está a ser finalizada toda a logística.

“Estamos neste momento a ultimar a parte do som, que é uma novidade no desfile, com colunas a serem instaladas ao logo do percurso. Acho que estamos praticamente a terminar o que vai ser o desfile e o grande show que vai acontecer nos dias 4 e 5 de Março”, garante.

Este ano, o desfile da terça-feira, 5, conta com o concurso de quatro grupos. Monte Sossego, vice-campeão em título, inaugura o sambódromo, às 15:00 de terça-feira. Seguem-se, com intervalos de 30 minutos,Flores do Mindelo, Estrela do Mar e Cruzeiros do Norte.


Monte Sossego

O Grupo Carnavalesco de Monte Sossego quer reconquistar o título que lhe foge há dois anos consecutivos. Com o enredo “o meu Carnaval é uma novela”, ‘Montsu’ participa pela 20ª vez nos desfiles oficiais. Apresenta-se com três carros alegóricos e um tripé. Esperam-se 1.200 foliões, distribuídos por 12 alas.

O presidente da colectividade, António Duarte, garante que os trabalhos decorrem a bom ritmo, de olhos postos no título.

“Neste momento, os trabalhos estão a decorrer num ritmo bastante satisfatório, numa fase avançada de execução. Os nossos ateliers de costureiras e aderecistas estão a trabalhar a todo o gás. Temos os ensaios a ganharem cada dia mais fôlego e podemos considerar que, de uma forma global, estamos no bom caminho para atingirmos o nosso objectivo, que é voltarmos a ser campeões do Carnaval de São Vicente”, afirma ‘Patcha’

Ao som de “Riola d’cmad”, de Constantino Cardoso, Monte Sossego quer levar para casa o seu 11º título em 35 anos. O actual vice-campeão prepara-se para apresentar um enredo em torno da história das telenovelas brasileiras que marcaram um período em Cabo Verde, desde o final da década de 70.

“O primeiro sector vai falar exclusivamente de novelas épicas, por exemplo ‘Escrava Isaura’ ou ‘Chica da Silva’, que representavam o mundo rural, a relação do negro com o trabalho escravo. O segundo sector vai recordar novelas com maior audiência, que no Brasil são as novelas das 8:00. Um último sector, novelas mais cómicas”, explica António Duarte.

“Todos os grupos estão engajados, muito organizados e moralizados”, considera.


Flores do Mindelo

O Grupo Carnavalesco Flores do Mindelo também desce ao sambódromo min­delense, no próximo dia 5 de Março e quer resgatar o ceptro que lhe escapa há oito anos.

Ivanilda Soares, presidente da assembleia geral, diz-nos que está tudo encaminhado.

“A ambição do Flores do Mindelo é ganhar o Carnaval e estamos há já algum tempo a trabalhar para isso. Há anos que o título tem fugido das nossas mãos e toda a gente sabe que Flores do Mindelo já foi tricampeão”, recorda.

Com o enredo “Um Monte com Cara de Gente e um Monte de Gente de Cara”, uma homenagem aos 140 anos da Cidade do Mindelo, o grupo desfila com três carros alegóricos e 800 foliões, distribuídos por 12 alas.

“Um Monte de Gente de Cara são todas as personalidades artísticas que contribuíram para a cultura de São Vicente, como a Cesária, Biús, Manuel d’Novas e outros. Também vamos falar da preservação das nossas espécies endémicas, nomeadamente tartarugas e cagarras, ao mesmo tempo que falamos da passagem do príncipe Alberto II do Mónaco, que devolveu a Cabo Verde o lagarto que o seu bisavô levou do arquipélago, há muitos anos. Também vamos homenagear os 140 anos da Cidade do Mindelo”, resume Ivanilda.

Ao som de “Um Monte de Gente de Cara”, tema de Vadi Dias, a responsável promete um desfile cheio de cor e animação.


Estrela do Mar

Após sete anos, o Estrela do Mar está de volta ao asfalto e quer chegar ao pódio. O grupo conta desfilar com perto de 600 figurantes, divididos em 10 alas e três andores.

Papi Tavares, vice-presidente da colectividade, afirma que conseguir sair este ano já é uma vitória, mas não esconde que a ambição é chegar ao título.

“O Carnaval mudou. Criar uma estrutura que consegue dinamizar as pessoas e chegar na fase final nos estaleiros, de afinação da música e alegria dos foliões, para mim, já é uma vitória”, diz.

No dia 5, o Estrela do Mar fará o ‘resgate da estrela’, com uma mensagem para um Carnaval mais sustentável, amigo do ambiente, dividido entre passado, presente e futuro.

“Vivemos num mundo turbulento, mas que pelo menos o desfile seja um momento de enviar uma mensagem de paz. Criámos uma secção onde vamos trabalhar com materiais reciclados, para mostrar que é possível fazer um Carnaval através da reciclagem”, explica.

O grupo desfila ao som da música “Gongon”, de Papi Tavares. Fundado em 1974, já venceu o Carnaval por quatro vezes.

Cruzeiros do Norte

O Grupo Carnavalesco Cruzeiros do Norte garante que os preparativos para o Carnaval 2019 estão bem encaminhados, apesar de alguns constrangimentos. A confecção dos andores e os ensaios estão a bom ritmo, revela Maria José, a vice-presidente.

“Estamos a trabalhar para podermos apresentar um grande desfile. As dificuldades que temos encontrado têm a ver com os foliões e costureiras, mas em termos de andores e ensaios, tudo está decorrer normalmente”, afirma.

O grupo de Cruz João Évora desce ao sambódromo ao som de “Sabura sem fronteira”, de João Carlos Silva e Anísio Rodrigues. Com um total de 800 foliões e 12 alas, o Cruzeiros apresenta o enredo “CPLP sem fronteiras ou Lusofonia sem barreiras”.

“Estamos a falar da CPLP [Comunidade de Países de Língua Portuguesa], da língua portuguesa, dos países pertencentes à comunidade, a sua integração na CPLP e a sua relação com a língua portuguesa. Por isso é que é CPLP sem fronteiras”, explica.

O grupo carnavalesco já foi tricampeão do Carnaval mindelense, de 2011 a 2013, mas nos últimos anos não conseguiu ir além do terceiro lugar.


Vindos do Oriente

O Vindos do Oriente tem tudo preparado para o assalto ao Carnaval, agendado para sábado. O bicampeão do Carnaval de Mindelo promete muito brilho, num ano em que abdicou de participar no concurso de terça-feira.

“Queremos uma coisa que ajude no embelezamento do Carnaval. Estamos muito satisfeitos por conseguir dar um brilho ao nosso Carnaval e satisfazer o nosso povo, os nossos foliões, sócios e amigos, em particular. Estamos a fazer todo o esforço para que seja uma coisa bem bonita”, antecipa Lili Freitas, a histórica presidente do grupo.

O desfile acontece à noite, alguns dias antes do concurso oficial, com concentração prevista para as 19 horas, na Praça D. Luís. O número de participantes está a aumentar a cada dia e Lili Freitas quer uma boa prestação.

“Temos alas de dança, comissão de frente, alas com fantasias dentro do tema que estávamos a trazer este ano. Pelo que temos controlado, pensamos desfilar com 800 a 1000 pessoas. Depois, contamos com o povo que nos vai seguir”, explica.

A decisão de desfilar no dia 2 pôs fim à polémica em torno do assalto que o Vindos do Oriente tinha previso para segunda-feira, antes ou depois do desfile da Escola de Samba Tropical. Isto após o bicampeão do Carnaval de São Vicente ter decidido não participar no desfile de 5 de Março, por não concordar com algumas decisões tomadas pela LIGOC.

A música deste ano chama-se “Superstar na Bollywood”, de Anísio Rodrigues e João Carlos Silva.


Samba Tropical

Finalmente, a Escola de Samba Tropical, que quer fazer o seu melhor desfile de sempre. No ano em que comemora o 30º aniversário, o grupo vai apresentar-se no sambódromo mindelense com 18 alas, divididas em dois blocos, com um total de mil foliões.

O presidente do Samba, David Leite, promete aumentar a qualidade.

“É um grupo que já habituou os foliões com uma qualidade acima da média. Manter ou aumentar esta qualidade tem algum trabalho. Este ano, estamos a preparar realmente um desfile que acreditamos que pode ser o maior até ao momento”, garante.

Na noite de 4 de Março, o grupo carnavalesco vai contar a história de Blimundo, figura central de uma lenda que narra as aventuras de um boi gigantesco, inteligente e amante da liberdade, da ilha de Santo Antão.

“Fomos beber na essência da cultura cabo-verdiana. Fomos beber numa fábula que teve como espaço físico a zona de Ribeira da Torre, em Santo Antão”, revela.

A Escola de Samba Tropical desfila no sambódromo mindelense um dia antes do concurso oficial, segunda-feira à noite, ao som do samba-enredo “Pulá Largód”, da autoria da dupla João Carlos Silva e Anísio Rodrigues.

Texto originalmente publicado na edição impressa doexpresso das ilhasnº 900 de 27 de Fevereiro de 2019.

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Autoria:Nuno Andrade Ferreira, Fretson Rocha,1 mar 2019 19:03

Editado porSara Almeida  em  3 mar 2019 3:10

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