Initium, Superstes ligno, Nebula in monte, Mari aquila, Crastina lux, Hyacinthum horizon, Medium inter, In desertum, Sine nome est stella, Oceanum spiritus, Ostium, Lunam in fluctus, Initium novum. Assim, em latim, preferiu Vasco Martins nomear os treze temas do seu novo trabalho (em tradução aproximada: Começo/ Árvore sobrevivente/ Nevoeiro na montanha/ Águia do mar/ Amanhã luz/ Horizonte azul/ A meio caminho/ No deserto/ É uma estrela sem nome/ O espírito do oceano/ Abertura/ A lua nas ondas/ Um novo começo) e o próprio álbum: Partum Spiralis.
A opção pela língua antiga é explicada por Vasco Martins como uma necessidade poética e filosófica: “Porquê o latim? Por ser a língua mãe de muitas línguas e etimologicamente próxima do crioulo e do português (e de onde derivaram); por ter significado intrínseco, profundo e elegante”.
O artista também revela que a escolha do título (Criando Espirais) como algo característico de todo o ser vivo. “A criação é que é sempre diferente. Do espaço interior para o espaço exterior e viceversa. A espiral é a forma da galáxia Via Láctea, onde o sistema solar reside. E a forma de milhões de elementos da vida”.
Com uma forte ligação ao espiritual, ao cósmico e à natureza, Vasco Martins encontra inspiração para compor os seus temas em “tudo que rodeia um ser humano sensível. Neste caso as ilhas de Cabo Verde (o lado ambiental - soundscapes): árvores, desertos, mar, vento, azul, nuvens, pássaros e outras entidades”.
O sismo que a 12 de Maio de 2017 se fez sentir em São Vicente foi, segundo o músico, a inspiração para a composição do tema ‘Initium’, que abre o álbum. Aliás, terá sido gravado nessa mesma madrugada.
“O tema melódico de 8 compassos (em Si menor) é repetido nos temas ‘Medium inter’ e ‘Initium novum’, mas em versões diferentes”, explica o músico em linguagem compreensível apenas aos conhecedores da pauta musical.
Gravado entre Abril e Maio de 2018 no seu estúdio em Ribeira de Calhau, na zona onde vive e a que denominou Tibete, este disco é inteiramente autoral, com todos os sons produzidos exclusivamente pelo compositor mindelense. Um caminho completamente inverso ao do disco anterior, onde abundavam as participações de instrumentistas, nacionais e estrangeiros e cujos temas apontavam referências ao sanjom, reggae, morna, coladeira, com temáticas orientais e estéticas de world music, new age music e ambient music, com improvisações.
Partum Spiralis é o quarto álbum digital de Martins, que em 2015 lançou Violão, em 2016 Essential Interaction, e no ano passado o já mencionado Mei D’Ilha. Da extensa discografia do compositor, pianista, guitarrista que também domina os sintetizadores, fazem parte Vibrações (1979), Universo da ilha (1986), Quinto Mundo (1989), Quiet Moments (1992), Danças de Câncer (1998), Lunário Perpétuo (2001), 4 Sinfonias (2007), Lua Água Clara (2009) e Viagens no Imaginário da Morna (2016).
Primeiro músico cabo-verdiano a compor sinfonias, Vasco Martins é também autor de uma ópera, Crioulo (2008), e é poeta com várias publicações.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 863 de 13 de Junho de 2018.