DEKA SAIMOR, a menina prodígio do teatro

PorChissana Magalhães,4 fev 2018 11:46

Deka Saimor em destaque
Deka Saimor em destaqueDiogo Bento

​Com apenas 19 anos e meia dúzia de peças no currículo, Denise Saimor, aliás Deka Saimor, afirma-se como um talento em ascensão no teatro nacional.

De quem sabe das artes cénicas e a vê trabalhar de perto recebe grandes elogios e prognósticos quanto ao futuro: “Irá voar bem alto no mundo das artes performáticas”, diz João Branco. Quem vê Deka Saimor em palco dificilmente fica indiferente ao seu carisma e à autenticidade que emana das suas interpretações. Nós vimos. Por duas vezes, em 2015.

No ano da sua estreia no Mindelact, Deka bisou. Com os colegas do 15º Curso de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo emocionou e incomodou na peça “Morabesta”, uma criação colectiva encenada por João Branco. Depois, sob a orientação de Lamberto Carrozzi, roubou a cena em “Inocência”.

No drama de denúncia encenado por Branco, eram muitos em palco em simultâneo, várias as histórias em sequência. Contudo, Deka conseguia fazer-se notar e as suas entradas prendiam a atenção da plateia.

Tendo assistido o ensaio geral da peça antes da estreia, tomamos as nossas notas e nelas registamos a intensidade que a jovem actriz punha na sua interpretação e o à-vontade com que mudava o registo quando à sua personagem era exigido que transitasse de um estado emocional a outro. Registamos ainda que, ao transitar do ensaio para a encenação em palco, Deka não perdia vigor. Diferente de alguns dos seus colegas de cena, ela conseguia manter-se alheia à plateia, mergulhada na situação que interpretava.

Já em “Inocência”, o elenco era mais enxuto e a história uma tragicomédia sobre as dores de crescimento de um grupo de adolescentes interpretados, para além de Saimor, por Cristian Andrade, Yara Azevedo e Nuno Lima. Uma vez mais era perceptível o talento e o carisma da jovem actriz, com uma facilidade de transmutar-se e de exteriorizar emoções surpreendentes em alguém com tão pouca experiência interpretativa.

Precoce, a adolescente não só impressiona ao actuar como demonstra capacidade de reflectir com alguma profundidade sobre o seu fazer: “No dia em que eu preferir um género teatral penso que deixarei de fazer teatro, porque seria procurar uma zona de conforto, o que considero a pior coisa para um actor”, afirmou em certa ocasião.

A estreia de Saimor em palco, propriamente dita, aconteceu em 2014, com a peça “Em defesa das causas perdidas”. Uma adaptação do encenador brasileiro Márcio Meirelles, no âmbito do projecto KCena – um intercâmbio de encenadores de Brasil, Portugal e Cabo Verde, que contemplava uma vertente formativa.

Deka, que já antes tentara, sem sucesso, chamar a atenção de João Branco para o seu interesse em fazer teatro, arriscou ir ao casting e logo à primeira ficou seleccionada. Tinha na altura 14 anos e tornou-se na pessoa mais jovem de sempre a ser seleccionada num casting do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo. Viria a participar por mais duas vezes no projecto internacional KCena.

Integrante do Grupo 50 Pessoa e da TPM – Trupe Pará Moss, a actriz conta-nos que a paixão pelo teatro, começou pela vontade de interpretar. Em criança a publicidade na televisão já prendia a sua atenção mais do que os desenhos animados. Aos 13 anos, tinha uma peça de teatro favorita: Hermanoteu na Terra de Godah (da Companhia de Comédia Os Melhores do Mundo), vista vezes sem conta e que interpretava sozinha.

O comprometimento e a entrega da jovem actriz ao teatro têm-lhe rendido grandes louvores. João Branco, que acabou por se tornar uma espécie de mentor, não poupa nas palavras elogiosas.

“Um talento nato. Versátil e talentosa, já trabalhou com vários encenadores cabo-verdianos e estrangeiros, (…) tem um futuro grandioso à sua frente. Eu não tenho dúvidas nenhumas que, bem mais cedo do que se imagina, a Deka irá voar bem alto no mundo das artes performáticas”.

Não sabemos se antes de chegar a nós estas palavras já tinham sido endereçadas por Branco directamente à actriz. Mas antes mesmo de lhe falarmos nos elogios ao seu trabalho que encontramos pelo caminho na preparação a esse artigo, Deka já dizia: “Tudo o que criei no teatro aprendi com o João e a Janaína [Alves Branco, encenadora da Cia. TPM]”.

Quanto à chuva de elogios que recebeu na mais recente edição do Mindelact, ao vestir a pele de Julieta na peça “Romeu ma Julieta – Uma Tragédia Crioula”, apenas reconhece que “é “sab” receber elogios”.

Esta adaptação da obra mais popular de William Shakespeare, montada especialmente para o festival de teatro mais internacional do país, resulta de uma co-produção entre o Grupo Caixa Preta de Teatro, do Brasil, e o Festival Mindelact 2017. Para além de actualizar o texto do dramaturgo anglófono esta adaptação também apostou na língua cabo-verdiana para contar a história de amor proibido e das duas famílias desavindas.

“Interpretar Shakespeare é o sonho de qualquer actor. Mas, no início, duvidei um pouco da minha capacidade…Tive medo. Mas, com a ajuda do Fabiano [Muniz, co-encenador da peça] penso que superei”, confessa.

E nesta que foi a sua primeira protagonista, Deka Saimor também deslumbrou.

“Uma actriz com um futuro brilhante”, escreveu Airton Ramos, que se tem dedicado ao elogio às artes cénicas, no texto que dedicou à peça.

João Branco vai mais longe e sentencia: “O trabalho dela em “Romeu ma Julieta Uma Tragédia Crioula” ficará certamente como uma das mais brilhantes interpretações da história do teatro crioulo. Brilhante!”

Estudante de Criminologia e Reinserção Social, Saimor está para já rendida ao teatro e pretende fazer dele parte do seu futuro. Diz que são vários os projectos para 2018. Entre eles, participar numa nova peça e ir estudar teatro no Brasil.


Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 844 de 31 de Janeiro de 2018.

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Autoria:Chissana Magalhães,4 fev 2018 11:46

Editado porChissana Magalhães  em  5 fev 2018 12:02

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