Éden Park renasce como centro de cultura e lazer

PorAndré Amaral,9 jan 2014 15:03

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Depois de décadas encerrado, o Éden Park, em São Vicente vai finalmente entrar em obras de reconstrução. Carlos Hamelberg, arquitecto responsável pelo projecto arquitectónico falou com o Expresso das Ilhas e garante que este vai manter toda a traça original com o novo edifício “nascido na parte posterior, desabrochando como uma flor do Éden, buscando na expressão carnavalesca a sua temática estética”.

Como vai ser o futuro Éden Park?

O futuro Éden Park, sendo um tributo ao antigo, não será uma réplica deste. Fazendo-lhe referência explícita, reconstituindo a fachada e o traçado original, estará projectado a partir disso numa estética arquitectónica mais híbrida e conceptualista, de uma linguagem pós-modernista, de alinhamento free-style, representando o novo em contraponto ao existente. Só assim acredito que relevara o antigo, afirmando sua memória e sua história. Servirei de linguagem poética, explorando a metáfora da linguagem, onde a expressão poética, traz o jeito meio carioca de ser, o “saocente eh um brasilinho”, e tantas outras referências denominais que fazem realçar esse espirito, com forte sentido de humor, de alegria, de teatralidade, de ritmo, traduzindo o mundo do fantástico de sonho e criatividade no deslumbramento do carnaval mindelense. Termos o novo edifício, nascido na parte posterior, desabrochando como uma flor do Éden, buscando na expressão carnavalesca a sua temática estética.

O acesso a essa extensão do antigo Éden, dar-se-á pela parte posterior, ou seja o acesso de actividades de cariz cultural mais popular, onde existira a galeria sobre a expo do Carnaval, no foyer de entrada para o Café-concerto, restaurante panorâmico e uma unidade de fabricação de cerveja tipo comercial, com a transparência do processo de fabrico e que apoiara o referido espaço. No último andar, teremos um restaurante a la carte com varanda panorâmica sobre a vista da baía e do monte cara. 

A parte mais sensível de intervenção, será no edifício existente, em estilo Art Deco, onde teremos o auditório com todas as condições acústicas para espectáculos musicais, cinema e congressos. Será um espaço multiuso, equipado com as exigências funcionais que a modernidade impõe.

O acesso, que se quer de certa relevância histórica, terá uma faixa pedonal tipo "Passeio da fama", onde no piso serão registados nomes das grandes figuras da cultura cabo-verdiana. Assim, teremos de recriar espaços contíguos ao edifício, sem beliscar a sua estética, onde as alas temáticas desembocarão em 04 galerias (expo/café):de músicos, poetas, artistas plásticos e de teatro. No foyer que marcara a ante camara do auditório, terá imagens de reminiscência da época gloriosa de Mindelo, a época da revolução industrial, do porto grande, da arquitectura de ferro, do cosmopolitismo da época...e a morna do Bana, trazendo o saudosismo de "Vicente um vez era sabe."

Todos os acrescentos serão em aço/vidro, desde o foyer, galerias e lojas, fast-food que emoldurarão o átrio central de acesso ao Éden Park.

Para o promotor, essa miscelânea comercial/cultural, promovera ao turismo cultural e promovera o ex-libris que terá a característica de dinamizar e acolher o lazer, eventos e animação da vida mindelense nesse espaço emblemático da cidade.

Em termos da sua visualização como um todo, esse contraste do novo e antigo, será harmonizado tipologicamente através da figura / fundo, como se de uma tela se tratasse, pintando o espaço com linhas que se quer fluidas, livres e de concordâncias geométricas, que tem caracterizado o meu traço como arquitecto. São linhas quase eróticas, inspiradas nas nossas paisagens e na beleza das nossas criolas, como diria Oscar Niemeyer.

As cidades cosmopolitas, de que Mindelo mau grado a sua pequena dimensão, é apanágio, conseguem ter elementos arquitectónicos dialogantes no tempo e no espaço. Quem olhará para o complexo edificado, não verá a sua memória colectiva, urbana e cultural sonegada, mas o seu adentrar implicará uma viagem no tempo, com todos os elementos retrospectivos da vida sociocultural mindelense e todos os elementos contemporâneos, senão mesmo prospectivos e futurísticos que está no ADN da cidade.

Que alterações estão previstas?

Para já, o próprio restauro e a própria restauração, sendo fora de cogitação consolidar aqui ruínas, são alterações previstas e fazê-las no estrito respeito à arquitectura da época e à lógica urbanística da centralidade que é a Praça Nova. A par disso, o espaço será potenciado e optimizado com recuados de modernidade, numa profusão de materiais como vidro, ferro, acrílico, mármores e outros elementos, a compor a dialogia do complexo. As alterações, se aceites pelos cidadãos locais e aprovadas pela Câmara Municipal de São Vicente, irão no sentido de se recuperar o "Éden Park passado" e ganhar, numa utilização inteligente e sustentável do espaço, o "Éden Park futuro".

O espaço vai manter as suas características e finalidades originais ou haverá uma alteração?

A arquitectura é em certa medida a alteração do espaço, o que não signficaria a sua negação ou mesmo a sua alienação. As finalidades originais incidiam no cinema, no sentido de sala de cinema, em estrito sendo. A nossa visão é agregar valências, incorporando as finalidades originais. Antes de mais, temos uma reinterpretação semântica do cinema, à luz da antropologia cultural mindelense. Nesse sentido, o novo Éden Park incorporará a ideia de que "Soncent é um Cinema", alargando as conotações ao modo de ser e de estar dos mindelenses, porquanto o Carnaval Mindelense é "um Cinema", o Baía das Gatas é "um Cinema", a história do Porto Grande é "um Cinema", o Movimento Claridoso é "um Cinema", o Mindelact é "um Cinema" e a eventual Candidatura da Morna a Património Imaterial, algo de dimensão nacional, a partir do Mindelo, ela é "um Cinema". O projecto inclusive terá carácter de museologia dinâmica e moderna, com "hall of fame" dos Grandes do Mindelo e apliques tecnológicos para reafirmar, em tributo, a narrativa histórico-cultural da Ilha de São Vicente.

Para quando o inicio dos trabalhos?

Estarmos a pensar e a idealizar tudo isso significa que os trabalhos já começaram. A arquitectura, na sua componente material e imaterial, já é trabalho. A seguir teremos o envolvimento comunitário e social, já que o arquitecto não vai deixar de ouvir, considerar e dialogar com os diferentes olhares dos cidadãos sobre um espaço que já foi e pretende ser mais ainda o ex-libris da cidade. Nesse particular, o olhar dos artistas, criadores e estudiosos, bem como de outros colegas da arquitectura, não são despiciendos.

Os mindelenses há muito que esperam pela recuperação de um espaço histórico para a cidade. O que podem esperar com o novo projecto?

Devem esperar a realização do sonho de ver o Éden Park reabrir as portas com toda a áurea de outrora e com toda a inovação cultural, estética, arquitectónica e urbanística que o novo projecto propõe. Será um património, pelo antigo e pelo moderno, de São Vicente. Com sala de cinema, teatro, sala a homenagear o teatro, o carnaval e o Porto Grande, espaços comerciais e de entretenimento, bem como de serviços. Será um multiplex de grande qualidade, sem desmerecer o templo cultural que aí está e que terá de ser maximizado.

Que parte do actual edifício vai ser preservada?

A fachada e o pórtico são um must. São valências adquiridas e mexem com as susceptibilidades e as idiossincrasias dos mindelenses. Estarão garantidos. A realização deste projecto vai ao encontro do querer profundo dos mindelenses, em suas mais complexas dimensões (popular e erudita, tradicional e moderna).

Que vertente cultural vai ter o novo projecto?

A cultura é o que salta à vista e está no âmago deste projecto, inclusive considerar as visões e as tensões em torno do mesmo que, criando um frisson de Cinema Paradiso, em sentido filosófico e estético, nos interpelam a ousar mais e a dar respostas culturais mais consistentes. Sem ferir a sustentabilidade do projecto, já que tem motivações de empreendimento privado, todo o potencial cultural, aliás já referidos acima, serão remetidos para a edificação proposta. E em havendo mais sugestões que façam-no saber ao arquitecto, pois estarei entre Praia/Mindelo, Lisboa, Luanda e Londres, com uma equipa multidisciplinar e competente a captar inputs.

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Autoria:André Amaral,9 jan 2014 15:03

Editado porSara Almeida  em  11 jan 2014 10:27

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