Manel de Candinho, director artístico do festival, Bau e Voginha serão os guitarristas em palco neste concerto especial que conta com o apoio do programa Morna a Património Imaterial da Humanidade. Esta homenagem a Humbertona surge como prelúdio a um evento maior, o Festival Guitarrada do Atlântico, “que se pretende internacional, unindo Cabo Verde ao mundo através da guitarra e dos seus mestres espalhados pelo mundo”.
Idealizado e produzido pela Capital Eventos, o festival que pretende visibilizar os instrumentistas deverá colocar no mesmo palco várias gerações de guitarristas que tanto irão revisitar clássicos da música cabo-verdiana, como as eternizadas por Luís Rendall, Tazinho, Taninho, Armando Tito, Armindo Pires, Katxás, ou criações mais recentes, de nomes como Paulino Vieira, Kim Alves, Kaku Alves, Hernâni Almeida, Palinh Vieira para além de Humbertona e do próprio Manuel de Candinho, Bau e Voginha.
O evento também “pretende ser um palco privilegiado de promoção da Morna a Património Imaterial da Humanidade, esta expressão cultural de dimensão universal, porque a música formata-se e se dimensiona em todos os seus contornos e fundamentos como a língua do mundo, interpretada por todos os povos, porque as suas melodias falam directamente à alma humana, sem fronteiras, sem cor, sem nacionalidade”, observam os promotores da iniciativa.
Depois de Praia, o concerto instrumental desta sexta-feira em homenagem à morna e a Humbertona viajará a outros pontos de Santiago e às cidades de Mindelo e Espargos. Entre este “Morna no Instrumental dos Mestres” e o festival Guitarrada do Atlântico acontece ainda uma master class com um mestre da guitarra Brasileira dirigida aos interessados e amantes desse instrumento.
Humbertona, um dos consultores e membro da comissão de honra da candidatura da morna a Património Imaterial da Humanidade, é reconhecido com um dos nomes maiores da música instrumental cabo-verdiana.
Natural de Santo Antão, cresceu em São Vicente onde, aos 12 anos, iniciou a aprendizagem musical com o Mestre Reis (solfejo, durante 3 meses) e a seguir, com Malaquias Costa (violão), durante um mês e meio, conforme revelou em entrevista ao Expresso das Ilhas. Depois, foi ganhando experiência tocando com amigos, em tocatinas e serenatas.
Apontando Luís Rendall e Lela Preciosa como as suas referências iniciais, Humbertona fundou em 1964, com os irmãos Marques da Silva e Nho Djack Felícia, o conjunto Ritmos Caboverdianos, onde toca guitarra solo. Em 66 deixaria o conjunto para seguir para Bélgica, onde efectuaria os estudos universitários. Mas a música continuou a fazer parte da sua vida e nesse período gravou 7 LP’s a solo e acompanhando vários artistas (Bonga nos seus primeiros dois discos, Luís Morais, entre outros), quase sempre na Holanda.
Foi o caso do álbum “Sodade”, rapsódia de mornas e coladeiras em parceria com o também guitarrista Toi de Bibia, tido como uma obra-prima da música instrumental.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 865 de 27 de Junho de 2018.