Fui procurar mais informação, e infelizmente parece que se confirma, salvo a excepção dos pormenores da informação recolhida, não serem tão exactos como descrevi. Mas, pelos escritos, é certo que passa por sério desconforto e é ajudado pelos dois músicos acima referidos.
À parte de procurar todos os porquês, que vão desde “onde foram os royalties?” ou tudo o que advém directa ou indirectamente do que ganhou e continua a ganhar, é difícil sempre imaginar que um dos nossos heróis pode ser parte de um cenário destes.
Confesso que desde miúdo, oiço João Gilberto, e conforme fui crescendo, à imagem da sua voz e da sua música, de forma muito natural e calma, como se tudo fosse muito fácil, como se tudo se resumisse a um mundo colorido pelo “amor, o sorriso e a flor”… foi-me conquistando, até passar a fazer parte do grupo mais restrito dos meus heróis musicais.
Passou a ser para mim encantador, assim como toda a Bossa Nova, da qual foi um dos pais.
Teve a capacidade de me mostrar um dos exemplos da velha máxima – que muitas vezes na arte e até na vida nos esquecemos: a beleza do simples. As letras de João ou João/Jobim são o puro exemplo desta ideologia…nomes que além do Brasil, foram considerados pela célebre revista “Rolling Stone”, os dois principais nomes do Brasil musical.
Porém, João Gilberto ainda tem mais. Mistura à embaladora “batida sincopada” da Bossa Nova, o seu meigo timbre e a sua maneira tão genial de cantar: no magistral definir de Caetano (não exactamente por estas palavras, mas com esta ideia) – “atira as notas e as palavras para a frente, cada uma a seu tempo, e no final da frase tudo chega ao mesmo tempo”. O tempo certo …
Pois é, meu mestre, acredito, bem como todos os que o veneram, que assim como as notas e a sua maneira de cantar … no fim tudo vai bater certo.
… E então ouviremos tranquilamente a linda voz do jovem que saiu um dia da pequenina cidade de Juazeiro, e que gravou – “Chega de Saudade”, com Jobim, para a divina Elizeth Cardoso – o verdadeiro pontapé de saída da Bossa Nova…onde apareceu a famosa “batida sincopada” do violão-de-João que viria a ser um dos pontos mais fortes da definição musical da Bossa Nova que… conquistou o mundo.
Lembro-me, quando ainda estudava em Portugal, ao sair de casa pela manhã, ter lido o anúncio “João Gilberto no Coliseu do Porto”! Meses antes já tinha o bilhete, mas João cancelou o espectáculo.
Não o vi.
Apesar de ter sido muito doloroso para mim, entendi… afinal os nossos mestres “têm sempre razão”…
Feliz Aniversário, sempre… João Gilberto Pereira Prado de Oliveira!
Ler: Castro, Ruy (1990). Chega de Saudade. A história e as histórias da Bossa Nova. São Paulo: Companhia das Letras.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 863 de 13 de Junho de 2018.