Para evocar e prestar homenagem ao poeta, contista e ensaísta que é um dos imortais da sua galeria, a ACL prepara para o dia 18 de Maio na sala de conferências do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) uma celebração que irá contar com conferência proferida pelo Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, e um recital.
A ideia para uma homenagem formal e pública ao homem das letras, que exerceu magistratura judicial como profissão, começou a tomar forma por iniciativa do diplomata Jorge Tolentino, também escritor e actual vice-presidente da ACL.
Evocando a figura de Gabriel Mariano, Tolentino publicou em Abril passado – quando distava exactamente um mês o aniversário do nascimento do escritor - um texto a lembrar a proximidade da data simbólica e sugerindo a homenagem pública.
“Pessoalmente, conheci Gabriel Mariano em 1984, nos “1ºs Encontros de Poesia de Vila Viçosa”, no Alentejo. (…) Recordo-me que, durante esses Encontros, os participantes iam publicando textos no jornal especial que saia diariamente. Nele Gabriel Mariano publicou um poema em crioulo. Propus-me vertê-lo para o português. Ele aceitou a ideia e agradou-lhe o resultado, o qual foi, de facto, publicado também nesse mesmo espaço. Já desse tempo, ficou-me de GM a ideia de uma pessoa vastamente culta, arguta e acutilante nos seus pronunciamentos”, rememora o intelectual sobre aquele que considera ter sido um vulto, um homem profundamente culto, “grande entre os grandes da cultura cabo-verdiana”.
“Vim a reencontrá-lo no Mindelo, em 1986, no Simpósio comemorativo dos 50 anos da “Claridade”. Aliás, nessa ocasião ele lançou a obra “Louvação da Claridade”, com a chancela do Instituto Cabo-Verdiano do Livro”, escreveu.
Ondina Ferreira, num texto de 2014,refere-se a Gabriel Mariano como “incontornável poeta da lírica e da poesia de intervenção social e política do séc. XX destas ilhas” que “merece ser lido, apreciado e estudado”.
Da obra de Gabriel Mariano fazem parte títulos de poesia, como “12 Poemas de Circunstâncias”, “Capitão Ambrósio”, “Ladeira Grande” (antologia), entre outros, e contos, de onde se destaca a muito apreciada colectânea “Vida e Obra de João Cabafume”, que em 1976 foi distinguida com o Prémio de Literatura Africana. O escritor recebeu muitos outros prémios ao longo dos anos.
A sua produção literária, que abrangia as Línguas Portuguesa e Cabo-verdiana, terá sido mais abundante enquanto ensaísta. “A Mestiçagem: seu papel na formação da sociedade cabo-verdiana”, “Do Funco ao Sobrado ou o Mundo que o Mulato Criou”, “Amor e partida na poesia crioula de Eugénio Tavares ou inquietação amorosa”, “Inquietação e serenidade. Aspectos da insularidade na poesia de Cabo Verde”, “Osvaldo Alcântara - O Caçador de heranças ou inquietação social” são alguns dos títulos que deu à estampa ao longo da segunda metade do século XX.
É ainda da sua autoria (letra) a morna “Mudjêr Bonita”, musicada por Jacinto Estrela, para além de algumas peças de teatro.
Filho do poeta João de Deus Mariano e sobrinho do escritor Baltazar Lopes da Silva, José Gabriel Lopes da Silva Mariano nasceu na vila de Ribeira Brava ( São Nicolau), onde passou a infância, tendo anos depois vivido com a família na cidade da Praia e posteriormente em Mindelo para frequentar o liceu. Fez os seus estudos superiores na Faculdade de Direito de Lisboa (Portugal) onde se graduou em Direito e foi juiz, tendo também exercido a profissão em Angola, São Tomé e Príncipe e Moçambique. De regresso a Cabo Verde, na década de 50, foi um dos fundadores (com Jorge Barbosa e outros) do jornal Restauração. Também co-criou o Boletim de Cabo Verde e o Suplemento Cultural, acabando por ser deportado para Moçambique pelo facto do regime colonial considerar o seu activismo cultural uma ameaça.
Faleceu a 18 de Fevereiro de 2002, em Lisboa, aos 74 anos. A sua obra está publicada em França, Angola, Itália, Brasil, Suécia, Algéria e Portugal, sendo falada a possibilidade de reedição de alguns dos títulos em Cabo Verde.