Assim, vários foram os seguidores da ideia original de Katchás, fazendo com que aparecessem grupos onde eram notórias características instrumentais comuns.
Aparecia assim uma nova onda musical, onde o instrumental era marcado pelos trabalhos de Paulino Vieira (e seus “seguidores”). Os sintetizadores eram a linha que guiava a sonoridade, à qual também se juntava o uso marcado dos pedais das guitarras, e toda uma série de efeitos de estúdio.
Nos últimos anos estes discos têm sido bastante procurados internacionalmente, muito por “culpa” dos coleccionadores de discos vinil, e pela compilação lançada pela editora Analog Africa – “Space Echo”.
Dentro da referida onda musical, em 1984 foi lançado por António Sanches o álbum “Duli Povo”.
Sanches fazia parte do tal grupo de músicos-emigrantes, responsáveis pela gravação de uma série de álbuns na diáspora (principalmente Holanda e Portugal) e que viriam a marcar a música cabo-verdiana. Foram na sua maioria gravados para labels importantes e incontornáveis para o entendimento dos caminhos da nossa música. Como exemplos: a pioneira Morabeza Records, na Holanda, ou a Monte Cara Discos, entre outras.
“Duli Povo” teve direcção musical de Paulino Vieira, onde os sons espaciais dos sintetizadores típicos das décadas de 80 e parte de 90 suportam uma voz extremamente crua, que rasga pela sua força transportando-nos para um Santiago profundo.
Temas como “Desgraçada” ou “Buli Povo” foram êxitos. Realce absoluto para dois aspectos/momentos sublimes deste disco: o hipnótico-batuko “Pinta Manta” e acima de tudo a completa actualidade deste álbum.
A label Analog Africa uma vez mais esteve atenta às pérolas da música de Cabo Verde e acaba de lançar a reedição do álbum.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 867 de 11 de Julho de 2018.