Cremilda Medina – em tempos de preservar o Folclore e Tradição

PorPaulo Lobo Linhares,30 nov 2020 11:05

Os novos formatos da indústria musical são cada vez mais as apostas em “singles”.

Esperemos que sejam estratégias das editoras, apenas para ir preenchendo o vazio deixado pela COVID, ou para aproveitar momentos específicos da sociedade para cantá-los com composições próprias ou de outros compositores, (en)cantando o momento.

Há semanas, numa altura em que os músicos lembravam a todos que são peças fundamentais da nossa cultura e de enorme importância para a nossa economia e turismo Cremilda Medina cantou, com um enorme sentido de pertinência – social e de indústria discográfica – um dos maiores compositores de sempre da nossa música – Manel d’Novas – o nosso contador-que- cantava-estórias, pintava cenários com as suas composições.

Como terá dito, “os meus ouvidos são como radares…ouvem o que se passa de interessante no dia-a-dia e guardo” …. Transformando e que tão bem sabia guardar, em perfeitas crónicas musicadas.

Nesta composição, canta-se o lamento de quem se despede, deixando o pedido a todos que cuidem e guardem a nossa tradição. A tradição reflectida na nossa Morna. Numa altura em que os músicos e a música passam por momentos difíceis, temos todos realmente que, em pranto, gritar que não deixemos morrer o “folklor di nox terá”, seguindo esta lindíssima Morna de Manuel D’Novas, que aqui, uma vez mais, saúdo venerando um dos meus compositores de sempre.

Cremilda Medina, quanto a mim, faz aqui a sua melhor interpretação desde que a conheço. Autêntica, interioriza a mensagem, cantando-a sim, mas nunca se esquecendo que aborda um lamento, um pranto…e assim ela o fez – entre sorrisos e ligeiros gestos que acompanhavam o que ia pedindo/cantando, fê-lo de forma natural, porém intensamente emocionante. Acredito que se Manel D´Novas estivesse connosco, iria gostar de ver a sua morna na voz/mood de Cremilda, suportada pelas indiscritíveis cordas de Palinh Vieira, quanto a mim, o violão da actualidade (podendo aqui acrescentar…ou não…da nova geração).

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Cremilda “kantal k´venerason” … mesmo sabendo que o desafio era de risco: não esquecer que o grande Bana tem uma interpretação intocável deste tema, cantor que por sinal consta ter interpretado a primeira música de Manel d’Novas – “Serpentinha”

Mas a música é isto…caminhos novos e quantos mais melhor…desde que a alma esteja carimbada de alma…e isso Cremilda tem.

Cremilda Medina trouxe-nos o lamento, apelando para a guarda da tradição nesta bela morna – estilo musical que, citando o site da cantora: “… é a rainha dos estilos musicais da música tradicional de Cabo Verde, é a estrela- guia da Cremilda”.

Que o nosso folclore continue a ser passado às gerações vindouras, sendo os músicos as peças preciosas desta pura obra de arte.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 991 de 25 de Novembro de 2020. 

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Autoria:Paulo Lobo Linhares,30 nov 2020 11:05

Editado porAndre Amaral  em  1 dez 2020 9:52

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