O músico vinha de um compromisso com o país, onde participara no governo como Ministro da Cultura, e regressava ao mundo da música, das composições, da poesia, da escrita e sobretudo da criatividade.
Com ele trazia um trabalho que passou anos a pensar, num longo processo de paixão e entrega. Também de muita pesquisa de um ritmo que sempre o fascinou – o Funaná.
A produção do disco passou por vários locais, vários países, que no momento terão sido os mais indicados para alojar a matéria musical, ainda em bruto. Do Brasil à África do Sul, passando por Txada Matu, cada um destes sítios contribuiu com o pedaço do que podia oferecer, ao novo projecto que se preparava para espreguiçar e dizer olá ao mundo.
Com perícia e sabedoria do autor, foram convidados parceiros para participarem na construção da obra e assim foi seguindo a criação que ia tomando forma.
Para que não faltasse nada, uma vez que o conteúdo assim o exigia, a arte visual, o que reveste e protege o disco, também não foi esquecida: uma embalagem gráfica original, relembrando os vinis de 45 rotações, a imagem criada pela GWL Graphisme e as fotos de Omar Camilo.
A acompanhar a beleza do grafismo, também a força das letras das composições impressas, que ao lermos, nos atiram de imediato para um mundo de sons e imagens sentidas.
Bem, era então apresentado o disco “Funanight” no dia 23 de Março na Praia.
A selecção de músicos escolhidos, que mais tarde passariam a ser conhecidos pelos “Funanights” era de excelência, dando garantias ao autor de um espetáculo seguro.
Assim, tendo sentido que a base musical estava garantida, Mário Lúcio, iniciou o voo do “Funanight”.
O público que, primeiramente, estranhou os ritmos mais acelerados de Mário, por estarem habituados a propostas musicais algo mais calmas, muito pouco tempo depois foi entrando no espectáculo, pela interacção com o músico que quase dizia: acompanhem-me nesta vigem à volta do Funaná. Rapidamente aceitou e nada mais o surpreendeu no leque de propostas que o músico e autor trazia tal como o tema “Nandinha” que cruzava o Funaná e o Heavy Metal, inspirado numa leitura que Mário Lúcio terá feito num “possível querer dos autores da música. Mais… funanás com instrumentações e temáticas que explicavam de onde veio e por onde passou o ritmo e, o agora famoso Cotxi Pó, que era agora apresentado em palcos de maior relevo, quebrando alguns preconceitos de então.
…E o púbico rendeu-se!
A partir dai, a procura do disco foi incansável, as críticas elevavam o disco e o espectáculo aos extremos, e “Funanight” apresentou-se ao resto do país, onde parte dos espectáculos foram apostas das câmaras municipais em espectáculos de rua – para todos os que quisessem estar com Mário Lúcio e os “Funanights”.
Após a vénia a Cabo Verde, o disco correu palcos internacionais de vários países e é agora proposto para prémios nacionais.
Tem um ano, mas ainda há tanto por mostrar…ouvir, cantar, sentir e celebrar entre todos e com todos!
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 852 de 28 de Março de 2018.