Esteiras de condensação dos aviões afetam o clima mais que suas emissões de CO2

PorExpresso das Ilhas,15 jul 2019 6:45

O aquecimento induzido por essas nuvens artificiais poderá ser o triplo em 2050.

Os aviões, com seu ruído, consumo de grandes quantidades de combustível e emissões são uma das criações humanas que mais alteram o meio ambiente. Agora, como nos dá conta o site El País/Brasil, um estudo acrescenta uma outra perturbação: seus rastos no céu. O trabalho destaca que estão tendo um impacto maior no clima que os gases do efeito estufa que saem de suas turbinas. O pior é que, segundo seus cálculos, o aquecimento provocado por essas nuvens artificiais terá triplicado em 2050.

Essas trilhas ou esteiras de condensação, conhecidas na ciência atmosférica como contrails, são formadas após a passagem das aeronaves. Através da complexa interação entre as partículas emitidas pelos motores e o ar, a humidade deste condensa-se, formando essas nuvens. Os aviões normalmente voam a uma altitude, na parte superior da troposfera, onde essa humidade está em forma de cristais de gelo. Na passagem do avião eles agrupam-se à volta das partículas de carbono preto e passam ao estado gasoso. Formam-se assim cirros artificiais que são indistinguíveis dos naturais.

Agora, duas físicas atmosféricas do Centro Aeroespacial Alemão (DLR, na sigla em alemão) estimaram a cobertura dessas esteiras de gelo e seu impacto no clima actual e em 2050. O estudo, publicado na revista Atmospheric Chemistry and Physics, conclui que essas nuvens estão contribuindo mais para as mudanças climáticas no planeta do que os próprios gases do efeito estufa emitidos pelos motores das aeronave e que sua participação no aquecimento global deve triplicar em 2050 em relação a 2006, o ano que é o ponto de partida para o seu estudo.

“A contribuição das contrails para o clima actual é levemente maior do que a de todas as emissões de CO2 acumuladas desde o início da aviação”, afirma a pesquisadora do Instituto de Física Atmosférica do DLR e co-autora do estudo, Lisa Bock, citada pelo El País/Brasil. Para exemplificar a relevância dessas nuvens, Bock lembra que “a aviação contribui com 5% do forçamento radiativo antropogénico”. Ou seja, na diferença entre a quantidade de radiação solar recebida pelo planeta e a que este devolve ao espaço pelas acções humanas, os aviões são responsáveis por esse porcentual. E, entre 40% e 45% do total se deve aos cirros artificiais que se formam em sua passagem.

Bock e sua colega e co-autora Ulrike Burkhardt estimam que o forçamento radiactivo (ou climático) das trilhas de condensação das aeronaves será três vezes maior em 2050. De acordo com seus dados, em 2006 o seu impacto no aquecimento global foi de 49 miliwatts por metro quadrado (mW m2). Em três décadas terá aumentado para 159 mW m2. Esse aumento será muito maior que o impacto do CO2. Embora haja estimativas de que os gases do efeito estufa da aviação possam continuar aumentando, todos os actores, de cientistas a engenheiros, passando pela indústria e os políticos, estão trabalhando para tornar os motores das aeronaves mais eficientes e com menos emissões. Por trás de cada avião, por mais eficiente que seja, ainda haverá esteiras. E, de acordo com dados coletados pela Comissão Europeia, o tráfego aéreo terá triplicado e até septuplicado em 2050.

Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 919 de 10 de Julho de 2019. 

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Autoria:Expresso das Ilhas,15 jul 2019 6:45

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  15 jul 2019 6:45

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